Alida Gonzalez, dona de casa de 65 anos, e seus quarto familiares que moram na favela de Petare pulam uma refeição por dia diante da inflação e escassez de produtos (Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)
O aumento do preço e a escassez crônica de produtos na Venezuela faz com que muitas famílias lutem todo dia para colocar comida na mesa.
Uma pesquisa recente realizada por três universidades que frequentemente criticam o governo mostra que 87% dos entrevistados dizem que seu salário não é suficiente para comprar comida.
A Pesquisa sobre Condições de Vida dos Venezuelanos (Encovi), feita com aproximadamente 1.500 famílias, constatou porcentagens crescentes de carboidratos nas dietas, e aponta que 12% dos entrevistados não comem três refeições por dia.
A recessão econômina na Venezuela está forçando muitas famílias a reduzir o consumo de alimentos e fazer refeições menos equilibradas.
Alida Gonzalez, dona de casa de 65 anos, e seus quarto familiares que moram na favela de Petare, perto da capital Caracas, agora pulam uma refeição todo dia e comem cada vez mais carboidratos no lugar de proteínas, que são muito caras ou simplesmente estão em falta.
“Com o dinheiro que gastávamos com o café da manhã, almoço e jantar, agora conseguimos comprar só o café da manhã, e um não muito bom”, diz Gonzalez à agência Reuters, que fez uma série de fotos que mostra a escassez de produtos encontrada na casa de alguns venezuelanos.
Em um dia recente a comida encontrada em sua casa era apenas meio quilo de frango, quatro bananas, um pouco de óleo de cozinha, um pequeno pacote de arroz e uma manga.
A família não sabia quando conseguiria comprar mais.
Um salário mínimo agora corresponde a cerca de 20% do custo de alimentar uma família de cinco pessoas, de acordo com um grupo de monitoramento. E as filas formadas em supermercados aparecem antes do amanhecer.
“Você precisa entrar nessas filas que nunca acabam – todo dia, cinco da manhã até a tarde – para ver se você consegue uns sacos pequenos de farinha ou um pouco de manteiga”, diz o motorista de táxi Jhonny Mendez, de 58 anos, que vive com mais quatro familiares em Caracas. Em sua casa, a Reuters fotografou vegetais, macarrão, farinhas e molho de tomate.
Natalia Guerra, de 45 anos, mora em uma pequena casa em Petare com mais sete parentes, sendo que apenas um deles tem um salário significativo.
Ela lembra de quando comprava leita para os seus filhos, mas agora não consegue encontrar nenhum para seus netos. “Somos uma família grande, e constantemente está ficando difícil para nós comer”, diz.
Para Yaneidy Guzman, que mora com suas duas filhas em Caracas, comer virou "luxo": "Agora comer é um luxo, antes nós conseguiamos ganhar um dinheiro e comprar roupas ou alguma coisa, agora tudo vai para a comida", diz em sua casa.
Lender Perez, que vive com sua mulher e duas filhas pequenas, diz que há 15 dias come a mesma coisa. "Há 15 dias que comemos pão com queijo ou arepa com queijo. Estamos comendo pior do que antes, porque não conseguimos encontrar comida e aquelas que conseguimos encontrar não podemos pagar", afirma.
Apoiadores do governo apontavam orgulhosos para uma melhoria na alimentação sob o líder socialista Hugo Chavez, que durante seu governo de 14 anos usou lucros do petróleo para subsidiar alimentos para os pobres, e ganhou aplausos das Nações Unidas.
Mas o presidente Nicolás Maduro, seu sucessor, enfrenta a queda no preço do petróleo, que fornece quase toda a renda estrangeira. Ele ainda diz haver uma “guerra econômica” liderada pela oposição, embora os críticos veem isso como uma desculpa.
Fonte: G1