Próximo de completar 60 anos em 28 de dezembro, Denzel Washington pode se gabar de ser um dos mais longevos e respeitados atores de Hollywood adeptos dos filmes de ação. O astro de "Protegendo o Inimigo" (2012) e "O Livro de Eli" (2010) estreia nesta quinta-feira (25) como o anti-herói de "O Protetor", e dá indícios de que está longe de abandonar o gênero.
O personagem escolhido por ele para retornar à pancadaria é Robert McCall, um ex-agente secreto que tenta se livrar de seu passado misterioso levando uma vida banal em Boston, nos Estados Unidos. A superprodução de cerca de US$ 50 milhões é inspirada numa série de TV dos anos 1980, "The Equalizer", que trazia o britânico Edward Woodward (1930-2009) no papel do protagonista.
Ao atualizar a trama, Washington convidou para assumir o projeto o diretor Antoine Fuqua, o mesmo que o conduziu em "Dias de Treinamento" (2011), trabalho com o qual ganhou o Oscar de melhor ator. Na versão da dupla, pequenos detalhes dão pistas de que McCall não é o homem ordinário que demonstra ser.
"Durante o estudo do roteiro, decidimos que ele [o personagem] teria um comportamento obsessivo", disse Washington. "A maneira como McCall dobra os guardanapos ou como coloca os garfos sobre a mesa, usamos isso para dramatizar o seu passado." Ele se refere a uma cena específica, que se repete diversas vezes na primeira meia hora de exibição.
São os primeiros indícios de que há algo esquisito com McCall. Todas as noites, ao invés de dormir, ele repete o mesmo ritual: embrulha um saquinho de chá num guardanapo, deixa sua casa em direção a uma daquelas típicas lanchonetes dos Estados Unidos, senta-se sozinho, ajeita milimetricamente os talheres sobre um guardanapo, aguarda o garçom lhe trazer a água quente para preparar a infusão, abre um livro e lê.
Mesmo Teri (Chloë Grace Moretz), a jovem prostituta com quem troca duas ou três palavras, integra sua entediante rotina. Numa ocasião, no entanto, a moça aparece com o olho roxo e McCall decide quebrar o protocolo e acompanhá-la até sua casa. No caminho, eles são interpelados por dois cafetões –na verdade, aterrorizantes mafiosos russos. O protetor terá de livrar a amiga dos malvados.
Dali para frente, qualquer descrição estragará a surpresa. Mas pode-se dizer que "O Protetor" não é para fracos: na primeira e inesquecível cena de luta, Washington comete um dos assassinatos mais cruéis exibidos recentemente no cinema
Seriedade
Mas, mais do que tiros e explosões, é sua interpretação o que mantém o expectador vidrado na tela do cinema, por inverossímeis que sejam algumas situações –e há dezenas de momentos nos quais tudo está à beira do caos. A figura de Washington transmite a seriedade que o distingue de outros parceiros de pancadaria.
"Quando represento, não penso se estou fazendo um filme de ação. Para mim, essas categorias não existem. Não sei o que isso significa", afirma. "Vim do teatro, meio no qual aprendi a desenvolver o personagem. Ao criar suas características, preciso saber quem é esse cara e faço perguntas como: 'O que aconteceu com ele? Por que vai a uma lanchonete às 3h da manhã para ler um livro?'. O interessante de 'O Protetor' é que nunca conhecemos muito bem McCall. Sabemos apenas que ele quer ajudar as pessoas."
Essa aura de mistério que envolve o ex-agente secreto destoa de outras produções do gênero, onde cada sequência costuma ser explicada em detalhes. Em entrevistas, Antoine Fuqua costuma mencionar o cinema europeu como uma de suas referências para fugir do formato hollywoodiano. "As pessoas são inteligentes", afirma. "Na vida real, a imaginação costuma ser algo bem mais potente do que o que podemos mostrar na tela. Não contamos tudo sobre McCall porque é assim que a vida funciona", diz Fuqua.
A verdade é que há outras intenções por trás da falta de explicação sobre os motivos que levaram Robert McCall a abandonar a função de agente secreto. Tanto o ator quanto o diretor desejam transformar "O Protetor" em uma franquia. Como é a repercussão entre o público quem determina se um filme terá ou não uma sequência, ambos são cautelosos ao tratar do tema.
"O público decidirá se McCall voltará", despista Fuqua. "Se as pessoas gostarem, e tivermos um bom roteiro, faremos novamente", confirma Washington. Certamente, ambos estarão de olho nos números de bilheteria deste fim de semana.
UOL