Opinião

SÃO JOÃO

Depois que morre, todo mundo vira santo. Aconteceu recentemente com Jejé. Em vida fora inúmeras vezes marginalizado, gay, preto e pobre. Morreu abandonado, no hospital, sem dinheiro nem pra comprar fralda. Mas no Brasil milagres acontecem. Bastou ele morrer, dezenas de culturetes e socialites cuiabanos começaram a postar em suas redes sociais fotos com Jejé, jurando amor eterno.

– João, você não gosta da obra de João Sebastião porque você não conhece. O cara é foda! Um dos precursores desta nova fase moderna. Pra você ter uma ideia ele e Irigaray moravam juntos na casa da Aline, vivendo única e exclusivamente da arte.

Rai sempre tem razão. Todos acham João fodão.  Porém, minhas convicções, são minhas convicções. Nunca gostei muito da obra de João Sebastião. Nunca gostei muito da onça. Não é porque ele nos deixou que eu vou mudar o meu gosto. Não colocaria ele na parede. Não. Mas é inegável de que ele é um gênio. Ao lado de Gervane, Irigaray e Jonas, representa como nunca uma geração proeminente, que causa, que provoca, que desconstrói. E João vai além. Consegue estar no meio de quem vive a nossa arte, de quem apenas gosta, de quem compra, de quem vê. Suas onças e seus cajus deixam, sim, nossa ex-cidade verde mais colorida, menos uníssona.  Mas não colocaria ele na parede.

Flor abre a porta sorrindo e interrompe nossa calorosa discussão, segurando uma tela enorme nas mãos.

– Amor esse João artista plástico faz coisas lindas demais. Até já comprei uma tela de presente de aniversário pra colocar no seu escritório.

Rai cai na gargalhada. Realmente, Deus escreve certo por linhas tortas.

João Manteufel Jr.

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Mais conhecido como João Gordo, ele é um dos publicitários mais premiados de Cuiabá e escreve semanalmente a coluna Caldo Cultural no Circuito Mato Grosso.

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