Estes são alguns dos inúmeros problemas do transporte público da Capital. No entendimento do especialista em transporte e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Eudemir Pereira, este cenário é o retrato da falta de priorização dos gestores que, em tese, deveriam garantir um transporte público de qualidade. “Há, na verdade, uma grande falta de investimentos tanto em planejamento quanto na frota. Nós deveríamos ter ônibus novos e com manutenção em dia; é muito comum você ver os veículos quebrados no meio do caminho e a população à mercê destes descasos”, analisa.
Ainda de acordo com o especialista, a atual concessão descumpre uma série de regras previstas em contrato, como o tempo de vida útil dos ônibus que seria de no máximo sete anos, quando a frota mais jovem já passa dos 10 anos; a falta de dimensionamento da frota; a inexistência de comunicação visual ou placas sinalizadoras; e o descumprimento na frequência de viagens. “Em outras capitais nós temos a frota com idade média de apenas três anos. E observe-se que a reposição da frota está prevista na composição tarifária. Desta forma, posso garantir que hoje Cuiabá não tem boas condições de ônibus, o que prevalece é a falta de cumprimento contratual”, alerta.
Já sobre a questão das tarifas, Eudemir Pereira garante que o valor está muito acima do que deveria, já que não atende ao consumidor. “Pagar por um serviço que não funciona adequadamente é caro”, destaca lembrando ainda que a tarifa do transporte público em Cuiabá é uma das mais caras do país.
Outro problema bastante grave é a superlotação dos veículos que acontece basicamente por conta da falta de cumprimento dos horários. Além dos problemas ocasionados pelas obras de mobilidade espalhadas pela Capital, a retirada dos cobradores também colabora para os atrasos. Sem estes profissionais para prestar auxílio às pessoas com deficiência e idosos, o motorista assumiu mais esta responsabilidade.
“Tenho certeza que subir um cadeirante em um ônibus com este sistema arcaico usado em Cuiabá não leva menos do que dez minutos. Nesse momento o motorista tem que descer e deixar o veículo ligado, à mercê de outros riscos no trânsito. Os usuários que também não têm acesso ao cartão-transporte não podem ser impedidos de entrar no ônibus sob a pena de estar violando o direito de ir e vir do cidadão. Além do desgaste com o trânsito pesado da Capital, o motorista ainda tem que lidar com todos os outros percalços”, pondera.
Para solucionar o problema do transporte Eudemir Pereira garante que, além de prioridade, algumas medidas devem ser tomadas o mais rápido possível, como a inserção de uma faixa exclusiva para os ônibus, a realização de uma pesquisa de origem e destino para, a partir disso, redefinir o volume da frota, e a auditoria da tarifa. “Hoje a tarifa de ônibus em Cuiabá é uma verdadeira caixa-preta. Os cidadãos merecem um transporte público de qualidade e os gestores têm como fazer com que isso funcione bem, é só ter prioridade”, sintetiza.