Circuito Entrevista

Secretário faz análise técnica dos números da criminalidade no estado

Foto: Andréa Lobo

Conhecido pela personalidade forte e de caráter ‘linha-dura’, o atual secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, traçou todo o plano estratégico de combate ao crime no Estado, num bate-papo sobre sua gestão. 

Ex-coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e ex-promotor de justiça pelo Ministério Público Federal (MPF), Zaque se enquadra no perfil técnico do secretariado escolhido pelo governador Pedro Taques (PDT). Durante a conversa, o secretário explicou cada plano de ação que envolve crimes de maior gravidade no Estado, discutiu índices e também mostrou seu posicionamento sobre a descriminalização das drogas. Confira a entrevista a seguir.

Explique para nós as operações no início do ano e quais foram os resultados nesses primeiros 100 dias de governo.

O resultado foi excelente. Foram 6 mil pessoas conduzidas à delegacia, 300 mandados de prisão cumpridos. Quer dizer: são 300 pessoas que estavam foragidas da justiça e foram recapturadas. Havia pessoas com 18 roubos de veículos, pessoas com 10 homicídios, lógico que isso vai impactar. E esse é o motivo pelo qual os números da segurança foram tão favoráveis nesses primeiros 100 dias.

Qual foi o maior desafio da secretaria até então?

São vários os desafios. Nós temos que enfrentar questões estruturais, temos que rever algumas ações, temos que traçar a política de segurança. […] Nós ainda enfrentamos a situação orçamentária pela gravidade da situação financeira do Estado. Mas, independente disso, as polícias estão cumprindo o seu papel ainda que com todas essas dificuldades financeiras que nós sabemos que o Estado enfrenta.

E qual foi a maior dificuldade até então desconhecida pelo senhor ao entrar na secretaria?

Dá para a gente falar na questão de promover algumas mudanças estruturais que estavam arraigadas na segurança pública e que na verdade se mostravam contraproducentes para os interesses na segurança, mudar a mentalidade dos aspectos. Acho que essas são as maiores dificuldades.

Segundo os índices apurados na Grande Cuiabá, há um número exorbitante de homicídios na região, que se manteve do ano passado para cá. O que falta para que esses números diminuam?

Nós temos que trabalhar com projeção. Se pegarmos de 2012 para cá, como em 2014 que foi um ano negro para a segurança pública, nós vemos a projeção subindo. Se nada fosse feito nesse intervalo [de 2014 para 2015], nós estaríamos com a projeção lá na frente. Se analisarmos com este raciocínio, o número em Cuiabá empatou com o do ano passado. Porque se não houvesse todas essas ações no intervalo que ocorreu no início de 2015, teríamos um aumento nesta projeção. Por outro lado, nós conseguimos diminuir a projeção em Mato Grosso em torno de 32%.

Quais os planos de ação em regiões periféricas da capital, as quais registram um grande número desses crimes?

Cuiabá está dividido em regiões. Conforme os índices que recebíamos da segurança, nós sabíamos mapear bairros de zona quente de criminalidade, sobre quais crimes e os horários que eles acontecem. Com isso, nós fazemos diversas operações para reprimir o crime. Mas nós não podemos perder de vista é que vai haver picos ainda. O Estado está há 12 anos abandonado na segurança. Não podemos exigir que, em 100 dias, seja feito mais do que isso que está sendo feito; não dá para trabalhar. Não é algo que dependa única e exclusivamente da nossa vontade. Ações reflexas vão demandar algum tempo. Temos que fechar em termos de período.

E no interior do estado?

Nós já estamos em diálogo com as Regiões Integradas de Segurança Pública, que são as Risps, no interior do estado. Agora nós estamos fazendo várias operações no interior, com muitas prisões de organizações que impactam a segurança, mas que atuam em determinado setor. Com diversas quadrilhas sendo desarticuladas. E tanto no interior as ações estão sendo efetivas e eficazes que nós experimentamos essa queda de homicídios acentuada.

Sobre o tráfico de drogas: de que forma a secretaria está atuando para inibir a comercialização de entorpecentes no estado?

Os planos são, além de toda uma estratégia de segurança, para fortalecer as nossas fronteiras. Só nesses primeiros 100 dias nós apreendemos mais de 600 quilos de entorpecentes pelo Gefron. Neste período já estouramos mais de 300 bocas de fumo em todo o estado. O crime nasce da boca, o homicídio, o roubo, a agressão. Então temos que fazer o enfretamento mais concreto, mais enérgico com relação às bocas de fumo.

Como representante da segurança e inteirado mais sobre os prejuízos que o tráfico traz à sociedade, o senhor acredita que a descriminalização das drogas é um caminho para que a criminalidade diminua?

Eu não acredito. Acho que esta história de descriminalização é uma irresponsabilidade para com os nossos jovens. Quem fala isso não tem filho e não se preocupa nem com os próprios filhos. A gente descriminaliza aquilo que é bom para o cidadão. Droga é bom para o cidadão? Vício é bom para o cidadão? Então, descriminalizar é atender a interesses de organizações do tráfico. Jamais atender ao interesse social. Nós sabemos que o tráfico (drogas em geral) causa prejuízos graves sociais, prejuízos para o seio da família, causa um impacto financeiro imenso na saúde, causa um impacto na segurança imenso, e a descriminalizar não vai ajudar.

E quanto ao cigarro e ao álcool? Ambos são considerados drogas e são livremente comercializados no país.

O cigarro vicia, mas não é considerado um entorpecente. Hoje a droga mais nociva que mais traz mal à sociedade é o álcool. Hoje é mais difícil você se livrar a dependência do álcool do que da dependência química, dependendo da droga que você usa. Álcool é mais difícil que pasta-base. Crack, pelo poder de destruição dele, é muito pior. Mas mesmo assim, não me convenço. Respeito a opinião contrária, mas acho que quem defende a descriminalização não tem interesse social, não tem uma preocupação com o jovem e o adolescente, que é recrutado para ser um usuário. Se droga fosse bom, nós não precisávamos estar limpando as cracolândias.

Em relação às cracolândias: há um forte comércio de drogas na região central de Cuiabá. Há um plano para inibir a ação dos traficantes?

Nós estamos desenhando com a prefeitura. Nós vamos colocar ônibus das polícias Civil e Militar para fazer um ‘limpa’ nas regiões das principais praças da cidade. Porque tem muita gente usando drogas por lá. Como os próprios “cuidadores de carros” que ficam nessas regiões e cobram R$ 10. Ele não está prestando um serviço, ele está te extorquindo. Mas eu não posso chegar lá, a não ser que eu fosse arbitrário e dizer: vai lá e recolhe. Eu não posso fazer isso porque o cidadão tem o direito de ir e vir. Então, nós estamos acertados com a prefeitura de recolher e encaminhar para um centro de triagem. Aqueles que não são daqui nós vamos dar passagens para eles irem embora, aqueles que são daqui serão encaminhados a um centro de tratamento.

Um problema que se estende há anos é o déficit no efetivo, principalmente na Polícia Civil, onde faltam 3 mil servidores, além da falta de equipamentos de suporte para esses profissionais. Isso será melhorado nesta gestão?

Tem a previsão para que os concursados que estão no cadastro de reserva sejam chamados. Estou acertando com o governador para ver se a gente consegue chamar ainda este ano, se tivermos autorização orçamentária. Quanto aos equipamentos, nós vamos comprar 3 mil coletes, armamento, 150 fuzis modernos, 630 pistolas e até fardamento, que eles não tinham. Porque antes os policiais iam para a rua com uma farda surrada, com o sol, sem dignidade.

O governador Pedro Taques anunciou que fará cortes de verbas das secretarias. Além disso, ele afirma que a situação econômica é preocupante. Isso pode impactar nos planos de investimento da segurança?

O governador tem a segurança como prioridade. Então, ele está fazendo de tudo para poder prover a segurança do mínimo necessário para que ela possa caminhar, e a gente possa dar dignidade ao policial para fazer a segurança do cidadão. Agora, lógico, se nós tivéssemos uma situação minimamente confortável em termos orçamentários, nós já teríamos feito muito mais, porque o Estado não tem dinheiro.

Noelisa Andreola

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