Era uma manhã de sol na cidade na cinza. Uma manhã calma, diferente das outras manhãs. Morava em Island Gardens, próximo ao centro financeiro de Londres, com aqueles prédios enormes que não param de trabalhar dia e noite. Seguia no metrô perdido em meus pensamentos. Meu escritório ficava na então ainda nem tão famosa e fashion Brick Lane. Era um quadradinho sem janelas, de 2 por 2, muito bagunçado, mas muito estiloso: uma mesa feita de cavalete com uma tábua cheia de manchas de tinta, uma poltrona de Lord achada na frente da minha casa, cartaz do Al Pacino na banheira naquele filme Scarface, e muitas, muitas revistas especializadas. Era uma fase de transição. Havia me afastado das raves vampiras, meus amigos estavam de volta ao Brasil, focado em meu trabalho. Nem passava pela minha cabeça voltar para Cuiabá. Até chegar na Estação de Liverpool Street.
Escutando Rolling Stones com o volume no alto, mal noto que o Metrô não estava parando em nenhuma parada. Em Londres, uma ou outra estação fechada é até normal por causa do alerta laranja, e das frequentes mochilas esquecidas nos cantos das estações. O zum zum das pessoas dentro do Tube me chamou a atenção. Estamos chegando na estação final, Liverpool Street. Nas caixas de som, uma atendente aparentemente nervosa pede que todos evacuem o metrô em ordem. E indica que a única saída aberta era a norte. Meu coração disparou. Pego meu celular pra ligar pro Marcelo, sem sinal. Pergunto o que está acontecendo para uma loira ao meu lado, ela responde com toda gentileza inglesa.
– I dont fucking know nothing. Nobody know, fuckhead.
As pessoas caminhavam calmamente até chegar na saída Norte da estação, que dava exatamente na rua que dava a estação: milhares de pessoas nas ruas, todas sem saber o que estava acontecendo, sendo enxotadas por policiais a cavalo. O semblante de pânico parecia um uniforme a qual todos eram obrigados a vestir. Para piorar a situação, um helicóptero dos bombeiros aterrissa em frente à estação, no meio da rua, quase em cima das pessoas. Seguro uma senhora que está ao meu lado para não cair. Sai uma maca com um corpo ensanguentado correndo pela porta da estação. Coloca a maca na aeronave e fala:
– Wait. Unfortunatle have more people injuried.
