Jurídico

Silval dá novos detalhes em seu depoimento à CPI do Paletó na Câmara de Vereadores

Em depoimento a CPI do Paletó, o ex-governador Silval Barbosa, entregou a Comissão a cópia de sua colaboração premiada com 9 apensos e 94 anexos. Silval também rebateu ao vereador e delator, Adevair Cabral (PSDB), que as imagens feitas pelo seu ex-chefe de gabinete Silvio Correa, nada tinha a ver com mensalinho.

Nas imagens gravadas por Silvio, o atual prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), na época deputado estadual, aparece enchendo os bolsos com maços de dinheiro. Além dele, também aparecem o deputado federal, Ezequiel Fonseca (PP), que recebeu o dinheiro em uma caixa de papelão, o então deputado estadual Hermínio Barreto (PR) levando uma mala, onde coloca os maços. E a então afastada prefeita de Juara, Luciane Bezerra (PSB), que guardou o dinheiro da suposta propina na bolsa. O ex-deputado estadual Alexandre César (PT) também apareceu recebendo o dinheiro e colocando em uma mochila. Todos os nomes constam também na lista de delação entregue por Silval à Procuradoria Geral da República (PGR). 

Silval reafirma que "mensalinho" era comum e propina de filmagens era acordo para não atrasarem obras da Copa-2014

“Mensalinho era outra coisa que tinha dentro do governador e como eu vim para contribuir eu posso relatar tudo conforme funcionava o mensalinho durante o tempo em que eu passei na mesa diretora, durante o tempo como vice e durante o tempo em que fui governador. Então mensalinho não se confunde com aquelas imagens, aquelas imagens era um acordo de uma extorsão que foi feita comigo e os deputados estaduais na execução das obras dos programas que o governo do estado tinha estabelecido. Principalmente os projetos das obras da Copa, MT Integrado, Prodtur, obras da Petrobrás, todos os programas”, afirmou o ex-governador em seu depoimento à CPI do Paletó.

De acordo com Silval, quando saiu o montante de dinheiro destinado a esses projetos começaram os “problemas” no seu governo. “Começou as extorsões, os pedidos por parte dos senhores deputados. Chegaram a fazer reunião de colegiados de que forma iriam extorquir o governador”, contou.

O ex-governador diz então que chegou um momento em que ele teve que optar por pagar extorçãoes ou realizar obras. "Ou eu concedia essa extorsão ou haveria muito mais atrasado ou talvez nem a realização das obras no Estado. Aquelas imagens, são frutos de um acordo, de uma extorsão que houve para não atrapalharem as obras da Copa, os programas, e foi feito o acordo de R$ 600 mil para cada deputado, parcelado. Porém eles começaram a pedir R$ 1 milhão e isso está na minha delação quando eu conto que eu não queria fazer esse repasse em espécie, pois havia uma dificuldade grande para arrumar esse dinheiro e então eu cheguei a oferecer o valor de R$ 400 milhões nos contratos para que eles procurassem as empresas e fechassem o acordo com os empresários. Como eles não quiseram, a gente fechou o acordo de R$ 600 mil divididos em 12x e aquela ali era uma das parcelas sendo recebida”, revelou.

Segundo Silval, os acordos eram feitos entre ele os deputados, o Silvio teria ficado responsável apenas por fazer os repasses. “A maior dificuldade era para cumprir essas extorsões, pois a dúvida era: como íamos fazer? Tinha que pedir dinheiro as empresas, pedir o dinheiro para a propina. Eu fiz o contato com os empresários do MT Integrado, e das obras de programa da Petrobras. Eu falava que era para pagar resto de campanha e eles ajudavam e está na minha colaboração quanto cada um ajudou”, conta.

Nesse momento, Silval explica como acontecia depois que as empresas aceitavam o pedido de “ajudar na campanha” e o dinheiro era repassado aos deputados. “Esse dinheiro entrava, então eu passava para o ex-secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Transporte e Pavimentação Urbana, Valdisio Virato, depois era passado para o Silvio e finalmente era entregue aos deputados”.

Silval então apresenta a Comissão nomes de deputados que estavam na planilha do ex-chefe de gabinete Silvio Corrêa. “Quem recebia: Ademir Brunetto, Baiano Filho (PSDB), Dilmar Dal Bosco (DEM), Antônio Azambuja, Ezequiel Fonseca (PP), Herminio J. Barreto, João Malheiros, Luciane Bezerra (PSB), Luiz Marin, Mauro Savi (PSB), Airton Português, José Riva, Walter Rabello, Romoaldo Júnior (MDB), Sabastião Rezende (PSC), Wagner Ramos (PR), Zé Domingues Fraga Filho (PSD), Odenir Bortoline (Nininho) (PSD), Pedro Satélite (PSD), Emanuel Pinheiro (MDB), Alexandre César e Gilmar Fabris (PSD)”, finaliza.

Reunião para pedir extorsão

A comissão pede que Silval detalhe como foi a tal reunião organizada para combinar de que forma essa extorsão seria feita.

“Foi o próprio deputado Romoaldo Junior, Mauro Savi e José Riva, num determinado dia fizeram uma reunião no colégio de líderes da Assembleia Legislativa que participaram praticamente todos os deputados e nessa reunião foi combinado de que forma que eles iriam me abordar para fazer essa extorsão. Olha só, fizeram essa reunião, só que, eu tomei conhecimento porque essa reunião teve outro desdobramento. O deputado Daltinho gravou essa reunião, porque que ele gravou essa reunião? Porque na época ele era suplente e queria ficar como titular, acabada a reunião, o deputado Daltinho foi à mesa diretora e chantageou a mesa diretora, “Olha se vocês não arrumarem um jeito aqui para me manter titular eu vou denunciar isso aqui” isso eu tomei conhecimento que o próprio Romoaldo, Mauro Savi e Riva que estavam na mesa me contaram, e depois disso formou uma comissão dessa reunião, tirou uma comissão para falar comigo para fazer o pedido de extorsão, que quem estava nessa comissão era o deputado, Riva, Romoaldo, Mauro Savi, Gilmar Fabris, Wagner Ramos, Dilmar Dal Bosco e Bahiano Filho”.

O ex-governador diz que Luciene Bezerra chegou a brigar com o ex-chefe de gabinete Silvio Correa e reclamou com Silval que não queria mais que o acordo fosse feito com o Silvio, porque segundo Luciene, ele não cumpria o acordo e era uma briga constante.

“O Silvio não aguentava mais essa pressão ele estava muito preocupado e por isso decidiu gravar. Tanto é que a deputada Luciene quem terminou de fazer o acordo com ela o pagamento foi o ex-secretário da casa civil deputado Pedro Nadaf”, detalha.

Incentivos fiscais irregulares

Silval foi questionado sobre um possível acordo para blindá-lo na CPI dos Incentivos Fiscais.

“Eu já estava fora do governo quando foi criada e confesso que quando eu já estava preso, e começaram a criar as CPIs, eu via a composição delas e pensava o seguinte: Saiu as denúncias, tem pressão e criaram a CPI e vão me blindar antes de ser preso. A CPI das obras da Copa, por exemplo, foi ao contrário do que eu tinha imaginado, eles não me blindaram. Mas não foi o caso da CPI dos Incentivos, não houve nenhuma conversa sobre isso”.

Ele conta que na CPI da Copa, o deputado Oscar Bezerra (PSB) chegou a negociar a minha blindagem, e no final ele mesmo veio negociar chegando a antecipar a quantia de R$ 200 mil para ele depois.

“Mais ai eu fui preso e depois de preso, eles insistiram com a minha família querendo o dinheiro para me blindar, tanto é que tem anexo da família tratando sobre esse assunto, dentro da minha colaboração”, conta.

Ele conta também que em 2015, para aprovar as contas de governo, o deputado Wagner Ramos (PSD), Zé Domingos (PSD) e Silvano Amaral (MDB), a família de Silval voltou a ser extorquida e até pressionada.

“Naquele momento eu só tinha uma prisão e achava que não iria dar nada, foi pago e está provado na justiça R$ 650 mil, R$ 250 para o Wagner, R$ 200 mil para o Silvano e R$ 200 mil para Domingos”, afirmou.

Propina em nome de Silval  

“O empresário Vanderlei, dono da Trimec pagou propina a Emaneul Pinheiro em seu nome?”, questionou o vereador Felipe Wellaton (PV).

Silval responde que não tem conhecimento se a propina era paga em seu nome.

“Além da Trimec existe outras empresas que pagava propina a deputados?”, perguntou o vereador.

“Tem várias empresas que eu falei que deram em torno das obras, mas quando eu falava com esses empresários, como eu já disse aqui, eu dizia que era para pagar restos de campanha, nunca falei que era para passar propina para deputado”.

“O senhor conhece a relação de amizade entre o sócio da empresa Gendoc e Emanuel Pinheiro?”, questionou Wellaton. “Não, eu conhecia a Gendoc por indicação do Tribunal de Contas, que foi feito o acerto com os conselheiros do Tribunal de Contas entrou a Gendoc, mas não conheço a relação de Gendoc e Emanuel”, respondeu.

Encontro Silvio e Alan Zanatta 

“Tinha conhecimento do encontro entre o ex-secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia, Alan Zanatta e Sílvio Correa?”. Silval responde que teve conhecimento através da imprensa do tal encontro e que por decisão judicial é proibido de falar com o ex-chefe de gabinete, por isso não soube pelo mesmo sobre o encontro, mas sim pela imprensa.

Pesquisas Instituto Mark

O vereador Toninho de Souza (PSD), pergunta sobre a dívida entre o irmão do prefeito Emanuel Pinheiro, Marco Polo Pinheiro, o “Popó” e se o dinheiro recebido nas imagens eram para quitar dívidas com o Instituto Mark, que teria realizado pesquisas a pedido de Silval.

“Com certeza não tem relação nenhuma com dívida de campanha. Não tenho conhecimento do vínculo dele com a empresa do irmão e de ir cobrar dívida dele [Popó]”, respondeu.

O vereador Paulo Araújo (PP), questiona se o prefeito, teria procurado o ex-governador para pedir que mudasse seu depoimento de forma a apoia-lo e não prejudica-lo.

“Não atendo ninguém em casa, a não ser advogado e minha família. E ele também nunca me procurou quando estava preso”, respondeu.

“Qual era o papel do Toninho Barbosa, seu irmão?”. “Ele ajudava na campanha, só ajudava”.

Silval é questionado se Toninho entregou um SW4 para quitar uma dívida com a empresa de Popó. “Meu irmão se envolveu só na campanha de 2010, quando concorri para governador, quando contratávamos pesquisa, eles queriam receber antecipado, para soltar equipe na rua. Fica parcelado uma coisa só quando faz uma acordo na campanha, exemplo: quero 100 pesquisas em datas diferentes para governador, mas terminou é pago. Se meu irmão deu carro pode ter sido na campanha de 2010, mas não posso afirmar se deu ou deixou de dar”, respondeu.

Foto: Leticia Kathucia 

 

Redação

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