A ex-primeira-dama de Mato Grosso Roseli foi secretária de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) no período de 2010 a 2014. Nesse período, confessou à Procuradoria Geral da República, em acordo de delação premiada, que recebia repasses extras de empresas com as quais a pasta mantinha contrato.
Roseli alega que esses repasses eram para ajudar nas ações sociais cujo orçamento da Setas não cobria. Ela afirma que pagou algumas contas particulares com esse dinheiro e a todo momento afirma que seu assessor Rodrigo de Marchi era o responsável por todas as transações. “Era praticamente Rodrigo de Marchi que geria a Setas”, afirma ela.
Relata Roseli Barbosa que nesse período à frente da pasta conciliou o cargo com as funções inerentes a condição de primeira dama, que tomavam a maioria de seu tempo, motivo pelo qual Rodrigo de Marchi era praticamente quem geria a Setas, inclusive ordenador de despesas em alguns períodos.
Quando estava na secretaria era constantemente procurada para fazer assistencialismo, tendo atendido muitas instituições das mais variadas espécies, como obras de caridade, clinicas de recuperações, ajuda a lar de crianças e idosos, festas culturais, entre outros.
Como as demandas de natureza social e política que atendia eram várias e não conhecia a fundo o funcionamento da Setas e dos contratos, tomou conhecimento por meio de Rodrigo de Marchi que existiam algumas empresas que repassavam valores para ajudar na demandas extras da secretaria.
Roseli Barbosa confessou à PGE autorizou Rodrigo de Marchi a receber “repasses extras” dos institutos Concluir e OIH, de propriedade de Paulo Lemos, esquema que foi alvo da Operação Ouro de Touro”.
A ex-primeira-dama contou que nunca teve qualquer tratativa com Paulo Lemes referente aos institutos IOH e Concluir. “Rodrigo de Marchi era quem mantinha contato com Paulo Lemes”.
Numa certa ocasião, Rodrigo de Marchi relatou a Roseli que foi procurado por Paulo Lemes que teria oferecido vantagens quando da contratação dos institutos. Tanto Rodrigo como Roseli negaram tal oferta.
Posteriormente, Rodrigo de Marchi procurou novamente Roseli informando que as demandas extras de patrocínio no gabinete não estavam sendo atendidas e informou que a solução talvez fosse atender a proposta de repasse de percentual apresentado por Paulo Lemes.
Rodrigo de Marchi informou a Roseli que Paulo Lemes oferecera de 4 % a 5% do valor dos contratos. Roseli então autorizou a Rodrigo a receber esses valores para atender as demandas do gabinete de assistência social, entre outros.
O assessor, de acordo com a ex-primeira-dama, é quem sabe dos detalhes das tratativas e valores com Paulo Lemes. Roseli disse que sabe somente o que Rodrigo de Marchi lhe informou. Segundo Rodrigo lhe disse, nem todos os contratos tinham repasse, mas quem sabe dos detalhes todos é somente Rodrigo de Marchi, que ficou responsável tanto pelas tratativas, como pelos repasses e pagamentos.
Seligel
Como não havia recursos para todas as demandas, Roseli Barbosa tomou conhecimento, por meio de Rodrigo de Marchi (assessor especial), que existia um repasse da empresa SELlGEL no valor de R$ 10.000,00 mensais desde a gestão passada para ajudar o gabinete da secretaria nestas demandas . A partir daí autorizou Rodrigo de Marchi a continuar a receber os valores mensais da referida empresa para pagamento dessas demandas.
Rodrigo de Marchi era quem cuidava, a seu pedido, de todos os repasses da empresa e, portanto, era quem possui os detalhes dos repasses e pagamentos. Roseli afirma que não tinha qualquer contato direto ou tratativa com o representante legal da empresa, sequer o conhecendo.
Néia Araújo
Em relação a empresa de Néia de Araújo, a ex-primeira-dama contou que também prestava serviços desde a gestão anterior, e na sua gestão continuou prestando vários serviços como casamento comunitário, mulheres empreendedoras, entre outros.
Roseli garantiu que nunca houve diretamente por parte de Roseli qualquer tratativa de acordo e não havia qualquer cobrança de repasses. Não havia qualquer ajuste de percentual de sua parte.
Mas a empresa, sempre quando solicitada pelo gabinete, atendia as demandas extras da secretaria e até mesmo despesas que não eram institucionais, como contribuição com aniversários dos servidores da secretaria, brindes de final de ano, festa de final de ano dos servidores, entre outros.
Paixão de Cristo e Natal da Família
Roseli afirmou que a única empresa que teve contato diretamente com Carlina Jacob, que apresentou sua empresa para poder prestar serviços na Setas. No início não houve qualquer tratativa, nem proposta de retorno.
A empresa de Carlina prestou serviços de eventos, a exemplo da encenação da Paixão de Cristo e Natal da Família, normalmente sem qualquer vantagem indevida. A partir do segundo ou terceiro contrato, tendo em vista Carlina tomar conhecimento das várias assistências sociais que o gabinete fazia, sem previsão orçamentária, Carlina propôs repassar um valor dos contratos executados para ajudar nas demandas.
Roseli indicou Rodrigo de Marchi a Carlina, e a partir daí Rodrigo ficou a seu pedido responsável por receber os valores repassados para pagamento das várias demandas de assistência social do gabinete.
“Carlina e Rodrigo de Marchi são quem possuem os detalhes da forma como os repasses foram realizados para as demandas a serem pagas”.
Segundo Roseli, Carlina, durante o período de aproximadamente três anos de prestação de serviços possuiu alguns contratos com a Setas e, apesar de não possuir os detalhes, os valores de repasse durante todo esse período podem variar de 500 a 600 mil reais, e parte desses valores podem ter sido também utilizados para pagamentos de contas pessoais.