Texto e foto de Valéria del Cueto
Meio de junho. O decreto de isolamento social foi na metade de março por aqui. Noventa dias sem, praticamente, botar os pés fora de casa. O local, um dos epicentros da Covid-19 no Rio de Janeiro, Copacabana.
No momento vivemos num efeito sanfona, com um abre e fecha desritmado. Os governos municipal, estadual e federal não se entendem. Nem o Judiciário.
Não deu uma semana entre a batida da Polícia Federal na vida do governador Wilson Witzel e ser dado andamento a um processo para seu impeachment por parte dos parlamentares da Assembleia Legislativa.
Em Mato Grosso a Covid-19 está se apresentando agora. A onda avança.
E eu aqui. Vendo a vida passar com minha mãe. Em muitos sentidos. E em várias dimensões. Explico…
Aprendi um truque sábio: encher o pensamento e as ações com tarefas de rotina. De preferência monótonas, mas que prendam a atenção e não deixem ficar dando voltas no problema existencial.
Pensei nessa vibe quando me dispus a atualizar o ‘No Rumo do Sem Fim”. Havia um gap de anos no material inicialmente publicado numa plataforma que foi extinta, o multiply, lembra? Pois é.
É o material das fotos, textos, vídeos e áudios que estou recuperando e organizando. Nesse momento viajo nas postagens de 2009, em pleno carnaval! Na busca das imagens correlatas que revejo meus afetos.
Daqui a pouco seguirei para as postagens de Uruguaiana, seu carnaval fora de época e a Estância São Lucas. Antes de seguir para Mato Grosso, logo depois. Foi lá que voltei a ficar agarrada numa curva do Rio Cuiabá durante um bom período nessa época.
Sim, amigos, existem mundos paralelos. Assunto de um grupo bem restrito de whatsapp dia desses. Acho que além dos que estão em estudo, cada um pode criar seu(s) próprio(s)mundo(s) paralelo(s).
Enquanto corrijo os links das postagens adiciono os players de áudio e vídeo e procuro as imagens indicadas nos códigos HTMLs, nos antigos arquivos, revisitando o material, deixo a TV ligada. Normalmente num filme que já assisti. E só paro a edição quando “aquela cena” vai acontecer.
Outra opção é abrir a playlist de vídeos do mar no canal @delcueto, no Youtube, e deixar as centenas de registos em looping. Também ouço lives enquanto (per)corro os HDs em busca das imagens perdidas.
O trabalho é maior porque como seguro morreu de velho, realinho no arquivo, posto no Sem Fim e, quando o assunto é carnaval, no acervo carnevalerio.com. Precisa de muita atenção. Tanto quanto na faxina do apartamento, acredite.
Ainda não troquei a noite pelo dia, como alguns amigos, mas durmo muito tarde. Até às 14h me organizo. Trabalho direto até às 17:30h. Almoço e parto para dentro de novo, trocando os filmes pelo noticiário. Esse, só uma vez ao dia, a não ser em casos excepcionais (o que não tem faltado ultimamente).
Não tendo onde caminhar tomo sol no telhado do prédio. Daqui também não vejo o mar. Meu visual é o PPG, sigla das favelas Pavão/Pavãozinho/(Canta)Galo. Graças a Deus tranquilas, ultimamente.
Das rádios da comunidade ouço as músicas que podem ser gospel, se for no fim de semana, funk ou um samba. Agora, ouço Serginho Meriti.
É dia bom. Feriado de Corpus Cristi. O visual é um contraste das coberturas endinheiradas da Sá Ferreira no plano mais próximo e dos barracos da comunidade ao fundo. Quando o assunto é música, a favela dá de dez no repertório se comparado com os das festas que já presenciei nas varandas de alguns apartamentos. Vida que segue…
Aí pergunto a você leitor, se posso viajar no espaço e no tempo em várias direções, por que cargas d´águas me limitaria a ficar só nessas pandemias, a do vírus e a da ignorância, que nos assolam nesse momento?
Abri as asas…
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com