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Sem atendimento adequado, autistas são amarrados a camas

Lidar com os sintomas mais graves em pessoas com autismo, como a agressividade, é uma preocupação comum a muitas famílias que convivem com o transtorno. Em Alagoas, a situação fica mais difícil diante de uma estrutura de diagnóstico e tratamento ainda precária. Há poucos centros de atendimento específico na rede pública estadual e, em casos extremos, os pacientes vivem amarrados em uma cama ou trancados em um quarto.

É o caso de um adolescente de 14 anos que mora no Lar Santo Antônio de Pádua, localizado no Conjunto Village Campestre, no bairro Cidade Universitária, em Maceió. Ele é autista, morava com o irmão e o pai e passava a maior parte do tempo trancado no quintal de casa. Como o pai trabalha durante o dia e não tem como cuidar do garoto, ele foi para o abrigo.

Ele já passou por vários psicólogos e psiquiatras e foi diagnosticado com o grau mais avançado da doença. Como não temos pessoas suficientes, ele fica amarrado para não tirar a própria vida. Ele é agitado e pode bater a cabeça na parede até sangrar. Sei que é triste, mas fazemos o possível. Ele toma medicações, mas ainda assim precisa ficar amarrado. Eles são atendidos pela rede pública, mas o atendimento é muito ruim, os médicos só passam remédios, afirma Frei José, responsável pelo abrigo.

De acordo com o Frei José, as famílias dos autistas que estão no abrigo quase nunca aparecem. "A maioria nem recebe visita. O único que recebe é o adolescente que ficava trancado no quintal de casa, mas de uns tempos para cá o pai não está vindo muito. É muito triste porque os pais não sabem como lidar com a doença e aqui nós fazemos de tudo para que eles tenham conforto, carinho e segurança", afirma.

O Estado não dispõe de nenhuma unidade de saúde especializada em autistas, mas apoia as unidades municipais e privadas. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), uma portaria publicada em 2011 estabeleceu que esse tipo de atendimento é de responsabilidade das prefeituras. "Nós prestamos consultorias e capacitamos os profissionais. Não temos nenhum centro específico para atender a essas pessoas, esse tipo de atendimento é de responsabilidade do Município", diz o gerente de Saúde Mental de Alagoas, Berto Gonçalo.

De acordo com assessoria de comunicação da Sesau, a Rede de Atenção Psicossocial do Estado de Alagoas deve incluir novos serviços para, a partir de 2015, atender a pessoas autistas junto à família e comunidade e de maneira integral.

Em Maceió, segundo a psicóloga Silvana Alcântara, da coordenação de Saúde Mental da prefeitura, oito instituições são credenciadas para atender a pessoas com autismo, mas apenas três oferecem tratamento diferenciado: dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que inaugurou em abril deste ano o Centro Unificado de Integração e Desenvolvimento do Autista (CUIDA).As outras unidades são ONGs que possuem convênio com o Município.

"Reconheço que o atendimento não é ideal, mas essa realidade não é apenas em Alagoas, é em todo o Brasil. O município tem convênios com ONGs, mas é preciso mais locais para atender a todos os casos", avalia a psicóloga. Para quem tem autismo, cada minuto é significativo. Quando o diagnóstico é tardio, a doença piora e fica muito complexa a intervenção. Quando o diagnóstico é fechado, é possível procurar atendimento na rede pública, mas a demora nesse atendimento varia de caso para caso", afirma a psicóloga.

O atendimento a esses pacientes é composto por psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros. Entretanto, o Município não soube informar a quantidade exata de profissionais na área ou mesmo o número de vagas disponíveis e a demanda do setor. Questionada sobre possíveis melhorias no atendimento a esses pacientes, a Secretaria Municipal de Saúde também não informou se havia algum planejamento neste sentido.

O G1 visitou algumas unidades que oferecem tratamento específico a autistas. De acordo com a psicóloga e coordenadora geral do CUIDA, Fabiana Lisboa, o Centro conta com 28 profissionais divididos em assistente social, técnicos em enfermagem, psicólogos, terapeuta ocupacional, terapeuta de integração sensorial, fisioterapeuta, fonoaudiólogos, pedagogos, educador físico, musicoterapeuta, nutricionista, psiquiatra e neuropediatras.

O Centro atende a cerca de 100 pacientes por mês e aposta em uma terapia com objetivos bem definidos e em sintonia com médicos, terapeutas, família e escola, utilizando métodos específicos para o transtorno do espectro autista. O CUIDA funciona hoje com a sua capacidade máxima de pacientes, mas quem quiser pleitear uma vaga, pode entrar com o serviço social da APAE pelo telefone (82) 3435-1461.

G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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