Resolvi caminhar para aliviar a tensão dos meus pensamentos. O dia estava lindo, mas não pensava em sair. Havia algo errado no reino dos céus. O que mais um homem poderia querer?
Nunca fui religioso, mas rezei. Está certo, mentia que ia à missa para poder jogar bola, mas sempre acreditei que Deus está em todo lugar, que Cristo pode ser aquele mendigo da esquina, se existe uma Pedra, Ele está lá. Por isso rezei.
Gostaria de entender os sinais. Pedia impetuosamente uma dádiva. Escutei um som. A passos lentos, fui em direção a ela. Sem querer, guiado por forças ocultas, sem entender. De repente, recupero minha consciência.
Me encontrava diante da visão mais iluminada da minha vida. Sentando num templo suntuoso, ninguém acreditaria no que meus olhos viam.
Ao meu lado, fiéis fervorosos ajoelhados às lágrimas, agradecendo aos deuses, quase que numa crise de euforia coletiva. No centro, descobri que alguns anjos não têm asas, e num balé exuberante voam perante nossos olhos.
Mais na extremidade do enorme templo, percebi que certos santos ainda vivem e operam milagres, com a mesma facilidade que Jesus multiplicou os pães.
Entendi que a fé desperta cânticos dignos de uma ópera de Vivaldi.
Os Bispos, caprichosamente vestidos de negro, que ministram esta sinfonia, são idolatrados e odiados num esplendoroso e simples segundo.
Era uma tarde quente, um domingo como mais um domingo. Era. Mas não foi.
Depois desse milésimo gol, entendi porque me chamavam de Rei, em pleno Maracanã.