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Sem o serviço de coleta seletiva, recursos acabam no lixo

Foto Ahmad Jarrah

Mesmo com a volumosa geração de resíduos sólidos, que gira em torno de 560 toneladas por dia, Cuiabá ainda não conta com uma estrutura adequada para a coleta dos materiais recicláveis. Além das perdas financeiras, já que muito do que poderia ser reaproveitado acaba indo para o lixo, a ausência da coleta seletiva causa grandes impactos ao meio ambiente e compromete os aterros sanitários. 

Segundo informações da diretoria de Resíduos Sólidos do município, apenas cerca de 150 toneladas dos descartes são destinados para reciclagem. O serviço, que ainda acontece de forma bastante tímida, conta com a participação de três cooperativas, uma associação e tem a parte de transporte e logística gerenciada pelo município.      

Aproximadamente 80 pessoas atuam na linha de frente da coleta, triagem, separação e encaminhamento do material reciclável. “Trabalhamos em parceria com as cooperativas fazendo o transporte do material. Eles fazem a coleta e todo o restante do processo de triagem, fardamento e venda do material. Tudo isso é feio pelas cooperativas, sem nossa interferência”, diz José Abel do Nascimento, diretor de Resíduos Sólidos. 

Desperdício de recursos 

Atualmente, 20 pessoas trabalham na Cooopemar – uma das cooperativas de Cuiabá. No entanto, esse número poderia ser bem mais expressivo (assim como a quantidade de material coletada), se existisse na cidade uma política de incentivo, que proporcionasse mais estrutura à atividade de reciclagem.

“Se a gente tivesse estrutura, dava pra colocar mais de 50 pessoas pra trabalhar aqui e coletar um volume muito maior de materiais. Tem muita coisa para ser reciclada que acaba sendo enterrada. A prefeitura paga pra enterrar dinheiro”, diz o presidente da Coopemar, Wanderley Cavenaghe, que trabalha na área há mais de 20 anos.  

Valores

Além de impactar o meio ambiente, colocando em risco a saúde da população, grande parte dos materiais que acabam sendo aterrados têm expressivo valor comercial. Os preços variam bastante: a tonelada do papelão, por exemplo, custa em média R$ 200. Já a tonelada do plástico, atualmente chega a valer até R$ 1.300. Os salários recebidos pelos cooperados também varia, de acordo com o volume de vendas. Segundo o presidente da Coopemar, atualmente cada um recebe cerca de R$ 1.250. Cabe destacar, mais uma vez, que esses recursos desperdiçados poderiam ser revertidos em empregos e renda.   

Educação ambiental

Não falta apenas estrutura nas cooperativas para que os recursos provenientes do descarte possam ser melhor aproveitados. Também é preciso que a população participe efetivamente deste processo. “Nas ruas a dificuldade é muito grande, porque as pessoas não têm informação e não colaboram. Acho que o município deveria fazer campanhas educativas e divulgar isso na mídia, pras que as pessoas fizessem sua parte”, avalia Cavenaghe.   

Para o diretor de Resíduos Sólidos, é preciso aguardar que o município tenha estrutura para receber a demanda antes de incentivar a população a fazer a separação do lixo. “Depois que tivermos todo o aparato necessário, podemos começar esse processo de conscientização. Senão, você gera uma expectativa na população e não tem como atender essa demanda”, pondera Nascimento. 

“Cuiabá realmente é deficitária na área de coleta de recicláveis. Existe um novo contrato para aumentar o setor e a área da coleta seletiva. Hoje são dois caminhões fazendo este serviço, e eu imagino que dentro de um ou dois anos, esse número deve chegar a oito ou dez caminhões. Mas isso depende do andamento do projeto”, diz Romualdo Souza, gestor da Ecopav, empresa responsável pelo transporte do lixo e dos materiais recicláveis na cidade. 

Melhorias 

Ainda de acordo com a diretoria de Resíduos Sólidos, a PPP que está em andamento prevê a construção de três barracões, aquisição de mais caminhões, manutenção e compra de novos equipamentos, como elevadores e esteiras. “Com essa reestruturação, a gente espera quadruplicar o volume de material coletado”, afirma Nascimento.  

Ecopontos 

Também está prevista a construção de oito ecopontos. Estes são espaços criados para facilitar a destinação correta de resíduos volumosos e pequenos volumes de resíduos da construção civil. Atualmente, a cidade conta com apenas um ecoponto, no CPA III.   

Aterro sanitário 

Assim como em grande parte dos municípios brasileiros, o aterro de Cuiabá não cumpre os requisitos exigidos por lei federal. No ano passado, foram realizadas audiências públicas para elaboração do documento que constará no edital da licitação que vai definir a empresa ou consórcio responsável pelos referidos serviços. 

Uma Parceria Público Privada (PPP) prevê a remediação do Aterro Sanitário de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O Governo Federal estendeu o prazo até 2018 para a total regulamentação dos aterros de todo o País. “Com a PPP teremos um novo planejamento administrativo e de cooperação para o gerenciamento do aterro, com recursos do município e da iniciativa privada”, informa Nascimento.  

Presença de catadores

Este é um dos problemas ainda são solucionados: a presença irregular de pessoas que recolhem materiais no aterro. Na teoria, não é permitida a entrada e permanência de catadores no local, mas ainda não existe nenhum controle nesse sentido.  De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, a intenção é incorporar esses trabalhadores às cooperativas, para garantir condições mais humanas e salubres de atuação. 

No entanto, há grande resistência por parte dos catadores, que alegam faturar mais trabalhando por conta própria. “Lá eles ganham um pouco mais e também são indivíduos que não aceitam ser governados nem fazer parte de cooperativas ou associações. Eles querem ser autônomos e fazer suas próprias rotinas, mas isso não pode acontecer dentro do aterro, por isso em breve vamos tomar algumas providências”, diz o diretor de Resíduos Sólidos.  

Estrutura 

A gestão administrativa, a fiscalização e o monitoramento do aterro sanitário, que funciona 24 horas por dia, são serviços de alçada da prefeitura. Já a parte operacional é terceirizada, atualmente tendo a empresa EuroMáquinas como responsável. São apenas oito funcionários na linha de frente, além de um gerente e um coordenador na parte administrativa. 

Para os serviços de destinação final do lixo, são utilizados oito caminhões, duas escavadeiras hidráulicas, duas pás-carregadeiras, quatro tratores de esteira e uma moto-niveladora. Em breve, uma nova empresa que venceu o processo licitatório deve assumir a frente dos serviços. 

Coleta do lixo comum

Com o fim do contrato com a empresa Delta, que executava a coleta de resíduos sólidos em Cuiabá, a ECOPAV Soluções Urbanas assumiu a responsabilidade de realizar a coleta na capital em janeiro de 2012, e desde então continua à frente dos serviços. O contrato vale por cinco anos, sendo necessária a renovação anual. 

A empresa presta o serviço de aluguel dos maquinários utilizados na coleta e também gerencia os funcionários que prestam o serviço. Atualmente, a tarefa de manter a cidade limpa é realizada por aproximadamente 300 colaboradores, entre motoristas e coletores, que atuam com uma frota de 36 caminhões (30 em atividade e seis de reserva) e um trator.

Acesso para a coleta

Uma das dificuldades apontadas pela empresa para a prestação de um serviço de qualidade é a falta de estrutura da malha viária, principalmente em bairros periféricos. Devido à ausência de pavimentação, os caminhões não conseguem acessar um grande número de ruas. “Em alguns locais que não têm pavimentação, o acesso fica complicado e é preciso fazer a coleta com um trator. Essa é uma das nossas dificuldades, principalmente em época de chuva”, diz o gestor da Ecopav. 

Dias de coleta

As coletas acontecem todas as segundas, quartas e sextas-feiras, no período diurno, na região Norte e no período noturno na região Oeste de Cuiabá. Às terças e quintas- feiras e aos sábados, a região Sul é atendida. 

Confira a reportagem na edição 571.

Thales de Paiva

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