Cidades

Suinocultura sofre com alto preço do milho

Uma junção de fatores trouxe a suinocultura brasileira à beira de um colapso, como afirma Raulino Teixeira, diretor executivo da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat). Com o milho custando em média R$ 40 a saca – mais que o dobro comparado ao mesmo período do ano passado -, suinocultores buscam saídas para não fechar as portas.

Entre os fatores que contribuíram para a situação está a estiagem e pouca chuva, que significaram quebra de 25% nesta safra. A crise econômica e política também desvalorizou o real, tornando o milho brasileiro extremamente atrativo ao mercado exterior. A exportação abocanhou em torno de 65% da produção brasileira antes mesmo da colheita e deixou pouco milho no país com preço muito elevado.

Itamar Canossa, empresário do setor, afirma que “com o custo de produção tão elevado o negócio se torna inviável, a suinocultura está no vermelho”. O alto preço do grão também afeta outros setores como avicultura, pecuária, piscicultura, que dependem do milho para alimentação dos animais. No caso da suinocultura o milho significa 67% da ração.

O diretor executivo da Acrismat explica que até pouco tempo o custo de produção de um quilo de suíno girava em torno de R$ 2,50, sendo vendido por R$ 3, logo, a cada 100 quilos (peso médio de um suíno) havia lucro de R$ 50. No entanto, hoje a situação se inverteu e em vez de 50 reais de lucro, o criador tem 50 reais de prejuízo em cada animal. O preço de compra do milho hoje está em média R$ 38, mais que o dobro de maio do ano passado, que era R$ 15 por saca.

Os produtores buscam apoio do governo federal para a questão, já que é unanimidade no setor a necessidade de uma política agrícola que contemple o mercado interno. “Com certeza falta uma política agrícola definida para o País, que inclua o estoque de passagem, que é uma questão de segurança”, declara Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja.

O estoque de passagem serviria como uma salvaguarda aos suinocultores. Raulino explica que o Governo teria que garantir certa quantidade de milho para que não faltasse o grão para as cadeias produtivas, como está acontecendo agora.

Para Raulino, “estes mecanismos devem ser criados pelo governo federal juntamente com o governo estadual, olhando o que essas cadeias trazem de divisa para o estado. Tem que criar um estoque ou subsidiar o produtor para que tenha condições de comprar um pouco mais de milho agora, para sustentar a cadeia produtiva até a safrinha”. Outra opção seria o subsídio, um incentivo do governo para que os produtores garantissem um estoque de milho até a próxima safra, em julho do próximo ano.

Waldemir Ottoneli, 2º diretor secretário da Acrismat, acredita que em pouco tempo esse custo será repassado para o consumidor: “Falta uma política nacional para ter um contraponto, porque o Brasil tem uma cadeia produtiva na área de animais muito grande e o governo deixa tudo na mão dos produtores. Daqui a pouco o consumidor passa a ter que participar dessa história, porque vai ter que repassar, senão, haverá paralisação da produção. Não há capacidade financeira de manter o empreendimento se não houver repasse do custo do produto. Imagino que nessa semana já comece a ter valorização do preço”.

Um fator paralelo que pode afetar, ainda que minimamente, a alta do preço é a prática de retenção da colheita, para aumentar a procura pelo produto e, logo, seu valor de mercado. “Vai existir, lógico alguma coisa nesse sentido, vai ter gente segurando para vender mais caro, mas a grande maioria vendeu meses atrás antecipado. Se sobrar milho para especulação não será muita coisa”, indicou Itamar Canossa.

As consequências da alta do milho acontecem em efeito dominó e recairão sobre toda a cadeia produtiva, até chegar ao consumidor, como afirmou Waldemir. “Afeta diretamente a cadeia como um todo. Ela é composta por diversos elos, a suinocultura, avicultura, bovinocultura que compra o milho na colheita, ‘da mão pra boca’ como a gente fala, de acordo com a necessidade que ela vai trabalhar. Pela alta desse preço vai afetar e será problemático”, acrescentou Nery Ribas.

“Isso vai trazer falta de geração de empregos, falta de divisa, falta de exportações, aí você conhece, cai a balança, cai tudo. Então basicamente nós temos dois problemas graves: de abastecimento de milho, em âmbito nacional e temos um problema de mercado, em função da crise que nós estamos passando. Isso é um estudo que nós fizemos, porque achamos que quem está pagando a conta da crise é a suinocultura. A avicultura e a pecuária ainda estão vendendo acima do custo de produção”, avalia Raulino.

Bruna Gomes

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