A brasiliense Pâmella Carneiro da Cruz, de 27 anos, não tem nenhum conhecido na Rússia, não fala o idioma do país e nunca enfrentou um inverno rigoroso, mas neste domingo (26) ela embarca para estudar medicina pelos próximos seis anos em uma cidade a 500 km de Moscou. Durante o período, ela vai ter aulas seis dias por semana em período integral com outros 11 alunos de todo o mundo na Universidade Médica Estatal de Kursk, considerada uma das melhores pelo governo do país.
Formada em fisioterapia, Pamela vai se juntar a outros 350 brasileiros que estão matriculados na universidade. O governo russo subsidia parte da bolsa de estudos para alunos internacionais. O preço cobrado por semestre chega a R$ 7,6 mil e inclui gastos com faculdade, moradia e plano de saúde.
Pâmella conta que assim que terminou a residência médica, em março deste ano, se matriculou em aulas de pré-vestibular determinada a ingressar em um curso de medicina na Universidade de Brasília (UnB). No meio do ano, o processo seletivo da instituição teve 3.620 candidatos disputando 36 vagas. Foi nessa período que a fisioterapeuta soube da possibilidade de estudar na Rússia e se candidatou para o curso, cuja seleção é feita por uma agência que representa as universidades russas no país.
Depois de enviar a documentação e passar por uma entrevista com a família, Pâmella foi uma das 98 selecionadas – 638 jovens haviam se candidatado. Desde então, ela vem buscando se informar sobre o país, já que não tem muitas referências da Rússia. “Não sei nada do idioma. Já peguei para ler alguma coisa a respeito, li o alfabeto, mas é muito diferente você aprender em sala de aula”, diz.
O curso é ministrado em inglês, mas os alunos também assistem a aulas de língua russa. Antes de começar a graduação, Pâmella e outros 11 alunos brasileiros vão fazer faculdade preparatória de medicina com aulas de ciências biológicas, para se adaptar à metodologia do país.
“O bom de fazer aulas em inglês é que você fica com a fluência boa. Com isso, você pode se comunicar em qualquer lugar do mundo. Eles também são muito exigentes, dizem que fazem provas escritas e orais todos os dias, que você tem que estudar antes de ir para a aula. Isso é bom porque melhora a qualidade de ensino”, conta.
A estudante diz que está preparada para encarar as diferenças culturais, mas afirma que está com os "pés no chão". “Estou ansiosa, feliz de ir. Mas não estou esperando nada demais. Estou esperando ter alguns choques culturais, vou ter que observar muito bem”, afirma. “Dizem que os professores são muito rígidos, que tem que levantar quando eles entram na sala de aula. Aqui, tem professor que vai ao bar com o pessoal. Acho que lá não é assim.”
“Sobre os russos, já ouvi diferentes opiniões. Tem pessoas que falam que são muito gentis. Outros falam que são meio desorganizados, meio brutos. Mas prefiro não julgar por isso, prefiro chegar lá, ver, e descobrir como as coisas funcionam.”
Quando voltar para casa, Pâmella e todos os estudantes brasileiros terão de submeter o diploma a um processo de reconhecimento em uma universidade brasileira. Segundo a Aliança Russa, o documento obtido na Rússia é reconhecido em toda a União Europeia. Pelo Tratado de Bolonha, que unifica o ensino superior na Europa, os alunos podem fazer residência e atuar em qualquer país do bloco. A validação, que antes custava R$ 12 mil por conta da tradução e legalização do conteúdo programático, atualmente não chega a R$ 1 mil.
Com especializações em acupuntura e oncologia, a estudante diz que, mesmo com a nova formação, não pretende deixar a prática de fisioterapia quando retornar ao Brasil. “O contato com as pessoas é muito bom, principalmente a parte da reabilitação. Posso intervir na sociedade, ajudar uma pessoa a voltar a andar, ajudar uma pessoa a comer", afirma. "Ver uma pessoa que foi amputada colocar uma prótese e caminhar pela primeira vez é muito bom, é gratificante.”
A Aliança Russa informou que outros 11 alunos brasileiros formados em medicina na Rússia conseguiram entrar para o progama Mais Médicos. Além dela, embarcam para a Rússia neste domingo outros 15 estudantes brasileiros – 11 vão cursar medicina, e 4, relações internacionais.
G1