O britânico Josh Cook é saudável, ágil e esportivo, mas quando ficar mais velho, provavelmente a partir dos 50 anos, começará a sentir os efeitos do mal hereditário que afeta o sistema nervoso central, paralisando músculos e afetando habilidades mentais.
"Apesar de atualmente eu ser saudável, ativo e amar minha vida, sei que em algum momento dela não poderei fazer o que amo ou ser um ser humano normal", disse ele ao programa de rádio Newsbeat, da BBC.
"Enfrentarei um longo declínio até uma morte dolorosa", acrescentou. "Perderei a habilidade de andar e falar, ficarei preso a uma cadeira sofrendo espasmos musculares e poderei morrer engasgado com a minha própria saliva porque perderei a capacidade de engolir."
Cook defende que deveria ter o direito de cometer suicídio assistido, algo proibido por lei no Reino Unido. "Por que não posso decidir, no fim da minha vida, morrer de forma digna, rápida e em paz e ter a oportunidade de me despedir dos que me amam?", indagou.
As declarações do jovem acirram o debate no Reino Unido acerca da lei de suicídio assistido no país. Nesta semana, a Alta Corte rejeitou recurso apresentado por dois homens que defendiam uma mudança na lei para permitir que médicos pudessem ajudá-los a pôr fim a suas vidas sem que fossem processados posteriormente.
Segundo o Ato de Suicídio, de 1961, é crime apoiar ou assistir um suicídio ou tentativa de suicídio, com pena de até 14 anos de prisão. O recurso havia sido apresentado pela família de Tony Nicklinson e por Paul Lamb.
Nicklinson morreu uma semana depois que a primeira decisão da Justiça foi anunciada , no ano passado. Ele havia se recusado a comer e a tomar líquidos.
Apesar da morte do marido, a viúva de Nicklison, que era tetraplégico desde que sofreu um infarto em 2005, continuou sua batalha. E a ela uniu-se Paul Lamb, que está paralítico desde um acidente de carro em 1990.
Decepcionado com a decisão, Lamb disse que esperava morrer com dignidade. "Vou continuar a lutar. E não só por mim, mas por muitos outros as quais estão sendo negados o direito de ter uma morte humana e digna só porque a lei teme lidar com essas questões", disse.
Regras claras
Mas um outro britânico de 48 anos, que não quer ter o nome revelado e é conhecido apenas como Martin, ganhou na Justiça uma ação que defende regras mais claras na lei sobre as consequências para profissionais de saúde que ajudam pessoas a cometer suicídio assistido no exterior.
Martin quer ter respaldo legal para que um médico ou enfermeiro o ajude a viajar para a Suíça, onde poderá cometer suicídio assistido na organização Dignitas, onde ao menos um britânico morre a cada 15 dias.
Em 2009, a Diretoria da Promotoria Pública britânica publicou resolução que permite que famílias ou amigos de pessoas que querem pôr fim a suas vidas na Suíça não sejam processadas. Mas não são claras as regras quanto à participação de profissionais de saúde neste processo.
Apesar de ser muito próxima ao marido e respeitar sua decisão, a mulher de Martin não quer levá-lo à Suíça. Os três casos serão julgados agora na Suprema Corte britânica.
Fonte: Último Segundo