Fotos Ahmad Jarrah
Ar condicionado Central em Cuiabá. Picolés gratuitos. “Beleza para todas”. “Bolsa botox”. “Vale boy”. Legalização e distribuição da maconha. Para a segurança dos cuiabanos, e das cuiabanas, um “go go boy” a cada esquina. Essas são algumas das propostas da candidata à cadeira do palácio Alencastro, Almerinda Prefeita, do PSS (Partidos das Socialites Socialistas).
Sem coligações partidárias, e com propaganda eleitoral feita exclusivamente pelas redes sóciais, Almerinda dispara nas pesquisas feitas pelo BOPE. Segundo ela, sua candidatura está à frente do Procurador Mauro nas pesquisas de intenções de voto.
“O público me ama. Os taxistas me amam porque eu prometi que vou liberar as 190 licitações que não foram aprovadas pela gestão atual. As mulheres me amam porque eu tô prometendo Bolsa para Todas. Não tem nada a ver com bolsa família. Toda mulher tem direito a uma bolsa de grife, é só passar aqui na prefeitura e buscar. Na bolsa ainda vem kit de segurança Almerinda Loski, que vem spray de pimenta, máquina de choque, e ainda vem uma pedra da demolição do antigo Verdão”, promete.
Personagem de ficção, “pero no mucho”. O Circuito Mato Grosso entrevistou a socialite Almerinda Loski na Praça Alencastro, em frente à Prefeitura de Cuiabá, em uma tarde de corpo a corpo com o eleitorado.
“Esse corpo a corpo é a parte mais complicada da campanha, por causa do calor de Cuiabá. A gente vai aos bairros, a gente vem no Centro, a gente abraça, pega criança no colo, e no final, álcool em gel na banheira”, ri.
Aos adolescentes que frequentam a praça, a candidata faz propostas esdrúxulas, que só caberiam na ficção. “Funk para todos”, promete a um possível eleitor que houve música na praça.
“Minhas propostas são as únicas que estão agradando a toda a população. Quando eu for prefeita, não vai ter desvio da merenda escolar. Vai ter a VALORIZAÇÃO DA CULTURA. Teremos ‘mugiquinha’ de pintado, farofinha de banana… As minhas propostas são as melhores. Tem candidato que não tem nem proposta. Tem candidato que copiou ‘trem’ do partido dele de 10 anos atrás”, alfineta a candidata.
Ela se refere ao candidato Emanuel Pinheiro (PMDB), cujo plano de governo para as eleições 2016 é uma cópia, quase integral, do “Programa de Governo Municipalista” de seu partido para os anos de 2007 e 2008.
Nenhum candidato a prefeito de Cuiabá escapa de sua língua
A socialite Almerinda, que também se apresenta como candidata a prefeita de Cuiabá com o número 1.000.000, toca nos pontos fracos, aponta escândalos e debocha de seus concorrentes.
Para ela, o deputado Wilson Santos (PSDB) é “um equivoco. Não deveria ter saído candidato, nem na primeira vez”. O candidato Emanuel Pinheiro (PMDB) é motivo de risos. “No PMDB, Emanuel? Depois vem com esse papinho que ninguém põe cabresto em Emanuel Pinheiro? Só Carlos Bezerra, né?”.
Quando indagada sobre qual avaliação faz do candidato Renato Santtana (Rede), Almerinda dispara: “Quem é esse homem gente? Ele sai lá de Campo Grande, vem de Coxim. Vai se candidatar lá em Mato Grosso do Sul”.
O juiz e candidato, Julier Sebastião (PDT), é analisado por Almerinda como “um bom juiz”. “Ganhava tão bem! Volta para lá, vai fazer concurso de novo”. E sua única concorrente mulher, Serys Slhessarenko (PRB) é alfineta sob risos debochados. “No último debate, eu não sabia onde era boca, onde era o olho. Tá esticando muito, Serys”.
O candidato que está à frente nas pesquisas de intenção de voto, procurador Mauro (Psol), também é alfinetado. “Esse homem, procurador Mauro, fica procurando, procurando e nunca encontra. Só aparece em época de eleição. E a barriga cada vez maior, para quê? Para empurrar o povo com a barriga”.
Para ela, “a melhor opção, e a única preparada para assumir o Palácio Alencastro, é Almerinda prefeita”.
Da ficção à realidade
Almerinda vai além da ficção e toca na ferida. A última foi a denúncia contra a venda casada de passagens de ônibus. A passagem de ônibus, fixada em R$3,60 na Capital, devido ao sistema digital, só pode ser adquirida se, antes, o passageiro comprar o cartão. Assim, uma passagem que custaria R$3,60, passa a valer R$7,20 (passagem + cartão).
Dias depois, o Ministério Público de Mato Grosso e o Procon junto a outros órgãos proibiram a venda do cartão portador, constatando a venda casada do cartão mais a passagem.
Almerinda não nasceu com viés político, mas rapidamente o intérprete teve o inset. A promessa é de que as denúncias não parem. “Queremos mostrar como está a Saúde em Mato Grosso. Nós vivemos batendo na tecla da educação. A gente já estava denunciando o esquema da Seduc faz tempo, só que agora as pessoas estão prestando mais atenção”
“Na verdade o que quero é que as pessoas aprendam a fazer isso no dia a dia delas. Denunciem. As pessoas têm que aprender a denunciar. Estamos muito mal acostumados… Se estamos levando vantagem ficamos de boca calada. Enquanto não pensarmos no todo, no coletivo, nada vai pra frente. A minha intenção é só essa, que as pessoas aprendam a denunciar, pôr a boca no trombone, porque dá resultado”.
O ator André D’Lucca
Aos 39 anos, e 26 de carreira, o ator André D’Lucca, intérprete de Almerinda, elaborou a personagem como uma emergente e com perfil psicológico atípico. A personagem cresceu e virou “política”.
“No momento em que me propus a falar de política e usar o humor para fazer as denúncias, isso teve um preço muito alto. Uma perseguição muito cara. Mas eu também sabia que a partir do momento em que a sociedade entendesse o meu trabalho teria uma adesão social. E isso tá acontecendo. As pessoas começam a entender o que eu tô fazendo”, revela o ator.
No início, D’Lucca diz que sofria com acusações do tipo “ele quer só aparecer”. “Não entendiam que eu estava realmente querendo mostrar um problema. Não é que eu queria aparecer, eu queria dar visibilidade para um problema que está ali sendo jogado para baixo do tapete”, conta.
Showmício nesta sexta-feira (30.09)
A peça “Boca de Urna”, com participação de Sarah Mitch, e da pequena Kauani Aimê, vice-prefeita de Almerinda acontece nesta sexta-feira (30) no Teatro da UFMT, às 20h30.
Ingressos: R$40 inteira, R$20 meia.