Quando a gente deixa de mandar no tempo, tem que dar tempo ao tempo.
Entre o “vou ali” e o “estou chegando”, que quase nunca acontece, os fatos e acontecimentos vão tecendo uma teia de informações, necessidades e deduções que servem como desvios inequívocos à proposta inicial. Qual era mesmo?
Se e quando a teia te segura, só tem uma maneira de mudar o rumo: rompendo.
Foi o que fiz nessa tarde de quarta-feira na trégua entre uma chuvarada e outro alagamento. Danem-se intervenção, movimento, edição, grampolândia, paletó, vídeos, fotos, Detrans, PF, prende-solta, STF…
Fui aí, fui à praia! O caminho para Ipanema já denota um clima mais tranquilo. Menos vai-e-vem. Esquece. Não é por causa da escalação de um militar para bater bola com Pezão, nosso hábil e impoluto governador.
É fim de temporada, menos turistas e retorno às aulas. Foram-se as férias. A lembrança mais frequente e barulhenta do verão são ambulantes aos montes. Antes da peneira natural que separará os vendedores tradicionais e de fé dos de temporada, os que não resistem ao marasmo do pós- carnaval.
Como estou em débito no quesito crônica semanal aproveito para diminuir a desvantagem falando, entre outras coisas de… carnaval.
O mundo carnavalesco aguarda, com a mesma ansiedade que eu (aquela que faz o tempo não passar), o resultado de uma plenária da Liesa, a Liga das Escolas de samba, do Grupo Especial do Rio de Janeiro que acontecerá hoje! Daqui a pouco.
O ser ou não ser da questão posta na mesa dos “eleitores” presidentes das escolas do dreamteam carioca é (mais) uma alteração no resultado do carnaval 2018.
Pelo regulamento duas escolas deveriam cair para o Grupo de Acesso, subindo sua campeã para o Especial. Voltando, assim, ao número original de agremiações.
Esse equilíbrio, de 6 escolas por noite, deixou de existir ano passado quando a mesma plenária da Liesa decidiu não rebaixar as envolvidas nos acidentes com os carros alegóricos, a Unidos da Tijuca e Paraíso do Tuiuti, que marcaram o espetáculo em 2017.
Para esse ano a regra estabelecida era a queda de duas escolas só que, assim como a Paraíso do Tuiuti surpreendeu chegando ao vice-campeonato, do outro lado da tabela, a Grande Rio foi abatida por um problema em um de seus carros alegóricos que nem sequer chegou a entrar na Sapucaí.
Na véspera da apuração já corria um zumzumzum que haveria alteração e a escola de Caxias e, por tabela, o Império Serrano, também na lanterna, seria beneficiada.
O lobby na mídia dava conta, antes da primeira reunião da Liga após o carnaval, que a decisão era pule 10 e estava tomada por unanimidade. Portela e Mangueira avisaram que eram contra. O martelo ficou para ser batido numa plenária extraordinária marcada para daqui a pouco.
Imaginem a repercussão do fato, suas consequências e como está reverberando no mundo do samba. Para a maioria o “perdão” representa (mais) uma desmoralização para o carnaval carioca. Só que… apenas poucos e seletos votos são computados para resolver a demanda.
A dedução é sua, caro leitor. O que faria os envolvidos na questão tomarem uma medida que, claramente, desmoraliza a seriedade do julgamento e desgasta a imagem da Liesa?
Um reflexo dos tempos… Apenas duas escolas votaram pela manutenção do regulamento. Grande Rio e Império Serrano ficam no Grupo Especial. Tal “providência” foi suplicada pela maioria absoluta dos presidentes, de acordo com o ofício do prefeito Crivella informando não se opor ao aumento do número de escolas no Grupo Especial. Por que será?
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É Carnaval”, do SEM FIM… delcueto.wordpress.com