Por Thales de Paiva
Foto Ahmad Jarrah
No intuito de expandir os negócios e lucrar com a grande movimentação turística gerada pela Copa do Mundo no Brasil em 2014, muitos grupos investiram pesado na ampliação e construção de novos hotéis em Cuiabá e Várzea Grande. Mais de um ano após o fim do torneio, gestores têm de ser criativos e dinâmicos para permanecer no mercado, diante de tantas dificuldades.
Segundo dados da Federação Brasileira de Hotéis e Alimentação (FBHA) e da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Mato Grosso (Abih-MT), nos três anos antes da Copa o crescimento do setor hoteleiro no Estado foi de 15%, enquanto a média nacional foi de 7%. A capital contava com pouco mais de oito mil leitos de hospedagem antes de 2014 – número que duplicou no ano do mundial.
Às vésperas da Copa, começavam os indícios de que o excesso de oferta poderia ser preocupante, ao contrário do que ocorria em muitas capitais brasileiras, onde faltava estrutura para receber turistas. Com o crescimento acima da média e a natural retração da demanda após o término do mundial, a queda brusca no movimento foi inevitável.
Situação que resultou no fechamento de três hotéis neste ano e que continua tirando o sossego de muitos empresários. “A demanda caiu tanto, que a maioria dos estabelecimentos está passando por grandes dificuldades para manter as contas em dia. O movimento diminuiu cerca de 30% no primeiro semestre. Nos dois últimos meses, a queda foi de 20%. Realmente tem sido um momento muito delicado para o setor”, avalia o presidente da Abih –MT, Guilherme Verdum.
Para manter as portas abertas, corte de funcionários e redução de custos são algumas das saídas encontradas pelas empresas. “Continuamos passando por uma fase difícil. O volume de viajantes está baixo e por isso seguramos os reajustes que deveriam ser repassados em virtude da inflação. Reduzimos nossos custos de várias maneiras e ainda não demitimos, mas essa é uma possibilidade no futuro, caso esse quadro não mude”, diz André Machado, gerente de um hotel localizado na Avenida Isaac Póvoas.
Investimentos
A queda expressiva da clientela fez com que muitos investimentos não se sustentassem. Dados da Abih-MT mostram que ao longo deste ano a rede hoteleira local não tem usado sequer 50% de sua capacidade. “Quem buscou financiamento não está conseguindo honrar a dívida, ou está conseguindo com muita dificuldade. Com isso, fica inviável fazer outras melhorias que são importantes para dar fôlego ao negócio”, resume Verdum.
Proprietário de um hostel (estabelecimento que oferece hospedagem coletiva) em Cuiabá, Alex Vieira de Deus também investiu bastante e não obteve o retorno esperado. “Ainda estamos longe de ter esse investimento recuperado. Além disso, tínhamos planejado novas contratações, mas voltamos atrás. Isso porque o movimento está muito fraco e a crise pode piorar ainda mais em 2016”, explica.
Cuiabá e Várzea Grande concentram cerca de 80 hotéis da classe econômica e quase 40 unidades de 3 a 5 estrelas. Mas, não é apenas o aumento da concorrência que vem prejudicando o movimento. A retração da economia em vários setores tem sido uma constante. “Existe todo um conjunto de fatores, como a economia estagnada e a diminuição da demanda. Alguns hotéis foram transformados em salas comerciais, outros estão buscando mais eventos ou outras soluções pra fugir dessa crise”, afirma Verdum.
O presidente da Abih-MT também destaca que, mesmo com a valorização do dólar em relação ao real, o fluxo de visitantes estrangeiros ainda não foi retomado. “Se tivéssemos um aeroporto que recebesse voos internacionais já seria um grande impulso, principalmente agora, com essa alta do dólar”, diz.
Esta análise também é reforçada pelo empresário Alex Vieira. Geralmente, o índice de hóspedes estrangeiros nos hostels (ou albergues, como também são conhecidos) é bastante expressivo. No entanto, ultimamente até mesmo esse público tem diminuído. “Os turistas estrangeiros formam uma grande parcela da nossa clientela, mas do ano passado pra cá o fluxo está bem menor. O movimento só não está pior porque temos desenvolvido ações pontuais para atrair turistas de outros países”, explica.
Outro fator que pode estar influenciando negativamente a vinda de mais turistas de fora é a imagem do País que tem sido divulgada pelo mundo. “Aqui recebemos muitos estrangeiros e pelo que eu percebo a imagem do Brasil não está nada boa. As pessoas acabam ficando intimidadas com as notícias que estão circulando e acabam escolhendo outros destinos”, observa Vieira.
Com todo o potencial turístico de Mato Grosso, resta aos empreendedores do ramo hoteleiro esperar e torcer para que esse momento ruim seja passageiro, já que não faltam atrativos no estado. “Temos um turismo de negócios muito forte, temos muitas belezas e atrações naturais. É importante continuar divulgando cada vez mais esse potencial e trabalhar com aquilo que temos de melhor. Mas, ainda faltam muitas melhorias. Temos o turismo contemplativo que já está mais consolidado e também o turismo de aventura, mas, nesse setor, estamos engatinhando, mesmo com um potencial fantástico”, analisa Verdum.