Incêndio na boate Kiss causou a morte de 242 pessoas em 2013 (Foto: Estêvão Pires/G1)
Está marcado para as 13h30 desta terça-feira (1) o depoimento de Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da boate Kiss, dentro do processo que investiga o incêndio na casa noturna, ocorrido em 27 de janeiro de 2013. A tragédia vitimou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos.
Prevista inicialmente para acontecer em Porto Alegre, a oitivia foi transferida para Santa Maria após solicitação da defesa. Até o momento, Kiko participou de todas as etapas do processo na capital gaúcha
Outro sócio da casa noturna, Mauro Londero Hoffmann prestará depoimento no Foro Central de Porto Alegre no dia 3 de dezembro. Os réus são acusados de homicídio e tentativas de homicídio com dolo eventual. Os dois chegaram a ser presos após o incêndio, mas desde o fim de maio de 2013 respondem ao processo em liberdade.
Músico e produtor foram ouvidos
Na terça (24) e quarta-feira (25), o juiz Ulysses Fonseca Louzada ouviu Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, respectivamente vocalista e produtor de palco da banda Gurizada Fandangueira, que se apresentava na boate no momento que começou o incêndio. Eles também são acusados de homicídio e tentativas de homicídio com dolo eventual.
Primeiro a ser ouvido, Marcelo de Jesus dos Santos disse que "se tinha que falar alguma coisa, era pedir perdão”. O vocalista segurou no palco artefato pirotécnico que provocou o incêndio. Em um dos questionamentos, ele observou que a ideia do uso durante as apresentações da banda foi do gaiteiro Danilo Jacques, que morreu durante a tragédia.
No dia seguinte, foi a vez do produtor de palco da banda depor no Fórum de Santa Maria. Luciano Bonilha Leão teria acendido o sinalizador que iniciou no incêndio. Durante o depoimento, respondeu apenas aos questionamentos do juiz, negando-se a responder perguntas proferidas pela acusação e pela defesa.
Emocionado, o réu chorou, disse ser inocente e também vítima, e que pensou várias vezes em acabar com a própria vida. "Muitas vezes pensei até em me matar. Jamais ia provocar alguma coisa que tirasse a vida de alguém", declarou.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Segundo ele, o julgamento deve ocorrer até o final do ano. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio de 2013.
Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
No dia 5 de dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à prefeitura.
Fonte: G1