A maioria dos eleitores que vai votar em outubro não tinha nascido ou era muito jovem para entender, que em 1985, quando Tancredo Neves foi eleito Presidente da República, encerrava-se um período ditatorial de mais de 20 anos no Brasil.
No período posterior a essa ditadura militar a palavra mais lembrada pelos políticos em seus pomposos e vazios discursos era “democracia” e todos os candidatos que queriam ficar bem com o povo, diziam-se autênticos democratas.
Daí a democracia foi caminhando sem contestações com Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer a ponto de os brasileiros suporem que ela estava suficientemente cristalizada na sociedade e que não corria mais risco de ser questionada.
Mesmo nos momentos turbulentos, como foi a deposição do Collor, substituído por Itamar Franco e no impeachment da Dilma, sucedida pelo vice Michel Temer, não se enxergava o perigo da volta dos militares ao poder.
Também quando, através da Lava Jato, descobriu-se uma podridão encastelada nos três seguidos governos do PT, as coisas do ponto de vista político continuaram normais, sem se imaginar nenhuma ruptura democrática.
Esses momentos foram muito graves, mas o povo continuava acreditando no poder do voto para alterar as coisas, não nas ações totalitárias. Tanto que nas campanhas políticas para as eleições de 2018 a palavra “democracia” que reinara desenvolta no período pós-ditadura, perdeu a relevância. O importante não era mais exaltar a liberdade, pois esta parecia consolidada, mas combater a corrupção que se alastrara na sociedade.
Agora, nos discursos dos políticos, a palavra “corrupção” está perdendo a importância, sinal de que a ladroeira segue em queda, o que é, sem dúvida, mérito do atual governo.
Mas, em contrapartida uma outra palavra ganha força – “democracia”. Se ela está sendo lembrada com insistência é porque está ameaçada. A recorrência do Presidente – aceita como normal por parte da população – em desmoralizar as instituições brasileiras, mostra o perigo que a liberdade está correndo.
A vítima predileta do Presidente é a Justiça Eleitoral, justo ela que é um dos pilares da democracia. Outra compulsão sua é desmerecer a imprensa tradicional e livre, sem a qual não prospera a liberdade. Ameaça ainda descumprir determinações do Supremo, fingindo desconhecer que, constitucionalmente, o Supremo fala por último e que deve ser ouvido e acatado.
Há um risco real de retrocesso institucional, agravado pelo apoio ao autoritarismo de parte da população. Até aqui não sabíamos que um grupo importante da sociedade brasileira (cerca de 1/3 dela), apresenta uma pré-disposição de ressuscitar a ditadura, alegando medo da volta da corrupção ou da instalação de um improvável regime marxista no País. Este grupo, estimulado pelas mídias sociais direcionadas, aprendeu com o bolsonarismo a menosprezar a imprensa profissional, a odiar o STF e a suspeitar da urna eletrônica. Estranho que a urna, presente nas eleições brasileiras desde 1996 sem nenhum problema, de repente caiu em descrédito só porque o Presidente invocou com ela.
A semente do autoritarismo está lançada. Pior, sob o aplauso inconsequente dos que não sabem o que é uma ditadura. Não sabem e nunca vão aprender porque, ignorando a grande imprensa nacional, se informam somente pelo Whatsapp, Instagram, Twitter e outras plataformas da mesma espécie.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor