“Luz, câmera, mesa e ação: o cinema brasileiro na cozinha”, livro com um primoroso projeto gráfico, de autoria de Berê Bahia, oferta um guia filmogastronômico. Para cada um dos filmes, todos nacionais, uma saborosa receita culinária pode ser degustada, feita pela própria baiana. Entre os filmes indicados, o de Bruno Barreto, “Dona Flor e seus dois maridos” (1976), é acompanhado pelo prato “Trio de purês”. Os ingredientes básicos são maçã, cenoura e batata, que formam purês e que, quando prontos, são colocados lado a lado em uma mesma travessa. Por cima do prato, uma flor vermelha dá o toque especial ao prato.
Para cinéfilos na temática indígena, sugiro que consultem a relação de “Filmes sobre índios do Brasil”, elaborada por Gustavo Menezes e acompanhada pela culinária de etnias do Mato Grosso, esta sugerida por mim. Em 2017, todos com ingredientes cultivados em terras indígenas, ainda que o então Ministro da Justiça tenha criticado os indígenas ao afirmar que “terra não enche barriga”, ao ser questionado sobre a garantia de terras a indígenas.
O filme selecionado é “Xingu” (2012), dirigido por Cao Hamburger, que tem como cenário o Planalto Central nos anos de 1940, quando três irmãos, os “irmãos Villas-Bôas”, alistam-se na Expedição Roncador-Xingu, a Marcha para o Oeste, criada por Vargas para incentivar a ocupação do Centro-Oeste.
Diante à tela, que tal servir chicha de mandioca à Nambiquara, com tanajuras cruas e gafanhotos ao dente, levados à boca com palitos ou com as próprias mãos. Depois, beiju de mandioca com Matrinchã moqueado com pimenta xinguana, de sabor e odor picantes, servidos no belíssimo prato de cerâmica Waurá que conserva os alimentos quentes por um tempo maior. Ao finalizar a sessão, não poderá faltar a sobremesa, entremeada aos comentários sobre os Villas-Bôas no Xingu: uma pasta cozida de pequi com castanhas do Pará, servidas em pratos de palha, tal o costume Bororo.
Bom filme! Bom apetite!
Anna Maria Ribeiro Costa é etnóloga, historiadora, escritora e filatelista na temática ‘Povos Indígenas nas Américas’.