A Sabesp reduziu o risco de rodízio de água oficial nas regiões mais próximas do centro de São Paulo, sobretudo na zona oeste e no início da zona sul. Esses locais dependiam do sistema Cantareira, que está com menos de 15% de seu volume útil, e passaram a receber água sobretudo do Guarapiranga, atualmente com 72% da capacidade.
A água que chega à torneira dos consumidores normalmente passa por um reservatório de bairro, que são aquelas imensas caixas d'água distribuídas pelas cidades. Cada uma dessas estruturas é abastecida por um ou vários sistemas da Região Metropolitana (Cantareia, Guarapiranga, Alto e Baixo Cotia, Rio Grande, Rio Claro, Capivari e Ribeirão da Estiva) conjuntamente ou de forma alternada.
Em fevereiro de 2013, 47 dos 142 reservatórios em operação na Região Metropolitana eram abastecidos exclusivamente pelo Cantareira. Dois anos e uma crise hídrica depois, esse número caiu para 42 de 145 em janeiro de 2015, segundo levantamento do iG feito com base em documentos da Sabesp.
Os cinco reservatórios que antes dependiam totalmente do Cantareira e passaram a ser atendidos pelo Guarapiranga e pelo Rio Claro distribuem-se no entorno da área central da cidade: Pinheiros (zona oeste), Vila Alpina (zona leste), Jaguaré (zona norte) e Cambuci (zona sul) e Osasco-Bela Vista, na Região Metropolitana. Todos, agora, recebem água do sistema Guarapiranga ou do Rio Claro, que já abasteciam outras caixas próximas.
Os reservatórios não abastecem unicamente os bairros em que estão instalados. Questionada, a Sabesp informou que passaram a receber água do Guarapiranga os bairros Brooklin, Vila Olímpia, Cambuci, Pinheiros, Jabaquara, Sacomã, a região da avenida Paulista (como o iG havia adiantado), e uma parcela de Osasco.
A companhia, entretanto, não detalhou as decisões. Em nota, informou que a mudança "tem a ver com a flexibilidade entre os sistemas e está relacionada também com a gestão operacional."
Assistente-executivo da presidência da Sabesp e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Dante Ragazzi Pauli lembra que as áreas abastecidas pelo Cantareira também são beneficidas pelas manobras.
"Se você está guardando água do Cantareira, diminui a mancha de influência dele para que você consiga socorrer a zona norte", diz. "Ele [Cantareira] não vai mais para a região sul. Ele chega até no Sacomã, Jabaquara."
Pós-doutorado em engenharia hidráulica, o professor da USP Arisvaldo Mello avalia as escolhas feitas como melhorias para o abastecimento da cidade. O do Jaguaré, por exemplo, é um dos maiores e está localizado em um dos pontos mais altos de São Paulo.
"[Os reservatórios] foram escolhidos para otimizar o abastecimento", afirma o professor. "[E a escolha do Jaguaré] não significa que só o bairro do Jaguaré vá ser atendido. Ele pode servir de água outros reservatórios."
O remanejamento de água para os reservatórios é possível graças à integração existente entre as redes de distribuição que saem dos sistemas de abastecimento Grande São Paulo (Cantareia, Guarapiranga, Alto e Baixo Cotia, Rio Grande, Rio Claro, Capivari e Ribeirão da Estiva), construídas ao longo de mais de um século. Mas ela não é total. Mello destaca que essas redes foram dimensionadas de forma isolada ao longo das décadas em que foram construídas.
"Há um grande anel adutor que permite integrar o Alto Tietê ao Cantareira, ao Guarapiranga e chegar em muias áreas abastecidas no Cantareira [com água de outros sistemas]", diz Pauli, da Sabesp e da Abes. "[Mas] essa transferência tem limite."
Além das faltas de conexão, o custo de empurrar água de um lugar para o outro – sobretudo de regiões mais baixas para mais altas – pode tornar a operação financeiramente inviável, sobretudo para uma companhia em dificuldades financeiras como a Sabesp. Em 6 de março, três meses após o último aumento, a empresa pediu para reajustar novamente as tarifas.
Rodízio
Nos planos de contingência da Sabesp, um eventual rodízio seria implementado inicialmente na região abastecida pelo Cantareira. O entendimento, segundo uma fonte da companhia, é que não há motivo de aplicar a medida em locais que recebem água de represas que estão em boas condições, uma vez que os cortes pressupõem maior risco de vazamentos e contaminação da água, por exemplo.
Pauli afirma, entretanto, que a extensão do rodízio para outras áreas também é possível, a depender do comportamento dos sistemas. O Alto Tietê, por exemplo, está com 20,4% de sua capacidade, ante 38,5% na mesma época em 2014.
"Hoje essa é a ideia. Se você falar que hoje tem rodízio, é zona norte, Cantareira. Isso não impede que depois faça no Alto Tietê ou que você faça no próprio Guarapiranga", diz. "Se a gente chegar num regime de chuva muito ruim do ponto de vista de abastecimento, você começa no Cantareira, controla o resto e… ou seja, nada é descartado."
Fonte: iG