Não espere mais nada de mim. É tudo que tenho para dar. Tento me reconectar a vida depois de mais um carnaval. Procuro fios que me interliguem ao espaço que volto a ocupar.
O barulho da água que despenca do desvio do rio na piscina pode ser um desses fios. O ruido sempre foi um seletor de pensamentos que reproduzo aqui no caderninho quando junto a contemplação dos movimentos do reflexo na água. Faço dessa dança uma peneira que afina e conduz as ideias tramadas nessas páginas.
Tento, tento, tento… sem muito sucesso.
O João e a Vânia, meus senhorios no paraíso, inconscientemente fazem parte desse esforço. Ele, quando me apresenta uma frutinha que nunca vimos chamada cauá-piri, ou cauá-pixi ou moranguinho do mato. É rasteira e fotogênica.
Pausa. Tempo de pesquisar para descobrir do que se trata, já que seus frutinhos minúsculos vermelhos se destacaram no chão embaixo da jabuticabeira e, segundo João, as sementes podem ter sido trazidas pelos passarinhos que fazem suas refeições nas árvores brasileiríssimas.
Vania contribuiu me apresentando mariolas deliciosas de uma marca que não conhecia e balas Toffee recheadas de creme de hortelã. Ajudam no regime de engorda para me recuperar um pouco do desgaste físico da Sapucaí.
Mas… falar de mariola me leva novamente à pista. Acontece que a delícia fluminense (as de Rio Brilhante são sensacionais) faz parte do kit alimentação especial das noites e madrugadas carnavalescas.
Ele é composto de sanduíche de queijo, as mariolas sem açúcar cristal em volta, pra não piorar a lambança na pausa embaixo do segundo módulo de julgadores em que costumo descansar entre uma escola e outra, se não estiver encarapitada na torre de transmissão.
A matula também contém sementes de guaraná maués, um quente, pra fechar o rebite e água, muita água.
Então, mariolas me transportam, mas não me levam a sair da realidade já passado do templo do samba…
O que, de uma certa maneira, é bom devido a etapa do trabalho que vem depois da folia: editar os registros que fiz.
Uma tarefa que exige atenção e paciência. Ouvir os sambas da escola que está sendo editada, decupada e indexada comendo mariola torna o ambiente perfeito para mergulhar na missão.
Confesso que faz tempo desisti de participar da competição de quem publica mais rápido seus registros. Essa edição fina e a catalogação do acervo carnevalerio.com me tiram dessa animada e salutar disputa entre os fotógrafos. O que, de certa maneira, interferiria no resultado do material que disponibilizo nas plataformas.
Sem alarde o conteúdo vai sendo construído ao longo dos anos. É interessante o resultado? Sem dúvida. Depois da indexação as imagens ficam disponíveis publicamente em baixa resolução no Flickr.
Já estou no carnaval de novo! E, dele, não consigo largar.
Parei para dar um mergulho e, pra não perder a mão, fazer umas fotos das flores de São Miguel que estão explodindo na borda da piscina.
Quando chego perto “pesco” a iluminação sutil que o reflexo da água faz no carro alegórico de florezinhas azuis que saltitam ao vento da Mata Atlântica.
E aí, pra não perder a mão, o lado do meu eu carnavalesco pergunta ao outro, que tenta se situar no meio do mundo:
“Será que num carnaval do futuro os iluminadores aprenderão a fazer uma luz tão delicada e sutil quanto essa, gerada pela natureza?”
Desisto do diálogo de mim comigo mesma e vou editar. Afinal, como a vida, o carnaval só acaba quando termina…
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série (ainda) “É carnaval” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com
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Foto Capa: Valéria del Cueto