RESUMO
O texto vai explorar de forma sintética os conceitos de esfera pública, ciberativismo e net-ativismo, para alcançar seus significados e destacar suas diferenças e pontos de ligações. O espaço de discussão coletiva da esfera pública, que está bastante atualmente ampliado pelas tecnologias digitais, será visto em comparação ao ciberativismo com o uso dessas tecnologias para mobilização social, ficando para o net-ativismo uma abordagem mais profunda, com a integração de humanos e não-humanos nas redes de conexão. Na conclusão se estabelece que essas transformações vão dar nova feição ao exercício da cidadania e a participação política nos dias atuais e futuros, o que precisar ser levado em consideração e analisado.
PALAVRAS-CHAVE: esfera pública, ciberativismo, net-ativismo, cidadania digital, redes conectivas, mobilização social, tecnologias digitais e participação política.
A ESFERA PÚBLICA, O CIBERATIVISMO E O NET-ATIVISMO: SÍNTESE DE SIGNIFICADOS E DIFERENÇAS
Os conceitos de esfera pública, ciberativismo e net-ativismo são centrais para compreender as transformações sociais e políticas advindas do avanço das tecnologias digitais. Embora interligados, esses termos possuem características e implicações distintas no campo da teoria e da prática. Este texto busca explorar e diferenciar esses conceitos com base na bibliografia fornecida, destacando suas particularidades e interseções.
1. ESFERA PÚBLICA
A esfera pública, conforme discutida por autores como Castells (2021) e Levy (2017), refere-se ao espaço onde os indivíduos se reúnem para discutir questões de interesse comum.
Historicamente vinculada aos salões e praças públicas, a esfera pública na era digital expandiu-se para incluir ambientes online, como redes sociais, fóruns e plataformas colaborativas.
Manuel Castells, em Redes de Indignação e de Esperança (2021), destaca que a esfera pública contemporânea é profundamente marcada pela interação entre comunicação tradicional e digital.
O conceito também é explorado por Levy (2017), que enfatiza como as redes digitais reconfiguram as dinâmicas de participação pública, transformando-a em um processo mais dinâmico, fragmentado e descentralizado.
No entanto, como argumenta Santaella (2007), a liquidez das linguagens e a mobilidade tecnológica impõem novos desafios para a esfera pública. Questões como polarização, desinformação e bolhas informacionais impactam a qualidade do debate público.
2. CIBERATIVISMO
O ciberativismo representa o uso das tecnologias digitais para mobilização social, organização de protestos e defesa de causas. Este conceito é uma extensão do ativismo tradicional para o ambiente digital.
Castells (2021) descreve o ciberativismo como um fenômeno de redes que conectam indivíduos e coletivos em torno de pautas específicas, utilizando plataformas como Twitter, Facebook e YouTube.
Para Santaella (2017), o ciberativismo é caracterizado pela sua capacidade de amplificar vozes marginalizadas e democratizar o acesso à informação. Contudo, também enfrenta limites, como o “ativismo de cliques”, em que a participação se restringe a ações simbólicas com impacto reduzido no mundo real.
3. NET-ATIVISMO
O net-ativismo é uma evolução do ciberativismo, que vai além da mobilização digital para abordar as conexões profundas entre indivíduos, redes e sistemas tecnológicos. Di Felice (2017) define o net-ativismo como a prática de criação de ecologias conectivas, onde humanos e não-humanos (como algoritmos e inteligências artificiais) se articulam em ações coletivas.
Diferentemente do ciberativismo, o net-ativismo não se limita à utilização de tecnologias como ferramentas, mas as reconhece como parte integrante das dinâmicas sociais e políticas.
Como argumenta Di Felice (2018), o net-ativismo propõe uma nova forma de cidadania digital, em que as práticas participativas são mediadas por sistemas conectivos, promovendo um protagonismo compartilhado entre humanos e não-humanos.
4. DIFERENÇAS E COMPLEMENTARIDADES
Embora interligados, os conceitos de esfera pública, ciberativismo e net-ativismo apresentam diferenças significativas:
- Esfera Pública: Espaço de discussão e deliberação que conecta indivíduos em torno de questões coletivas. Na era digital, torna-se mais dinâmica, mas também mais fragmentada.
- Ciberativismo: Uso das tecnologias digitais como ferramentas para organização e mobilização social, com foco na ampliação do alcance das causas e na democratização da comunicação.
- Net-ativismo: Envolve um nível mais profundo de interação, reconhecendo as tecnologias não apenas como ferramentas, mas como agentes coautores das dinâmicas sociais e políticas.
A esfera pública pode ser vista como o palco onde o ciberativismo e o net-ativismo se manifestam, enquanto o ciberativismo é o precursor mais superficial do net-ativismo.
Este último, por sua vez, aprofunda a relação entre indivíduos, tecnologias e ecologias conectivas, propondo um novo paradigma de participação.
CONCLUSÃO
A compreensão dos conceitos de esfera pública, ciberativismo e net-ativismo é fundamental para interpretar as transformações políticas e sociais na contemporaneidade.
Enquanto a esfera pública reflete a dinâmica do debate e da interação, o ciberativismo e o net-ativismo representam diferentes formas de agir nesse espaço, com graus variados de integração tecnológica.
O net-ativismo, em particular, aponta para uma nova etapa na evolução da participação cidadã, onde as barreiras entre o humano e o não-humano são cada vez mais difusas.
Nesse cenário, o conceito de cidadania digital, como discutido por Di Felice (2018), desafia as fronteiras tradicionais da política e da ação social, sugerindo uma ética conectiva que valoriza a cooperação em redes e a construção de ecologias participativas.
Por fim, compreender essas transformações exige um olhar atento às dinâmicas emergentes, pois elas não apenas moldam a prática política, mas também redefinem o que significa ser cidadão em um mundo interligado.
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