A semana que passou foi turbulenta para a política nacional. Moro e depois Dória anunciaram a desistência da candidatura à presidência da república, surpreendendo seus seguidores. No momento que escrevo eles estão fora do jogo, a não ser que os dois desdigam o que desdisseram nas idas e vindas das declarações que a imprensa divulgou.
Pesquisas posteriores às renúncias, captaram sinais de deslocamento dos votos do Moro em benefício do Presidente da República, melhorando sua situação eleitoral que já vinha prosperando desde que que o Centrão passou a gerir sua vida. Com o “remedinho” que o ex-presidiário Valdema (dono deste bloco) lhe dá toda manhã, ele está mais calmo e orientado.
Também Centrão, com a ajuda do Bolsonaro, melhorou sua posição política nestes últimos dias, ampliando o número de parlamentares que fazem parte do grupo. O PL, partido do Valdemar da Costa Neto, mais que dobrou o número de deputados, aproveitando a tal janela partidária. O PP e o Republicanos -base do governo- também cresceram e, juntos com o PL, representam hoje um terço da Câmara Federal.
Com tamanho poder de fogo passaram a tutelar o Presidente, que, no caso eleitoral só teve vantagens. Os espertos líderes do Centrão modificaram uma série de comportamentos do Capitão que lhe retiravam votos. Agora ele se aproximou dos católicos, seguimento majoritário da sociedade a que ele não dava a necessária atenção. Também não brada mais contra a vacina e diminuiu os ataques às urnas eletrônicas, depois que pesquisas mostraram que elas são aprovadas pela grande maioria da população. O Valdemar conseguiu até amenizar o furor do governo contra a imprensa tradicional.
Do lado oposto, não houve progresso representativo, nem novidades importantes com as desistências. O Lula mantém quase o mesmo número de seguidores, mas a diferença de votos entre ele e o segundo colocado diminuiu. A variação ainda é pequena, entretanto pode sinalizar uma tendência.
Entre estes dois polos movimentam-se os que a imprensa passou a chamar de terceira via, que só fizeram asneiras nos últimos dias. Agora estão tentando alinhar o discurso, sinalizando uma união entre vários candidatos para escolher um deles como representante do autodenominado “Centro Democrático”.
Entre estes estão Sérgio Moro e João Dória (que negam a renúncia declarada), Ciro Gomes, Simone Tebet e Eduardo Leite e Luciano Bivar Mesmo que um deles conseguisse, em um improvável acerto, a migração dos eleitores dos outros quatro, a soma das intenções de voto que hoje as pesquisas apontam (8%+7%+3%+2%+1%) não conseguiria ameaçar os dois primeiros colocados, atualmente com 44% e 30% de preferência do eleitores.
Acrescente-se que os votos que cada um tem, não são totalmente transferíveis para outro candidato e que o líder deste grupo (Ciro) é totalmente refratário a compor com outros, a não ser que estes sejam coadjuvantes.
Se este raciocínio estiver certo e as coisas não se alterarem substancialmente nos próximos meses, teremos uma sangrenta eleição, disputada entre os dois que hoje lideram a intenção de votos: Lula e Bolsonaro.
As ofensas mútuas, as leviandades verbais, os xingamentos incivis, as indesejadas fake news vão inundar a imprensa nos próximos meses.
Propostas, por certo, ouviremos poucas, mesmo porque, os dois concorrentes já tiveram oportunidade de mostrar que sabem governar um país, e a desperdiçaram.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor