Áudio vazado pela senadora Selma Arruda traz mensagem do jornalista Kléber Lima falando sobre tentativa de acordo extra-judicial do empresário Junior Brasa por meio do deputado estadual Wilson Santos para reverter dívida de campanha, questão que está tramitando na Justiça
O arquivo com pouco mais de dois minutos tem uma fala de Kleber Lima, ex-marqueteiro de Selma Arruda, informando sobre conversa com o deputado Wilson Santos (PSDB) e o empresário Junior Brasa com a oferta acordo.
“Doutora Selma… eu vou transmitir uma informação para a senhora por desencargo de consciência, eu, particularmente , não… até já disse pra pessoa que a senhora não tinha interesse, mas minha consciência está me acusando porque eu não consultei a senhora. O [Junior] Brasa procurou o Wilson Santos, e ele, Wilson, me chamou lá ontem, pra propor um acordo com a senhora. Ele [Brasa] estaria sendo procurado pelos advogados das outras partes [no processo] para que ele pudesse testemunhar pra essas pessoas e tal. Mas, que ele não tem interesse, o interesse que ele tem seria de resolver com a senhora”, diz.
“Aí, eu falei pro Wilson: ‘Tá, quantos ele quer pra resolver?’ Ele falou: ‘Ó, R$ 600 mil’. Eu disse pro Wilson, textualmente, que eu acho que o Brasa não vale mais nada, nessa altura do campeonato porque a ação que incomoda a doutora, a ação da impugnação do registro, não é dele [originada por Brasa] mais”.
Na apresentação de novos documentos à Justiça Eleitoral, a senadora afirma que Wilson Santos teria intermediado uma negociação entre o empresário Junior Brasa e o assessor Kleber Lima, no ano passado, para a ação que deu início ao processo contra ela não fosse ajuizado. Uma quantia de R$ 600 mil teria sido oferecida pela desistência do empresário.
O suposto encontro teria acontecido pouco tempo depois de Junior Brasa, dono da Agência Genius, sair da campanha de Selma Arruda no período eleitoral do ano passado. A função do marketing foi assumida pelo assessor Kleber Lima.
A informação que Wilson Santos teria tentado negociar foi a de gastos, antes do início oficial da campanha, no valor de R$ 1,2 milhão, supostamente feito por Selma Arruda já com serviços ligados à campanha que a elegeu ao Senado. Hoje, o parlamentar afirmou que é amigo de longo tempo do empresário, e foi seu professor na década de 1980, mas negou tentativa de deter informação para chantageá-la.
Wilson Santos (PSDB) prestou depoimento à Polícia Federal (PF) na quarta-feira (13) e negou que tenha negociado com ex-marqueteiros da senadora Selma Arruda (PSL) acordo para chantageá-la sobre a informação de suposto caixa 2 de campanha eleitoral.
“Não tenho a menor noção de onde ela tirou [a informação sobre chantagem], se foi estimulada por algum advogado. O Brasa e o Kleber Lima são meus amigos, mas daí fazer proposta e tentar extorquir alguém… Nunca recebemos do empresário Junior Brasa nenhuma proposta”.
O jornalista Kleber Lima confirmou ao Circuito Mato Grosso a autoria do áudio e afirmou que já de explicações à Polícia Federal.
"Eu estou indignado com essa exposição de uma conversa particular por parte da senadora. Isso é uma quebra de confiança", afirmou Kleber Lima, dizendo ainda que o áudio é claro e que não fala em extorsão, mas de tentativa de resolver uma dívida por meio de um acordo extrajudicial. “Foi muito bom ela ter divulgado o áudio, porque ele é bem claro e não deixa nenhuma dúvida.
Procurado pelo Circuito Mato Grosso, o deputado Wilson Santos enviou a seguinte nota:
"Caríssimos amigos, acho importante comentar a questão do Kleber Lima x Selma Arruda de forma pública. Circula no WhatsApp o áudio em que o tal recado dos 600 mil foi passado, interpretado como chantagem. Tratava-se de ação milionária de cobrança de Jr. Brasa, marketeiro anterior, cuja sugestão de acordo ficaria nesse valor. Bem, Kleber Lima DESACONSELHOU o tal pagamento, por razões óbvias: primeiro que descapitalizaria a campanha da senadora e segundo que não resolveria o problema da cassação no TRE, porque a ação estava proposta e tratava de campanha irregular, extemporânea e abusiva. Fico perplexo como a própria cliente dele vaza um áudio entre si e o profissional que a atende, uma atitude torpe, baixa, oportunista e mentirosa, já que a gravação prova somente a opinião contrária à qualquer acerto, por ser inútil. Eu supunha esse tipo de postura da atual senadora e avisei Kleber à época. Era o que se via como juíza: magistrada que confundia dureza com crueldade e que, como disse uma assessora, priorizava casos midiáticos. Faço votos, francamente, que ela tenha o mandato cassado pelo Poder Judiciário por serem evidentes as provas, tão robustas os documentos que a obriguem a esses expedientes bizarros. Lamento por Kleber Lima. Ainda vou comemorar uma nova eleição para Senado, podendo eleger alguém equilibrado que não faça campanha sobre o infortúnio alheio".