Para a psicopedagoga Zoraide Figueiredo, o descaso das escolas para com o problema que se agrava diante dos olhos é evidente, o que pode significar negligência por parte dos gestores. Ainda de acordo com a psicopedagoga, não é novidade para ninguém a organização de jovens nas redes sociais mostrando seus feitos violentos.
Para a especialista, já passou da hora de o Estado trabalhar a prevenção dessas atitudes. “Não é concebível que se ignore este problema de violência tão sério diante dos olhos. A direção da instituição tem de se preocupar, além de organizar o ambiente escolar, e também cobrar mais efetividade dos gestores”, cobra a profissional.
O sociólogo Naldson Ramos, doutor e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), acredita que o enfraquecimento da sociedade e dos valores constituídos com ela levou a este cenário devastador. A falta de referenciais familiares também colabora para o fortalecimento das atitudes negativas dos jovens.
Tudo isso, aliado às péssimas condições das instalações, ainda contribui para baixar a autoestima dos alunos e fomentar a revolta e a violência. “Um ato de violência por si só não justifica ou explica essas atitudes; é, sim, uma situação que a gente chama de abandono dessas crianças pela família e pela própria sociedade, e pela ausência de políticas públicas e às vezes até mesmo pelos próprios professores”, enfatiza o sociólogo.
Já na questão que se refere aos professores, Naldson Ramos faz questão de ressaltar que a falta de condições do profissional por muitas vezes o faz tratar os alunos de forma homogênea, sem levar em consideração suas necessidades individuais, o que gera ainda mais um sentimento de autoafirmação nesses jovens. Sem identificar os padrões de comportamento dos quais está se desviando, o jovem acaba se sentindo ainda mais sozinho e sem uma devida orientação também nas escolas para tomar as suas decisões.
Ainda bastante assustados com a morte recente do jovem, pais de alunos da escola Gastão Muller se aglomeram na porta da instituição para buscar seus filhos. Para a dona de casa Anain da Silva, manter a filha de 8 anos na escola tornou-se uma preocupação. “A gente traz o filho para a escola e não sabe o que pode acontecer com ele, é muito difícil conviver com esta violência em um local que deveria ser somente de educação e tranquilidade para os pais”, desabafou.
Já o segurança aposentado Valmir de Melo atribui o problema das escolas ao abandono do Poder Público em relação aos mais necessitados. “É só você olhar esta escola para ver que tem como entrar facilmente e fazer o que quiser. O mato toma conta e o muro baixo não protege as crianças. E outra: são as professoras que abrem o portão para a entrada e saída dos alunos. Se um guri tenta entrar aqui armado, o que elas poderão fazer?”, questiona o pai indignado.