Cidades

Servidores do Samu denunciam desativação de núcleo de ensino

Fotos: Ahmad Jarrah

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), essencial quando se trata de transporte de pacientes de urgências médicas, vive uma relação crítica entre servidores e gestor. Funcionários acusam o diretor do serviço, o tenente-coronel Ricardo Antônio Bezerra Costa, de manter desativado o Núcleo de Ensino e Pesquisa (NEP) e que seria de extrema importância para a garantia da qualidade dos serviços ofertados à população.

A situação levou o Sindicato dos Servidores da Saúde e Meio Ambiente (Sisma) a formalizar uma denúncia ao Ministério Público Estadual (MPE), Ministério da Saúde, no Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE) e para o governador Pedro Taques (PSDB), além dos secretários de Gestão Julio Modesto, e de Saúde Eduardo Bermudez.

O Núcleo, de acordo com a denúncia formal, é importante para a capacitação e reciclagem dos servidores do Samu. “A legislação obriga a ter o NEP para qualificar os profissionais. Ele diz que vai voltar, mas quando? Nós estamos com todos nossos cursos de atualização vencidos. Quem não está é porque pagou do próprio bolso”, revela um dos servidores.

Ainda de acordo com ele, existe um projeto para que o antigo Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergência (Siate) volte a funcionar.  Assim, bombeiros e servidores trabalhariam em conjunto, na mesma central de atendimento. O problema ficaria por conta da remuneração por parte do Ministério da Saúde e Governo, que é diferente para Samu e bombeiros. “O modelo que esses querem fazer, muda até a forma do recebimento do recurso, porque muda a tabela do SUS. O modelo do Samu tem uma tabela de pagamento”.

Os problemas ainda se estende para falta de insumos, sucateamento das ambulâncias e extinção das três unidades motolâncias.

Outro fator que motivou a denúncia ao MPE foi a suposta falta de qualificação dos atuais gestores para o cargo. De acordo com o Ministério da Saúde, o gestor do serviço deve ser um “profissional oriundo da área da saúde, com experiência e conhecimento comprovados na atividade de atendimento pré-hospitalar às urgências e de gerenciamento de serviços e sistemas”. Os servidores alegam que o tenente-coronel é engenheiro civil.

Municípios não estariam assumindo o serviço

O serviço do Samu na Grande Cuiabá funciona de maneira bipartite, entre Governo Estadual e Federal. O médico e coordenador do Samu em Mato Grosso, Gunther Peres Pimenta, afirma que o serviço do Samu precisa de atenção municipal. Isso porque o sistema pede, em sua estrutura, uma gestão tripartite, que inclui o Municipal.

“Trata-se de um programa municipal. Os municípios de Cuiabá e Várzea Grande não abraçaram o programa desde o início e é o Estado de Mato Grosso que vem financiando, junto ao Ministério da Saúde o programa em Cuiabá. Existem algumas cidades no interior, como por exemplo Tangará da Serra, em que o serviço do Samu é municipal. Então, o município é quem administra o Samu”, explica.

Para o coordenador Gunther Peres Pimenta, se os municípios assumissem a parte que lhes cabe, os investimentos como concursos públicos para o setor teriam mais visibilidade. De acordo com os trabalhadores, há cerca de 12 anos não há concursos.

“Atualmente temos enfermeiros concursados, técnicos de enfermagem, parte concursada e parte do serviço são contratados. Alguns, junto à Secretária de Saúde do Estado, e aguardam concurso público. Por outro lado, os médicos são terceirizados. No plantão, são cinco médicos por dia, e cinco médicos à noite. No total 300 e 310 plantões por mês”.

A grande Cuiabá conta com oito viaturas: cinco unidades básicas e três avançadas, chamadas de UTIs móveis. Os veículos de suporte avançado contam com médico e enfermeiro; já o básico, tem enfermeiro e técnicos de enfermagem, além do motorista.

“Essa quantidade de veículos é o estimado pelo Ministério de Saúde. Eu adoraria que tivéssemos 10 ambulâncias, mas no momento político em que estamos vivendo, infelizmente não é possível”, diz o coordenador do Samu, Gunther Peres Pimenta. Segundo ele, um veículo com todo o equipamento necessário custaria aos cofres públicos cerca de R$250 mil.

Mensalmente, são mais de 4 mil ligações à Central de Atendimento de Cuiabá. Essa, conta com oito pessoas: três atendentes, dois médicos, um enfermeiro e duas pessoas que acionam as ambulâncias – que ficam disponíveis à população 24h.

Ao ligar para o número 192, o cidadão conta a ocorrência e assim o profissional diagnostica o que deve ser feito. Muitas das ligações são resolvidas apenas pelo telefone, indicando às pessoas alguns procedimentos.

Cuiabá e Várzea grande apresentam a maior demanda

Dos 6.251 atendimentos feitos até maio de 2016, 41% das vítimas foram enviadas para o Hospital e Pronto Socorro de Cuiabá, 35% para o Pronto Socorro de Várzea Grande, 16% para Unidades de Pronto Atendimento na Capital. Os demais atendimentos foram encaminhados para o Pronto Atendimento Médico em Poconé (5%) e para o Hospital Municipal de Chapada dos Guimarães (3%).

De acordo com o Samu, os acidentes envolvendo motociclistas são os que ocupam mais o Serviço: 76% das vítimas atendidas na Baixada Cuiabana são motociclistas.

Os dados ainda mostram que em Cuiabá as avenidas que mais acumulam acidentes são a Avenida Fernando Correa, Avenida Historiador Rubens de Mendonça (do CPA) e Miguel Sutil. Juntas, neste ano, acumulam 229 acidentes que necessitaram das ambulâncias do Samu.

Em Várzea Grande a maioria das vítimas no trânsito estavam na Avenida Júlio Campos, Avenida Filinto Müller e Avenida da FEB.

A Central de Cuiabá ainda faz atendimentos nas principais rodovias da capital. Nestes cinco primeiros meses do ano, foram 44 atendimentos na Rodovia Emanuel Pinheiro, 35 na Rodovia Palmiro Paes de Barros e 27 na Rodovia Maria Andreazza.

A Central de Atendimento em Cuiabá ainda é responsável pelas ambulâncias de nove cidades. Juína, Poconé, Colniza, Chapada dos Guimarães, Brasnorte, Aripuanã e Cotriguaçu são responsáveis por 18% dos atendimentos pela central apenas em 2016. 

Secretaria de Saúde diz que está apurando denúncias

A Secretaria de Saúde de Mato Grosso, por meio de assessoria de imprensa, afirma que recebeu a documentação dos servidores da unidade e representantes do Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiente (Sisma) referente ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e que está tomando todas as providências necessárias e cabíveis para apurar os fatos apontados pela categoria.

Sobre a administração do Samu, a prefeitura de Várzea Grande, afirma que o serviço é um projeto de gestão estadual. “O município tem sua frota própria de ambulância para transporte interestadual de pacientes. Quando o Estado adotou o modelo na reunião bipartite ficou estabelecido que o Estado de Mato Grosso seria o gestor único do programa”.

Até o fechamento dessa edição, a prefeitura de Cuiabá não havia se pronunciado sobre o tema.

Confira mais na edição 588 do jrnal impresso

Cintia Borges

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