O ex-deputado estadual José Riva diz que todas as eleições à Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, no tempo em que ele alternou entre cargos de comando, foram compradas. Foi um período de quase duas décadas que atravessou três governos e custou R$ 38 milhões aos cofres públicos.
A informação foi publicada nesta terça-feira (8) pelo jornal A Gazeta, que teve acesso a documentos do depoimento em delação premiada de Riva ao Ministério Público do Estado (MPE). De 1997 a 2015, José Riva ou ocupou o cargo de presidente ou de primeiro-secretário, responsável pela organização financeira, do Legislativo. Neste período, o Estado foi governado por Dante de Oliveira (morto em 2006), Blairo Maggi (2002 a 2010) e Silval Barbosa (2010 a 2014).
Conforme o jornal, o depoimento foi dado à chefe da Gaeco (Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado), Ana Cristina Bardusco. Riva diz que a primeira compra de eleição da Mesa, em 1997, custou R$ 2 milhões e foi a única na qual não teve participação direta. Dos deputados componentes da legislatura ao menos 11 teriam recebido de R$ 150 mil a R$ 200 mil para votar nos candidatos indicados pelos pagantes.
Em 1999, quando foi eleito pela primeira presidente da Assembleia, o custo do cargo foi de R$ 3 milhões e novamente houve propina para 11 deputados, desta vez recebendo uma quantia entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. O dinheiro veio de factorings ligadas ao bicheiro João Arcanjo e foi restituído por meio de desvios do orçamento da Assembleia Legislativa.
Em 2001, o gasto foi próximo dos R$ 3 milhões, quantia juntada de desvios feitos da Assembleia. Mais uma vez, 11 deputados embolsaram, cada um, entre R$ 200 mil e R$ 250 mil.
A propina foi paga mesmo em ano tenso para imagem da Assembleia Legislativa e com vários deputados em apuros por causa de operação policial. É caso de 2003, quando a Mesa foi eleita alguns meses após a deflagração da Operação Arca de Noé, no fim de 2002.
Outros R$ 3 milhões foram pagos em propina, mas para um número maior de parlamentares – 13. Os articuladores voltaram a recorrer ao apoio de empresários para angariar recursos. Valcir Piran (Kuki) e Valdir Piran liberaram a quantia, devolvida por meio de desvio.
Os irmãos Piran também financiaram a eleição de 2005 da Mesa Diretora, com empréstimo de R$ 4 milhões. E os deputados apoiadores receberam a quantia fixa de R$ 250 mil. A quitação continuou saindo de fraudes no Legislativo.
Conforme o jornal, o valor mais alto de propina foi pago em 2015, com a soma de R$ 10 milhões. Riva diz que a exigência pelos deputados de valor maior em suborno foi um reflexo do desgaste de sua figura.
José Riva foi afastado do cargo de presidente pela primeira vez em maio de 2013 por determinação do Tribunal de Justiça. O Ministério Público havia instaurado investigado na qual foi descoberto que Riva chefiou um esquema de desvio de dinheiro da Assembleia, entre 2012 e 2014.
Em 2015, ele foi preso três vezes em decorrência de investigação na Operação Sodoma. Na mesma operação foram presos, Silval Barbosa, que havia encerrado mandato em 2014, e os ex-secretários Marcel Cursi e Pedro Nadaf. Todos eram acusados de cobrar propina para a concessão de incentivos fiscais.