Em Brasília, o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves presta homenagens a pessoas cujos restos mortais acham-se sepultados em outro local. Lá está o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria que registra, por meio de lei, nomes de “brasileiros ou de grupos de brasileiros que tenham oferecido a vida à Pátria, para sua defesa e construção, com excepcional dedicação e heroísmo”.
Neste ano, no 150º aniversário de Rondon, foi sancionada a Lei 13.141 que autoriza a inscrição do nome do humanista no livro de heróis. Hoje, são 43 nomes, liderados por Tiradentes. Dentre os homenageados, somente três são mulheres: Anna Nery, Anita Garibaldi e Bárbara Pereira de Alencar.
O indígena Sepé Tiaraju ou “Facho de Luz” está entre os heróis da pátria por liderar violentos conflitos de 1750 a 1756 com soldados das Coroas portuguesa e espanhola que se uniram para exterminar os Guaranis contrários ao Tratado de Madri. O acordo trocou os territórios dos Sete Povos das Missões com a Colônia de Sacramento, que passaram a pertencer a Portugal e Espanha, respectivamente. Em consequência, 50 mil índios catequizados foram obrigados a abandonar suas terras ancestrais. Tiaraju se recusou a deixar o solo brasileiro e a se transferir para o outro lado do rio Uruguai.
Sepé, à frente da resistência Guarani, em 1756 tombou em combate no local chamado Batovi, hoje São Gabriel. Dias depois, 1.500 foram trucidados na Batalha Caiboaté. Desfez-se um sonho de uma sociedade cristã, mas a frase pronunciada por Sepé durante a resistência Guarani se perpetuou: “Esta terra tem dono”. Na França, entre a morte de Sepé Tiaraju e a expulsão dos jesuítas da América do Sul, o filósofo Voltaire pronunciou: “A experiência cristã das Missões Guaranis representa um verdadeiro triunfo da humanidade”.
Sobre o mito do herói nacional, o historiador Paulo Miceli escreveu: “Os heróis pertencem a seu tempo e do meu ponto de observação o que eu vejo hoje em termos de heróis é muito pouco alentador. Vivemos um mundo de covardes…”.