Uma organização israelense publicou nesta segunda-feira (04) um documento no qual soldados de Israel acusam seu próprio exército de ter causado um número de vítimas civis sem precedentes ao recorrer ao uso indiscriminado da força durante a guerra na Faixa de Gaza em 2014.
No documento, que compila os testemunhos anônimos de mais de 60 oficiais e soldados que participaram na guerra de julho-agosto de 2014, a "Romper o silêncio", denuncia uma centena de casos de mal comportamento imputáveis em boa parte ao princípio de "risco mínimo", adotado pelo exército israelense para proteger seus soldados.
"Esse princípio e os esforços empregados contra os combatentes palestinos causaram à população e sobre as infraestruturas civis um número de vítimas e desgastes sem precedentes", afirma a "Romper o silêncio", que oferece aos soldados israelenses uma plataforma na qual podem se expressar sob anonimato. Esse instrumento de denúncia transformou-se em uma fonte de preocupação para as autoridades israelenses.
Entre os testemunhos recolhidos, há, por exemplo, o de um soldado que relatou que duas mulheres foram abatidas por estarem muito perto da linha de fronteira israelense. Após a inspeção dos corpos, verificou-se que elas não estavam armadas. "Foram registradas como terroristas. Apontaram-lhes (as armas) e dispararam (contra elas), então evidentemente tinham que ser terroristas", desabafou o soldado.
Em resposta às denúncias, o exército israelense disse que pediu à "Romper o silêncio" que lhe fornecesse provas ou informações a respeito dos fatos denunciados para poder investigá-los. A organização, contudo, teria negado o pedido, o que, segundo o exército, coloca em dúvida suas intenções.
Este documento é publicado no momento em que a atuação dos soldados israelenses durante a guerra de julho-agosto de 2014 continua sendo examinada pela ONU. Os palestinos querem levar os dirigentes israelenses à justiça internacional, por crimes de guerra. O exército de Israel também conduz suas próprias investigações.
Fonte: Terra