Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz fez detecção pioneira de zika no líquido amniótico de mulher grávida de bebê com microcefalia em novembro (Foto: Gutemberg Brito/IOC/Fiocruz/Divulgação)
O teste atualmente disponível para diagnosticar o zika vírus no Brasil ainda é complexo e só pode ser realizado em laboratórios altamente especializados. Um mês depois de o Ministério da Saúde ter decretado estado de emergência em saúde por causa do aumento de casos de microcefalia, malformação associada ao zika vírus, existe uma corrida de instituições públicas e privadas para desenvolver um teste mais simples e que possa ser aplicado em larga escala.
Teste molecular
Por enquanto, o que está disponível tanto na rede pública quanto na rede privada é o teste molecular. O método consiste em multiplicar a quantidade de RNA do vírus na amostra coletada, ou seja, amplificar o material genético do vírus para que seja possível identificá-lo quimicamente. “É um teste de alta complexidade e não existe kit comercial disponível. Todos os laboratórios que oferecem o exame têm que desenvolver e validar o teste”, diz o infectologista Alberto Chebabo, do Delboni Medicina Diagnóstica.
Segundo o infectologista Celso Granato, do Fleury Medicina e Saúde, devido à alta complexidade, o ideal é que o exame não fosse feito em larga escala. “O risco de contaminação das amostras aumenta proporcionalmente à quantidade de testes realizados por um laboratório”, diz. Ele explica que até a equipe responsável pelo procedimento deve ser especializada.
O teste molecular, apesar de ser preciso, é capaz de detectar a presença do vírus em um período muito curto de tempo: só até cinco dias depois do aparecimento dos sintomas. Ou seja, é possível que o paciente ainda esteja manifestando sintomas da doença e o vírus não seja mais detectado em seu sangue.
Teste sorológico
O que as instituições buscam desenvolver é um teste sorológico, capaz de detectar os anticorpos contra o vírus. Esse teste seria capaz de detectar a infecção por zika em uma janela maior de tempo.
O laboratório alemão Euroimmun já desenvolveu duas metodologias de teste por sorologia para detectar o zika vírus: o teste de imunofluorescência e o teste ELISA.
O teste de imunofluorescência já está disponível para comercialização, porém apenas para aplicação em projetos de pesquisa. No Brasil, a empresa deve apresentar a documentação para a Anvisa ainda este ano para obtenção de registro.
Já o teste ELISA é um protótipo que deve ser liberado comercialmente fora do Brasil em fevereiro.
Segundo Gustavo Janaudis, diretor da Euroimmun, o teste de imunofluorescência é capaz de detectar os flavivírus e arbovírus mais comuns: os quatro sorotipos da dengue, chikungunya e zika. Já o ELISA seria um teste complementar altamente específico, para confirmar o diagnóstico.
Quem faz o teste?
Na rede pública, os laboratórios de referência que fazem parte da rede sentinela para zika vírus são Fiocruz-RJ, Fiocruz-PR, Fiocruz-PE, Instituto Evandro Chagas-PA e Instituto Adolfo Lutz-SP. Todas essas instituições trabalham no desenvolvimento de novos testes.
Além disso, existem 12 laboratórios centrais capacitados na técnica molecular para a realização do diagnóstico de zika vírus, segundo o “Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika”, lançado pelo governo esta semana.
Na rede privada, o Delboni, de São Paulo, já tem o teste disponível em suas unidades a um preço de R$2.200. O laboratório Hermes Pardini, de Minas Gerais, também está oferecendo o teste com o valor de R$ 499.
O laboratório Fleury pretende começar a oferecer o teste a partir de terça-feira que vem, mas, a princípio, apenas para detecção do zika no líquido amniótico de mulheres grávidas. O preço ainda não está definido, mas deve ser aproximadamente R$ 500. Segundo Celso Granato, o Fleury trabalha no desenvolvimento de um teste sorológico próprio e avalia a possibilidade de realizar o teste molecular também no sangue e na urina.
Fonte: G1