"Venho com a postura de falar tudo o que sei". A declaração é do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), dada durante reinterrogatório prestado à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, na tarde desta segunda-feira (17).
A audiência é referente a ação penal derivada da 2ª fase da Operação Sodoma, em que Silval é acusado de ser o líder da organização criminosa que teria lucrado mais de R$ 18 milhões, por meio de exigência de propinas aos empresários Willians Paulo Mischur (Consignum) e Júlio Tisuji (Webtech), para que continuassem tendo contratos de prestação de serviços ao Governo.Além de confirmar ter sido o líder da organização criminosa instalada no Executivo estadual, o político declarou ter recebido propina de R$ 240 mil da Consignum, por 30 meses.
Silval ficou preso no Centro de Custódia da Capital entre setembro de 2015 e junho deste ano, quando foi para a prisão domiciliar, após confessar sua participação nos crimes investigados.
No início da audiência, o político declarou que pretender retratar o seu depoimento prestado em agosto do ano passado, quando negou que tenha sido líder da organização criminosa.
"Venho com a postura de falar tudo o que sei. Falar tudo aquilo que participei, o porque participei e quais as vantagens que recebi", declarou.
Além disso, o peemedebista ressaltou a participação de diversos secretários de Estados, que foram colocados estrategicamente para atender aos interesses de empresários que apoiaram a candidatura a reeleições. Silval declarou que todos os que participaram dos esquemas de cobrança de propina participavam por vontade própria.
"Eles não eram pressionados, eles iam com maior prazer, porque sabiam que tinha vantagem. Assim como os empresários: só fazem porque tinham vantagem. Nunca eu cheguei em uma pessoa e falei: 'você é obrigado'. Eles faziam com satisfação", declarou.
Atualizada às 14h30min.
Silval declarou que no período em que esteve no Centro de Custódia fez muitas "reflexões" e, por isso resolveu adotar outro caminho em sua defesa. O político ressaltou que seus advogados anteriores (Valber Melo, Ulisses Rabaneda e Francisco Faiad) eram contrários a suas confissões. Atualmente, Silval é defendido pelo advogado Délio Fortes Lins e Silva Júnior.
Atualizada às 14h35min.
Silval relatou que quando foi eleito governador do Estado em 2010 acumulou muitas dívidas de campanha. Por isso, montou uma equipe de secretários de confiança, que ficaram responsáveis por buscar alternativas para angarear dinheiro e quitar tais dividas.
O ex-governador disse que em 2011 chamou o ex-secretário de Administração, César Zilio, e pediu ajuda para conseguir dinheiro, uma vez que ele havia sido ser coordenador financeiro na campanha a reeleição.
"Nessa campanha fiquei com dívidas e chame o Cesar e disse: 'você que é de extrema confiança, preciso que me ajude a resolver [uns problemas] e quitar essas dividas de marketing e tudo que envolve a campanha'", relatou.
Silval ainda disse que, assim como outras campanhas majoritárias, também fez caixa 2 em sua campanha.
"Não existe campanha, principalmente marjoritaria, sem caixa dois. [Normalmente] do que é declarado à Justica, representa um terço das doações [de campanha]", disse.
O ex-governador declarou que falou sobre a Consignum com Zílio, que por sua vez conversou com o empresário Willians Mischur e combinou o pagamento de propina na ordem de R$ 400 mil ao mês. Se em algum momento ele pagou R$ 700 mil não é do meu conhecimento".
Atualizada às 15h23min.
Ainda em seu interrogatório, Silval declarou que em meados de dezembro de 2013 chamou o também ex-secretário de Estado de Administração, Pedro Elias, para comandar a secretaria e retomar a rotina de pagamentos de propina. "Ele veio para ter controle disso, mas, depois eu o chamei e disse que estava chegando no final do ano e, como o Faiad pretendia concorrer eleição em 2014, disse que ia nomear o Pedro Elias na Secretaria e pedi para ele operar esse esquema da Consignum. O Pedro Elias passou só uma vez o recebimento para mim, no valor de R$ 500 mil. Ele ficou com R$ 100 mil".
Silval também falou sobre a participação do ex-deputado José Riva no esquema envolvendo a Consignum. Segundo ele, no final de 2013, Riva o procurou para falar que tinha uma empresa interessada em operar os empréstimos consignados, função realizada pela Consignum.
“Não queria briga com o Riva, então chamei o Pedro Elias e falei para abrir uma concorrência e conversar com Riva. O Riva apresentou a empresa Zetra. Ele sabia do esquema da Consignum e dizia que essa empresa iria ajudar mais”, disse.
De acordo com Silval, a concorrência foi feita e a Zetra ganhou. No entanto, Mischur conseguiu uma liminar na Justiça para anular a licitação.
“Depois disso o Willians buscava a todo momento falar comigo. Para que eu renovasse esse contrato, mas eu não o atendia".
Conforme o interrogatório, Mischur procurou Silval em um churrasco realizado na casa do irmão do ex-governador.
“Ele flava de uma série de situações, mas eu disse que não queria mais briga com a Assembleia e com Riva. Ele chegou a dizer que já tinha falado com o Paulo Taques [primo do governador Pedro Taques] que caso o grupo dele ganhasse a eleição o contrato dele ia ser mantido”.
O ex-governador completou dizendo que Mischur se acertou com o próprio Riva.
“Quando o Riva disse que eu devia ele, é mentira. O Riva ia disputar uma candidatura majoritária pra Governo e precisava desse contrato para isso. Eu não determinei ao Pedro [Elias] para tratar esse assunto com Riva, só falei para ele acabar com esse cabo de guerra entre Governo e Assembleia. Só depois eu fiquei sabendo que ele recebeu".
Atualizadas às 15h32min.
O ex-governador disse que alguns dos réus na ação não tiveram relação com o esquema de cobrança de propina da Consignum, como o ex-chefe de gabinete, Silvio Araújo; o ex-secretário adjunto de Administração, José Cordeiro; o ex-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, o ex-secretário de Estado de Fazenda, Marcel de Cursi; e o seu filho, Rodrigo Barbosa.
Silval revelou também a existência de um esquema envolvendo gráficas e a arrecadação de dinheiro para a campanha de Wallace Guimarães, em 2012.
"O Walace era deputado estadual e estava concorrente a campanha para prefeito de Várzea Grande. Me reuni com ele, que me disse que precisava da minha ajuda. Ele disse que esteve na secretaria conversando com o Cesar Zílio e afirmou que conhecia algumas gráficas que participaram da licitação e queria que eu autorizasse as gráficas para dar um retorno".
"Chamei o Cesar, que disse que dava para fazer alguns contratos, e foi executado. Eu autorizei e foi feito, mas nunca estive com nenhum dono dessas gráficas. O Cesar e o Walace dizem que me passaram R$ 1 milhão. Eu não lembro, mas como era muita coisa pode ser que sim. O Cesar ficou com R$ 1 milhão e pouco".
Atualizada às 15h37min.
Quanto a cobrança de propina do empresário Julio Tisuji, da Webtech, Silval disse que não participou da negociata.
Segundo o político, ele teve conhecimento de que Zílio acertou com o empresário e cobrou a propina por dois anos. Silval garantiu que só soube da negociação depois que parte do dinheiro da propina foi passada para seu filho, Rodrigo Barbosa, que teria confessado a sua participação depois que não era mais governador.
"Eu não recebi nada, só o Rodrigo. Mas ele não conversou com o Julio, só com o Pedro. Ele [Rodrigo] recebeu cerca de R$ 380 a R$ 400 mil".
Atualizada às 15h42min.
O ex-governador negou que tenha tido conhecimento ou participação no esquema da compra de um terreno na avenida Beira Rio, em Cuiabá, por R$ 13 milhões. A compra foi realizada pelo ex-secretário César Zilio, com parte da propina arrecadada no Governo.
“Só fiquei sabendo depois da operação. Nunca participei, não recebi valores, nada. Do que eu recebi, que é da Consignum nesse caso, eu paguei uma série de coisas de campanha”, declarou.
O político reforçou que liderou o esquema com a Consignum, mas ressaltou que não tinha controle de todos os atos de seus secretários.
“Quando o chefe libera a guarda, os secretários avançam o sinal. Como nesse caso do Cesar Zílio e Pedro Elias no esquema com a WebTech. Eu não sabia, eles operavam sozinhos".
Silval explicou como utilizou o dinheiro arrecadado com a propina cobrada pela Consignum.
"Do que eu recebi da Consignum, paguei muitas coisas de campanha política, gráficas, uma série de coisas. No andamento dos processos vou ter como ir mostrando como destinei esse dinheiro [desviado do Governo]".
O ex-governador afirmou, novamente, que liderou o esquema envolvendo a Consignum.
"No caso da Consignum eu era o chefe. Eu liderava os processos para resolver os problemas que eu tinha".
Atualizada às 15h52min.
O ex-governador declarou que a acusação de ter recebido dinheiro da propina da Consignum no banheiro do seu gabinete do Palácio Paiaguás foi “maldade”.
"Era em dinheiro. Ele [Cesar Zílio] me entregava no gabinete, numa sala, deixava na gaveta, no chão, ou na minha casa, ou na casa dele".
Atualizada às 16h01min.
O ex-governador afirmou que seu filho, Rodrigo Barbosa, não fez parte da organização criminosa que cobrava propina de empresários.
"Com certeza absoluta o Rodrigo não fazia parte de nenhuma organização. Ele participou de um caso pontual apenas. Se ele falasse comigo antes de receber [a propina], com certeza eu não autorizaria. Ele só disse que recebeu umas três vezes e que no total dá esse valor de R$ 380, R$ 400 mil".
Atualizada às 16h16min.
O interrogatório de Silval Barbosa é encerrado.
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