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‘Sou incansável’, diz tenente que comanda Operação Lei Seca

Admiração, respeito, raiva, medo. O tenente da Polícia Militar Styvenson Valentim, responsável desde o início do ano por coordenar a Operação Lei Seca em Natal, desperta os mais variados sentimentos na população. Apontado como 'linha dura', o tenente prefere ser chamado de 'incansável'. Rígido na aplicação da leis de trânsito, o oficial se tornou um personagem presente nas rodas de conversas entre as pessoas que temem ser paradas nas barreiras de fiscalização. Embora ele conte com o apoio do Departamento Estadual de Trânsito e da Polícia Civil, é ele o centro das atenções.

Brasília se espalhou pelos grupos de WhatsApp

Na última semana, Styvenson foi fotografado no aeroporto quando embarcava para um treinamento em Brasília. A legenda da foto, que rapidamente se espalhou pelos grupos do aplicativo WhatsApp, dizia: "Bora beber que o homem viajou… Vai com Deus, tenente Styvenson". A piada foi revidada com uma blitz assim que ele retornou da viagem. Resultado: 26 pessoas foram presas por dirigirem embriagadas.

Mas não parou por aí, o tenente agora é fotografado por onde passa. Imagens dele na praia e no supermercado circulam nas redes sociais. "Ser fotografado não me incomoda. O que incomoda é a imagem vir seguida de um incentivo a beber e dirigir. Isso me deixa chateado", diz o tenente sobre as montagens feitas com fotos dele.

Em 2011, Styvenson Valentim passou 15 dias preso por ter autuado um major que dirigia embriagado. Segundo ele, a alegação foi a de que ele deveria ter chamado um oficial da mesma patente para autuar o major. "Eu nunca engoli isso. Quer dizer que eu deveria ter chamado outro major, ou um coronel, às 3h da manhã porque eu, como tenente, não posso atuar um major? Quer dizer que a patente dele está acima da lei?", questiona.

A prisão não intimidou o tenente. Em 6 de janeiro deste ano, ele assumiu o comando das fiscalizações da Lei Seca na capital potiguar. Desde então, foram quase 50 mil pessoas abordadas, 3.700 carteiras de habilitação retidas e 780 pessoas presas por crimes de trânsito.

Não existe uma estatística oficial da redução do número de acidentes após o início do trabalho do tenente, mas ele acredita que o resultado é positivo. “Eu preciso montar as operações voltadas para um objetivo. E qual é o objetivo? É a multa? Claro que não. Eu ganho muito mais em evitar um hospital cheio de vítimas de acidentes. Empresas vão ganhar porque o funcionário não vai se acidentar, não vai ficar afastado do trabalho. Famílias não vão perder parentes. É muito além do que multas. Quem pensa que todo esse trabalho é feito por multas é mesquinho e não consegue enxergar a grandiosidade do trabalho. A motivação da minha equipe é preservar a vida, é mudar conceitos, é dar segurança à sociedade. Nosso trabalho é gratificante”, afirma.

O trabalho de Styvenson é admirado por muitos, mas também é alvo de críticas. Recentemente um vídeo em que ele aparece esbravejando dentro de um ônibus com pessoas que foram abordadas e presas foi publicado nas redes sociais e a polêmica sobre possíveis excessos do tenente durante as operações voltou à tona.

Para se defender, o tenente apresenta números. Segundo ele, de 6 de janeiro até o início de novembro deste ano, foram abordadas quase 50 mil pessoas e 780 foram presas por estarem dirigindo sob efeito de álcool. “Que eu tenha conhecimento, existe apenas um procedimento aberto contra mim na Corregedoria da Secretaria de Segurança Pública e mais nada. Se eu fosse truculento, não teria mais? Quem se sentir ofendido, achar que houve abuso de poder ou desrespeito à dignidade durante as abordagens, tem todo o direito de denunciar”, ressalta.

Agressões e ameaças 

Em quase um ano da Operação Lei Seca na Grande Natal, o tenente e sua equipe, formada por outros 14 policiais militares, já foram alvos de agressões físicas, ameaças e tentativas de suborno. O conhecido 'você sabe com quem está falando?' também já foi usado várias vezes por motoristas. Styvenson conta que durante uma abordagem um homem jogou um copo de uísque nele. Em outra ocasião, um policial levou uma mordida de uma mulher. E teve até casos de quem tentassse passar por cima dos PMs com um carro.

“As pessoas deveriam acompanhar uma blitz dessas para ver o que acontece e poder falar com propriedade. Nós já prendemos pessoas com armas, com drogas. Policiais já foram agredidos com socos e chutes. Já teve gente que tentou jogar o carro por cima da gente. E teve até gente que parou, desceu do carro e fugiu deixando pra trás o veículo com grande quantia de dinheiro dentro. Eu estou alí, correndo risco de fazer uma abordagem e levar um tiro. Afinal, ninguém sabe quem é bandido e quem não é, mas as pessoas preferem criticar sem conhecimento de causa”.

Quando alguém agride fisicamente um policial durante as blitzen, segundo o tenente, é enquadrado também em lesão corporal e o PM processa o agressor. Ele lembra de um caso de um mexicano que, durante a Copa do Mundo em Natal, foi preso por estar dirigindo embriagado. O estrangeiro foi levado para um ônibus e, lá dentro, após apalpar os seios de uma mulher, acabou autuado por assédio sexual.

De acordo com o tenente, a orientação aos policiais que trabalham na Operação Lei Seca é tratar a todos com educação, independente de quem seja. “Pode estar em uma Traxx ou numa Land Rover. Pode ser um juiz ou um entregador. A orientação é tratar a todos com educação e respeito. Eu não gosto de piada, não gosto de liberdade, não gosto que fique conversando. Não é pra policial ficar conversando na blitz. Se chegar um juiz, será tratado por excelência. Se for um reitor, chamamos de magnífico. Nós respeitamos todas as autoridades, todas as patentes, assim como respeitamos a todos os cidadão”.

Vida às avessas

Quando começou à frente das operações da Lei Seca, o tenente Styvenson Valentim sabia que o trabalho teria repercussão por afetar a todos da mesma forma, independente de cor, classe social, ou patente. Em menos de um ano ele teve a vida vasculhada de todas as formas. “É uma busca incessante por algo que desabone minha conduta”, diz.

“Encontraram um Gol 1997 em meu nome, que estava na garagem da casa da minha mãe sem rodar há dois anos e com o pagamento do seguro obrigatório atrasado. Nem eu sabia que não estava pago porque o carro é da minha mãe, mas paguei imediatamente. É engraçado porque as pessoas admiram o servidor que cumpre sua função honestamente, que não se corrompe, mas ao mesmo tempo buscam algo de ruim nessa pessoa. É um paradoxo”.

G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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