Política

Seiscentos dias de gestão passados a limpo com o governador

Foto Ahmad Jarrah

  Em entrevista exclusiva ao jornal Circuito Mato Grosso, concedida no final da tarde da segunda-feira (04.07) o governador do Estado, José Pedro Taques (PSDB) fez uma grande análise de sua gestão, avaliando temas pontuais e outros um pouco mais espinhosos.Na conversa, Taques confessou que é impossível cercear a corrupção dentro de sua gestão e disse que seu apoio ao prefeito Mauro Mendes para o pleito à prefeitura de Cuiabá este ano depende da resolução final do PSDB.O governador deixou claro que o polêmico Decreto 380 já está resolvido com o empresariado, uma vez que foi suspenso até 2017 e explicou que não tem como resolver os problemas do Estado em um ano e seis meses de mandato.  

Circuito Mato Grosso: O seu governo já atinge 600 dias. Quais setores tiveram mais avanços e por quê?  Na outra ponta, que setores não conseguiram avançar tanto quanto esperado?

Pedro Taques: Penso que qualquer governador é eleito para quatro anos. Uma coisa que eu aprendi na política é ter paciência, a segunda coisa é ter paciência e a terceira é ter paciência. Quando você é eleito para quatro anos, como eu fui, as entregas precisam ocorrer no decorrer do mandato, no entanto eu só posso ser avaliado ao final do mandato. Notadamente, quando você pega um Estado desestruturado, como nós encontramos Mato Grosso, sempre fica o gosto de que você poderia fazer mais, mas as engrenagens do Estado não permitem. Temos a questão econômica, o Brasil passa por uma crise que é a maior crise econômica de sua história e isso já se reflete aqui. Esta crise tem por consequência a diminuição dos repasses do recurso da União, o que reflete na arrecadação, menor volume de negócios no Estado e tudo isso reflete na administração. Eu não tenho a fábrica do dinheiro, eu tenho a chave do cofre e esse dinheiro vem dos tributos, que pertencem ao cidadão. Se o cidadão paga menos impostos isso significa que o Estado terá menos condições de fazer frente às suas necessidades.

C.M.T.: O que seria o Mato Grosso ideal para o senhor? E o que falta para isso? Dinheiro ou vontade política?

Taques: Há áreas que eu entendo que tenham avançado neste um ano e seis meses, sendo que esse avanço não significa que seja o ideal. Não é o ideal, não é o ótimo. Na questão da segurança pública nós chamamos, em três meses, 3550 novos policiais, 1952 policiais militares, 1077 policiais civis, 450 novos soldados para o Corpo de Bombeiros. Isso tem um impacto na folha de pagamento do Estado em um ano de R$ 183 milhões de reais. Nós precisamos de dinheiro para pagar essas pessoas. Temos hoje 8027 policiais militares, o que é um número pequeno, precisamos de 12 mil. Agora, como o déficit veio de longe, não é possível resolver em um ano e seis meses.

C.M.T.: Já que o senhor tocou no assunto segurança, apesar dos investimentos na área, os números de roubos, furtos e homicídios em Cuiabá e Várzea Grande aumentaram. O secretário de segurança afirmou que isso se deve ao aumento de boletins de ocorrência, mas especialistas apontam uma grande crise na segurança pública, com falhas graves no sistema e falta de crença na polícia. E aí?

Taques: Segurança pública não é só polícia, mas como eu disse, nós temos um déficit muito grande de policiais, que não pode ser resolvido em um ano e seis meses. Entre os anos de 2011 e 2014, foram chamados 75 soldados para o Corpo de Bombeiros, enquanto nós chamamos 450 em um ano e seis meses.  A segurança pública você combate com polícia na rua e com políticas públicas. A crise nacional aumenta o número de crimes contra o patrimônio. Não vou debater o que esse especialista disse, pois eu não sei quem é o especialista. Os índices de homicídio em Mato Grosso caíram. Em Várzea Grande, depois da operação da polícia que desbaratou uma quadrilha que matava pessoas, os Mercenários, foram 20 dias sem um homicídio. Em Sinop esse número também caiu. O que o delegado e Secretário de Segurança, Rogers, disse é: quando você aumenta os meios pelos quais o cidadão faz a notificação da prática de crimes – pois agora temos três meios: boletim digital pela internet, nos carros e também na nova Central de Ocorrência na Prainha- as pessoas que não registravam começam a registrar. Mas eu não estou dizendo que diminuímos o número de crimes contra o patrimônio. Nós inauguramos também delegacias de polícia, como a regional de Nova Mutum, a Delegacia de Combate aos Crimes de Gênero, de Tangará da Serra, vamos inaugurar a Delegacia da Mulher em Sinop. Nós alugamos carros para as forças de segurança, civil e militar. Compramos armamentos, compramos coletes à prova de bala, novas viaturas, capacetes e capas para o Corpo de Bombeiros. Agora, mais importante do que cair o número de homicídios é estancar o crescimento. Além disso, editamos dois decretos que foram importantes: um que cria as Regionais Integradas de Segurança Pública, que divide Mato Grosso em áreas, e unificamos o comando da polícia militar e civil na mesma área, para que as ações possam ser praticadas em conjunto. O outro decreto unifica o registro das ocorrências e isso começa a refletir na segurança pública. Concordo que a sensação de segurança é algo que precisa ser combatido. Por mais que você tenha milhares de policiais e uma política pública de segurança, mas, de repente morre uma pessoa em um crime gravíssimo, isso aumenta a sensação de insegurança que perturba em toda a sociedade.

C.M.T.: Como o senhor avaliou a reação de membros do chamado Comando Vermelho à greve dos agentes penitenciários? Foi uma afronta à Segurança Pública? Quais medidas foram tomadas após o ocorrido?

Taques: Assustou a todos nós. Foi gravíssimo esse fato e o Estado respondeu no tempo correto. Os acontecimentos graves ocorreram, os líderes foram identificados e doze horas depois todos já tinham sido afastados e foi feito pedido para transferência para presídios de segurança máxima fora do Estado de Mato Grosso. O ideal seria que isso fosse evitado. E você evita isso com penitenciárias que sejam adequadas a esse tipo de criminoso. Mato Grosso tem 11 mil presos e 6 mil vagas, nós temos um déficit de 5 mil vagas. Como resolver isso em um ano e seis meses?  Se eu tivesse colocado o primeiro tijolo a uma hora do dia primeiro de janeiro de 2015, eu ainda não teria terminado nenhum presídio, mas nós estamos construindo. Serão 1080 vagas em Várzea Grande, podendo chegar a 1500 vagas. Estamos construindo um presídio em Peixoto de Azevedo, Sapezal e também em Porto Alegre do Norte para que nós tenhamos mais espaço para esses presos. Também precisamos de um presídio de segurança máxima para os líderes do crime.

C.M.T: Existe um projeto nesse sentido?

Taques: Sim, existe. Presídio de segurança máxima é um presídio federal. Nós já fizemos pedidos ao Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) para que tenhamos o presídio de segurança máxima aqui. A maior parte dos recursos para o sistema penitenciário são recursos federais. Com a mudança de Ministério isso ficou parado. Era o ministro Cardoso, agora é o Alexandre de Moraes. Eu já fiz uma visita a ele e já fiz esse pedido. Também precisamos de um presídio semiaberto.

C.M.T: A saúde é um grande desafio para sua gestão?  Como diminuir os problemas que afetam o setor?

Taques: Continuando na questão dos avanços. Saúde é atenção básica e primária. Investir nas duas, é função dos municípios, mas o Estado precisa ajudar. Nós apresentamos, ano passado, um projeto de lei aumentando os recursos que o Estado repassa para os municípios, para diminuir o número de pessoas nos hospitais regionais. Nos procedimentos de média e alta complexidade nós temos sete hospitais regionais e precisamos construir mais três. Um no Norte do Araguaia, outro em Tangará da Serra e outro no Sudoeste do nosso Estado. Já estamos com a Unops, que é uma agência da ONU, modelando o projeto para esses três hospitais regionais. Além disso, iniciamos a construção de um hospital em Cuiabá com mais de 300 leitos, em que o Estado está entrando com R$ 50 milhões e o município de Cuiabá com R$ 27 milhões. Já está na segunda laje, então é um avanço. Esses hospitais são importantes, pois há 31 anos não se constrói um hospital público em Cuiabá. Como eu posso resolver o déficit da saúde se em 31 anos quem passou por aqui não o fez. Além disso, repassamos R$ 2 milhões por mês para o Hospital São Benedito, que estava parado há 12 anos. 60% do atendimento ali é de pacientes do interior. Diminuímos a fila nos procedimentos ortopédicos e vamos trabalhar com o cardiológico também. Estamos auxiliando Cuiabá na ala pediátrica do Pronto Socorro e aumentamos os recursos de Várzea Grande de R$ 800 mil para R$ 2 milhões por mês para Pronto Socorro e Upa do Jardim Ipase, pois lá também atendem pessoas do interior. Retomamos o consórcio de Peixoto de Azevedo, Pontes e Lacerda para que as pessoas tenham atendimento perto da sua casa. Mas isso só vai resolver a partir do momento que tivermos hospitais de qualidade. Estamos fazendo a humanização desses sete hospitais regionais que temos.  

C.M.T.: O Ministério Público de Contas apontou que em 2015 houve aumento do índice de mortalidade infantil neonatal.  Faltam leitos de UTI e regularização do fornecimento de medicamentos.

Sobre UTI, nesse período, entre 2010 e 2014, foram instaladas 65 UTI’s em Mato Grosso. Nós, em 15 meses, aumentamos 75 UTI’s. É pouco, nós temos uma déficit muito grande de UIT’s, mas em 15 meses nós fizemos o que foi feito em cinco anos pela gestão passada. Remédios e medicamentos de alta complexidade: Existem três espécies de medicamentos na farmácia de alto custo, um que a União dá o medicamento e esse está faltando; dois, que a União repassa o recurso para o Estado para comprar, esse está faltando e; três, que o Estado compra, esse tem estoque médio de 70% na farmácia de alto custo. Nós precisamos – com o poder judiciário, Ministério Público e defensoria pública – trabalhar um grupo de regulação e conciliação para evitar as liminares nos medicamentos da farmácia de alto custo e nos procedimentos. Nós assinamos um termo de cooperação com o Tribunal de Justiça, com o MP e defensoria para resolvermos isso. Já alugamos um prédio, portanto já avançou um pouco nisso.

C.M.T.: Quanto foi possível avançar até agora na infraestrutura do Estado e o que se pode esperar até o final do seu governo?                 

Taques: Mato Grosso tem hoje 6400 quilômetros de rodovias estaduais pavimentadas. Desde 1748 não pavimentaram tudo isso. Em 2013 e 2014 foram pavimentados 567 quilômetros no Estado. Nós, em 2015, pavimentamos 559 quilômetros de estrada. Nós fizemos em um ano, o que foi feito em dois e pela metade do preço, como o Tribunal de Contas já reconheceu. Nós fizemos, em um ano, 10% de todas as rodovias de Mato Grosso. Precisamos de 8 mil quilômetros de estrada ainda, pra isso eu preciso de R$ 8 bilhões de reais, por isso nós criamos o Fethab II, ou Fethab regional, em que os produtores estão colaborando com mais dinheiros para que possamos pavimentar. Temos o chamado Pró-Estradas, que se divide em construção, reconstrução – não é tapa buraco – e manutenção. Estrada é igual dente e dente estraga com peso e água. Veja a rodovia que vai para Chapada dos Guimarães, nós já iniciamos a duplicação que estava parada há dez anos. Do Atacadão até a Fundação Bradesco já está com 40% da obra pronta. Fizemos de CBUQ do trevo do Manso até o Mutuca e já iniciamos de Chapada até a Cachoeirinha. A estrada de Água Fria está quase 40% concluída. Vamos inaugurar 43 quilômetros em Bom Jardim, de Nobres. A MT-130 está andamento. Lançamos o edital para duplicação até o Rodoanel. Temos mais de 140 frentes de trabalho no Estado todo. Há algumas rodovias que são prioridades na nossa gestão até 2018, como a MT- 343, a MT-130, MT-100 e MT-140, além da duplicação de todas as saídas de Cuiabá.

C.M.T.: Isso vai resolver o gargalo logístico do Estado?

Taques: Não. Não vai resolver o gargalo logístico porque nenhum governador em quatro anos vai construir oito mil quilômetros de estrada. Além disso, nós precisamos tratar de outros modais, como o hidroviário, ferroviário e aeroportuário. Fizemos uma reunião recente sobre os aeroportos com a Secretaria de Aviação Civil e todos os prefeitos do Estado, para que possamos fazer processos de concessão desses aeroportos.

C.M.T.: Aproveitando o assunto, como anda o programa MT Integrado?

Taques: O MT Integrado está dentro do Pró-Estradas. Ele é um projeto importante da gestão passada, que deveria interligar 46 municípios com asfalto, por meio de recursos do BNDES, mas a administração passada entregou apenas um. Nós estamos repactuando os contratos do MT Integrado, como pontes, com os quais foram economizados R$ 41 milhões de reais, pois os projetos do MT Integrado tinham ponte onde não tinha rio, ponte onde já tinha ponte, ponte onde cabia bueiro celular.

C.M.T.: Qual é o efeito da dívida de Mato Grosso com a União na administração do Estado e a situação da política atual de pagamento?

Taques: Mato Grosso hoje deve quase R$ 7 bilhões de reais. Desse valor, 40% são obras da Copa com o BNDES e Caixa Econômica, com obras do VLT e Arena Pantanal. A maior parte dessa dívida tem que ser paga em 2016 e 2017, quer dizer, fizeram a Copa e jogaram para nós aqui. Além desses 40% nós temos 23% dolarizado, dívidida vendida para o Bank of America, sem o instrumento de garantia da variação cambial, o "hedge". Aí tem mais 7% e tem 30% que nós estamos negociando com a União. Eu e outros 11 governadores dos Estados que foram sede estamos conversando para que esses 40% esteja nessa renegociação, pois, do contrário, Mato Grosso vai renegociar apenas 30%. Com uma carência de seis meses e redução de 5% a partir do sétimo mês, indo para 10%, 15%, até dois anos. Isso vai significar para Mato Grosso, este ano, R$ 120 milhões de reais. Ano passado nós pagamos R$ 1 bilhão e 100 milhões.

C.M.T.: Como está a saúde financeira do Governo? Explique como encontrou o caixa e o que tem feito para sanar as contas?

Taques: Nós encontramos o Estado com R$ 84 mil reais depositados, com déficit de quase R$ 1,7 bilhão de reais. Um dos primeiros atos foi o de fechar o cofre, repactuar contratos, fazer auditorias em contratos, economizamos 20% dos recursos, quase R$ 300 milhões de reais. Diminuímos o déficit que caiu para R$ 500 milhões de reais mais ou menos. Os repasses da União diminuíram, nossa receita cresceu 6% e as despesas com pessoal cresceu R$15%, isso tem um descompasso nas contas do Estado. O dinheiro que o Estado arrecada serve para o custeio da máquina, onde economizamos 25% ano passado. Chega um momento em que está no osso e não tem mais onde economizar. Esse dinheiro do Estado também serve para o repasse aos poderes, onde apresentamos a LDO pedindo que diminuísse o duodécimo em 15% e isso será discutido na Assembleia Legislativa. Renegociamos a dívida com a União Federal. Não pagamos o RGA, pois 25 Estados não pagaram e, além disso, Mato Grosso não tinha condições de pagar. Se tivéssemos feito o acordo com os servidores e pago os 11,28% nós teríamos grandes dificuldades – como ainda temos – de manter a folha de pagamento em dia, como 15 Estados da Federação que estão atrasados e parcelando seus salários. Para melhorar as contas nós chamamos o setor produtivo e todos os poderes e servidores para um pacto por Mato Grosso e esse pacto se consolida no sentido de gastar o que efetivamente se arrecada. Este é o mantra.

C.M.T.: Como o senhor avalia a greve dos servidores pelo pagamento integral da RGA? Houve excessos? O senhor acha que a sociedade, que tem amargado o reflexo da suspensão de serviços, entendeu a postura do governo?

Taques: A minha postura é uma postura não populista. Falar sim é muito fácil, você falar sim com o dinheiro dos outros é mais fácil ainda. O dinheiro que eu administro não é meu, é do cidadão. Eu não vou praticar as irresponsabilidades praticadas no passado pensando nas próximas eleições. Eu tenho que pensar nas próximas gerações mato-grossenses, por isso nós precisamos gastar o que arrecadamos. No passado o Estado concedeu aumentos a determinadas categorias sem levar em conta o impacto financeiro-orçamentário, mas isso é ilegal de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal e isso eu não faço. É logico que falar não para uma categoria, você desgosta parte dessa categoria, mas eu tenho certeza que a esmagadora maioria dos cem mil servidores do nosso Estado são pessoas sérias, decentes, honestas, que trabalham e entendem o momento que nós estamos passando. A sociedade sabe que estamos em crise, temos no Brasil quase 12 milhões de desempregados e em Mato Grosso vem aumentando. Nosso objetivo é acertar as contas do Estado. Reconheço que o servidor tem o direito à greve, como em algumas categorias a greve foi reconhecida ilegal e em outras legal, mas nós recorremos disso, como é um dever do Estado recorrer. Eu entendo as reivindicações do servidor, mas sou contrário a excessos, a radicalismo. Veja que alguns dos servidores que continuaram a trabalhar foram ofendidos por alguns sindicatos, isso eu não tolero e o Estado não vai permitir isso. Não podemos permitir que conceitos políticos ideológicos possam ser trazidos nesse momento por eu ser do PSDB. Nas manifestações estavam gritando “fora Temer, volta Dilma”, isso tem que ser feito em Brasília, não aqui.

C.M.T.: Então o senhor acredita que o movimento pelo RGA Integral foi político?

Taques: Sim, eu acredito. Veja quantas camisas vermelhas e não amarelas estavam nas manifestações. Notadamente eram manifestantes da CUT e MST, mentindo para crianças. Você via vários sindicatos com crianças fomentando a greve dentro da Assembleia.

C.M.T.: O Governo anunciou a possibilidade de entregar serviços administrativos das escolas estaduais à iniciativa privada por meio de PPPs e provocou uma reação imediata de profissionais da educação e alunos. Acha que o Governo antecipou um tema antes de discutir com a comunidade escolar? O senhor tem claro hoje o que pensa sobre este modelo de PPP?

Taques: Eu respeito todas as posições, entendo que o cidadão pode ser contra ou a favor de qualquer coisa. A liberdade na democracia tem esse sentido, mas não pode mentir. A mentira não comunga com a democracia. Eu não posso discutir o projeto da PPP dentro de um quarto escuro, só com meus secretários, a lei diz que eu tenho que fazer audiências públicas e não posso fazer isso sem contar o que será debatido. Nós temos a convicção de as PPP’s são importante e interessantes para Mato Grosso neste momento. Mas PPP não é privatização, como alguns sindicalistas mentiram para crianças, adolescentes. PPP é mais ou menos como um carro financiado. Nós precisamos construir escolas, mas não temos recursos. A iniciativa privada constrói, o Estado paga a ela e depois de um determinado tempo esse patrimônio é do Estado. A iniciativa privada cuida da limpeza, da vigilância, pode cuidar da merenda dependendo do modelo da PPP que será debatido. Agora, seu eu respeito quem tem opiniões contrárias, eu não respeito quem não quer debater. A Constituição permite esse debate e quem não quiser que não participe. PPP não significa privatização, isso é mentira de sindicatos, e nunca cobraremos mensalidades para os estudantes, isso é outra mentira.

C.M.T.: Existe corrupção no seu governo?

Taques: Existe corrupção. Se eu afirmar que não existe corrupção na administração pública eu tô mentindo. Mas cabe a nós combater a corrupção. Não roubar, não deixar roubar e responsabilizar quem roube, respeitado o princípio do contraditório, da ampla defesa, presunção de inocência. Não me cabe, como governador, julgar quem quer que seja. Não tem como você saber o que seus filhos estão fazendo 24 horas por dia, imagine eu como governador saber o que os meus 100 mil colaboradores estão fazendo. Na educação houve corrupção? Pelo que o Ministério Público disse – não houve condenação ainda – houve corrupção. Pelo que disseram houve servidores públicos envolvidos, mas ainda não houve julgamento. Eu não posso pré-julgar quem quer que seja. Eu entendo que nossos mecanismos de controle ainda não foram suficientes para evitar falhas e isto é algo que precisa mudar e nós estamos melhorando. O Gabinete de Controle e Combate à Corrupção e as auditorias internas estão melhorando para que possamos evitar isso.  No mundo todo existem casos de corrupção. Infelizmente houve esse caso. Qualquer dinheiro roubado é importante, mas não foram R$ 56 milhões. De acordo com a auditoria passa de R$ 1,1 milhão, uma coisa assim, mas se fosse R$ 1 real teríamos que nos preocupar.

C.M.T.: Tem muita gente nas redes, site e jornais que criticou a atuação do Gabinete de Transparência  e de Combate à Corrupção. Como está essa atuação do gabinete?

Taques: Eu quero elogiar o trabalho da Adriana Vandoni. Faz parte da democracia a crítica e eu recebo como algo construtivo. Agora, quem foi eleito governador fui eu, se essas pessoas quiserem criar secretarias próprias para elas que se candidatem, sejam eleitas governador e criem. Vai permanecer a Secretaria de Transparência e Combate à Corrupção, porque eu entendo que é importante e deve estar ‘desgostando’ muita gente.

C.M.T.: Apesar da riqueza de Mato Grosso metade da população está no Cadastro Único e uma parcela se encontra abaixo da linha da pobreza. O que tem sido feito para reduzir o índice de vulnerabilidade social no estado.

Taques: É sempre importante dizer que esse Cadastro Único não surge no dia primeiro de janeiro de 2015. Esses números são os mesmo do passado. Nós ainda não temos indicadores de 2015. O IBGE ainda não soltou esses números, apenas os de saneamento de 2014. Na nossa administração ainda não temos indicadores próprios para isso. O secretário Valdiney, da Secretaria de Trabalho e Assistência Social, tem um trabalho de empregabilidade chamado “Emprega Rede” que, mais do que assistencialismo, nós queremos empregar as pessoas. Esse programa tem tido êxito, mesmo no momento de crise que nós estamos vivendo. Criamos programas dentro da Setas para que essas pessoas em condições de vulnerabilidade possam ser identificadas. O programa “Panela Cheia” era o mesmo que estava no Cadastro Único do Bolsa Família. Estamos fazendo essa fiscalização e a Setas tem trabalhado com a Secretaria de Desenvolvimento e o MT Fomento através de Microcréditos para que essas pessoas possam sair dessas condições. Não cabe ao Estado, infelizmente ou felizmente – dependendo da política que você adota – prover isso sozinho, por isso existem programas sociais.

C.M.T.: Na semana passada agentes do sistema socioeducativo fizeram um protesto para reclamar do baixo número de servidores para atender as unidades do estado, principalmente o Pomeri.  Haverá aumento do efetivo no seu governo? E quanto à reinserção social desses garotos em conflito com a lei?

Taques: Nós inauguramos o Centro Socioeducativo em Lucas do Rio Verde. O Márcio Dorileo, da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, fez o levantamento de que precisaríamos de mais seis. Temos uma parceria com o Tribunal de Justiça, que nos libera R$ 15 milhões de reais para que possamos fazer o socioeducativo. Reconheço a necessidade de servidores para essa área. O secretário Márcio, junto ao secretário de Gestão, Julio Modesto, está trabalhando nisso, mas a Lei de Responsabilidade Fiscal não permite que isso seja feito agora, no momento em que já estouramos o limite legal da LRF. 

C.M.T.: Governador, sobre o Decreto 380, como é que o seu governo está trabalhando para fazer justiça fiscal?

Taques: Fizemos uma reunião com todas as federações e associações do comércio e fizemos com eles um acordo dentro do que chamamos de pacto por Mato Grosso. Nós suspendemos o decreto até o dia primeiro de Janeiro de 2017 pra que essas discussões que estão no decreto possam estar no bojo da reforma tributária que nós estamos levando a cabo junto com a Fundação Getúlio Vargas. O secretário Seneri Paludo está conduzindo isso junto à FGV, Federação das Indústrias, o Movimento Brasil Competitivo e o comércio.

C.M.T.: Após tantas mudanças no staff, o atual time vai até o final da gestão?

Taques: Não tem como eu fazer essa adivinhação. A pessoa pode morrer, pode pedir para sair, eu posso em determinado momento pedir para que ela saia. Insubstituível, a não ser que o cidadão queira, somos só eu e o vice-governador.

C.M.T.: O senhor não acha desconfortável essa demora para realizar licitação para escolha da nova empresa para assumir os empréstimos consignados levando-se em consideração que a Consignum está sendo investigada na Operação Sodoma?

Taques: Em junho de 2015 nós recebemos uma recomendação do Tribunal de Contas para fazer uma nova licitação. Imediatamente o secretário de gestão, Júlio Modesto, inaugurou o processo licitatório para fazer com que outras empresas pudessem fazer esse tipo de procedimento. O proprietário da empresa Consignum ganhou uma liminar na justiça, barrou isso no instante em que ele estava sendo investigado, mas nós não podemos parar imediatamente esse tipo de serviço, sob pena de deixar os cem mil servidores sem uma forma de empréstimo consignado. Até que outra entre demora muito. O fato de a pessoa estar sendo investigada não proíbe que ela negocie com o Estado, de acordo com a legislação. A não ser que tenha uma declaração de inidoneidade, que não existe. Existe uma liminar que permite que ela participe. Não tenho certeza se essa liminar sobrevive ainda, mas  a última informação que eu tive foi essa.

C.M.T.: O senhor tem conhecimento de que o escritório do Paulo Taques atendia a Consignum?

 Taques: Nunca ouvi falar disso. Ele atende? Vamos chamar o Paulo aqui e perguntar pra ele.

[Nesse momento o governador liga para o secretário Paulo Taques, que está em outra entrevista, mas responde ao telefone pelo viva voz. “Nós nunca advogamos para essa empresa. Eu quero ressaltar que estou afastado do meu escritório formalmente desde o início do governo. Mas o escritório nunca advogou para essa empresa”, disse Paulo Taques ao telefone.

C.M.T.: Quem deve assumir a Mesa Diretora da AL?  Maluf ou Botelho?

Taques: Não me cabe como governador escolher quem vai assumir a presidência da Assembleia, mas eu penso que tenha que ser da base e cabe a eles, deputados, escolherem.

C.M.T.: O senhor revalida o apoio ao prefeito Mauro Mendes no pleito desse ano? Como estão as articulações? Há outros nomes que o senhor e seu partido poderiam apoiar?

Taques: O Mauro esteve comigo em 2010, 2012 e 2014. Existe a possibilidade de estarmos juntos este ano. Mauro é um amigo e um companheiro. Agora, antes de eu definir o Mauro precisa dizer se é candidato. Quando ele afirmar que é candidato eu vou chamar o PSDB e vamos discutir isso internamente. Existe dentro do PSDB quem defenda a candidatura própria. Eu sou um militante do PSDB e isso será discutido no local apropriado.

C.M.T.: Após grande projeção no MPF e Senado e senhor chegou com grande popularidade ao governo. Agora suas redes sociais mostram algum descontentamento, coincidindo com os episódios da PPP, RGA e Seduc.  O senhor crê que isso pode abalar seu futuro político?

Taques: Eu acho que faz parte da democracia que você receba críticas. Eu acho que não há unanimidade no Brasil e no mundo em absolutamente nada. O político pode perder a popularidade, mas ele não pode perder a credibilidade.

C.M.T.: Governador, está sendo difícil fazer valer o seu slogan “estado de transformação”?

Taques: Nem um pouco. Eu fui eleito para quatro anos. Não um ano e seis meses. Só no final da gestão poderei ser avaliado. Esse Estado não foi estragado, roubado e vilipendiado em um ano e seis meses. 

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Josiane Dalmagro

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