Uma ordem assinada pelo secretário de Educação de Barra Mansa, RJ, Vantoil de Souza Júnior, determinou, no início do mês, que todos os alunos da rede municipal de ensino devem rezar o Pai Nosso antes das aulas. O documento determina que a oração seja feita logo depois da entoação dos hinos cívicos.
A medida é justificada pelo fato de que a oração é aceita pela maioria das manifestações religiosas. "Os alunos que não desejarem fazer deverão declarar por escrito através dos seus responsáveis. Eles serão colocados em fila apartada e após o hino encaminhados à sala de aula", diz a ordem.
Para Jeihcio Francis, representante da Associação Ateísta do Sul Fluminense, é preciso levar em consideração o risco de as crianças se sentirem constrangidas ao serem obrigadas a orar.
"Quando estão todos orando e você não ora também, acaba se tornando uma falta de respeito e isso pode acabar se tornando um problema social. A escola deve ensinar a diversidade cultural e não ajudar a fortalecer um problema, que é o preconceito religioso".
A pedagoga Fátima Troina pede que "a abordagem seja muito bem norteada para não ferir as diferenças".
"Precisamos exercitar o respeito à diversidade. É preciso ter atenção para não ferir o respeito às diferenças. Submeter uma criança ou adolescente a algo que naturalmente não pertence à religião dela pode se tornar confuso".
Sobre os hinos cívicos, foi montado um cronograma que estabelece que o hino nacional é entoado na segunda-feira; o hino de Barra Mansa na terça; e na quarta o da Independência; quinta é cantado o hino da Bandeira e sexta-feira é o da Proclamação da República.
Na vizinha Resende, projeto discute OSPB e EMC
Em Resende, tramita na Câmara Municipal um projeto de lei que prevê a regulamentação e inclusão nas escolas da rede municipal de projetos interdisciplinares das disciplinas de Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação Moral e Cívica (EMC).
Segundo o vereador Caio Sampaio (Rede), o objetivo é formar cidadãos com visão ampliada e crítica do meio onde vivem.
"Nós queremos voltar a formar cidadãos. É preciso voltar a canta o hino nacional, sem pregar qualquer tipo de ideologia. Deixando claro que não queremos criar novas matérias neste tema, até porque não temos autonomia, isso é prerrogativa da União. Nosso objetivo é instituir projetos interdisciplinares, que fomentem na mente das crianças algo voltado para a cidadania e responsabilidade social", disse.
Para a socióloga Ana Paula Perrota, o projeto "resgata o nome de disciplinas do período da ditadura e que hoje não existem mais. Fica anacrônico associar esses conteúdos a algo moderno".
"Nos dias de hoje está sendo disseminada uma noção do que seria o 'cidadão de bem'. Valores morais em torno desse cidadão de bem estão se constituindo a partir de ideias conservadoras e religiosas. Isso reflete em algo distante do que as teorias pedagógicas e sobre educação entendem sobre a formação do pensamento crítico", analisou.