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Regiões Sul e Sudeste concentram quase 70% dos museus do país

As regiões Sul e Sudeste concentram 67,2% dos museus do país, segundo um levantamento feito pelo G1 com base em dados do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). São 3.586 instituições cadastradas e mapeadas no país, sendo que, do total, 2.408 estão no Sul e no Sudeste.

Os dados foram coletados no dia 1º de junho através do site do Cadastro Nacional de Museus (CNM), sistema do Ibram que mapeia e cataloga as instituições do país. Toda instituição sem fins lucrativos e de natureza cultural, que conserva e expõe ao público para fins de preservação estudos, coleções de valor histórico, artístico ou científico e bens de contemplação e turismo, pode ser cadastrada no sistema.

As regiões com as concentrações mais baixas são a Norte (4,7% dos museus do país) e a Centro-Oeste (7,42%). A Sudeste tem 4 de cada 10 instituições mapeadas no Brasil.

“[A concentração dos museus] é reflexo das disparidades das regiões do país. Todos os índices refletem isso em regiões mais pobres. O poder público não tem controle sobre o que faz, e o resultado é que não tem museu, escola, biblioteca, posto de saúde, entre outros serviços”, diz Ana Silvia Bloise, presidente do Conselho Federal de Museologia (Cofem).

Considerando os estados, as diferenças são ainda maiores. No Maranhão, apenas 10 das 217 cidades têm museus. De acordo com o Cadastro Nacional de Museus, são 35 instituições para uma população de 6.794.298, o que corresponde a um museu para cada 194.123 pessoas. Isso torna o Maranhão o estado com a pior taxa do país. Com 2ª pior média de museus, Pará reclama de falta de recursos.

Já no Rio Grande do Sul, são 449 museus para 11.253.153 pessoas, o que dá uma média de uma instituição para 25.063 habitantes. A média do país é de uma unidade para cada 57.001 pessoas.

Segundo o Ibram, a existência e a distribuição de museus estão ligadas a diversos aspectos, como existência de órgãos ou estruturas administrativas voltadas à cultura e de políticas públicas municipais e estaduais voltadas à valorização da memória.

"Há também fatores mais abrangentes: a economia regional, a renda per capita, a relação com o turismo (…). Atribuímos especialmente à economia, tendo como parâmetro comparativo o Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios, a forte influência sobre fatores que podem promover ou prejudicar a distribuição de museus no território nacional, da perspectiva municipal", informou o instituto em nota.

Cidades sem memória
O levantamento feito pelo G1 demonstra que 76,7% das cidades do país não têm museu – ou 4.272 dos 5.570 municípios brasileiros. Além disso, é importante considerar que alguns museus mapeados e citados no CNM estão fechados para reformas ou ainda em implantação. No caso do Acre, por exemplo, são listados 24 museus no sistema, mas pelo menos sete locais estão desativados.

Segundo Bloise, não há um parâmetro internacional de distribuição de museus em países ou cidades, mas o Cofem interpreta o percentual brasileiro como negativo. "Para a construção de identidade, de fortalecimento do pertencimento das pessoas ao local, [ter um museu] é uma das coisas mais importantes, principalmente para jovens. Por isso, o ideal seria que cada município tivesse o seu museu, o seu espaço de memória, de trocas."

De acordo com o Ibram, dados do instituto já apontavam uma distribuição desigual de museus no país há 5 anos. Mesmo com aumento do total de instituições – eram 3.025 em 2010 –, os percentuais de distribuição nas regiões do país continuam semelhantes. 

O instituto destaca, porém, que o total de municípios que possuem museus aumentou. O levantamento feito pelo G1 em 1º de junho aponta que o percentual de cidades com unidades era de 23,3%, enquanto que, em 2010, era de 21,1%. "Vale lembrar também que os municípios que mantêm museus concentram cerca de 80% da população brasileira, que, por sua vez, concentra-se ao longo do litoral e em grandes cidades", informa o Ibram.

Sem profissionais
Apesar de ter o sonho de ver cada cidade brasileira com seu museu, Bloise afirma que o assunto exige cautela, já que a manutenção das instituições deve ser cuidadosa. "O patrimônio precisa ser cuidado por pessoas que têm formação [em museologia] e que entendem disso. Mas há muitos museus sem estes profissionais, pois as prefeituras geralmente acham que o trabalho pode ser feito por qualquer pessoa", diz.

"A ideia de que museu é lugar de 'coisa velha' é um estereótipo que precisa ser mudado. Os museus são vivos e existem devido à relação do homem com o meio, relacionando o passado com o presente. Para que isso seja possível é imprescindível uma equipe interdisciplinar, para que os museus possam cumprir seu papel social", afirma a museóloga Carine Duarte, coordenadora do Sistema Estadual de Museus do Rio Grande do Sul.

Segundo a presidente do Cofem, há diversos pontos negativos que vêm com a falta de um corpo técnico nas instituições. "As pessoas não sabem interpretar o patrimônio, não sabem como preservar ou montar exposições. São amadores, então não há como fazer um trabalho de qualidade. É como ter um hospital sem médicos."

Falta de cuidado e interesse
Assim, apesar de reconhecer a falta de museus em muitas regiões do país, Bloise ressalta que cuidar das instituições que já existem é ainda mais importante que abrir novas unidades. "Por um lado, é triste ver que uma pessoa não tem acesso porque não tem museu na sua cidade, mas por outro é triste ver que os museus que existem não estão sendo bem cuidados por problemas de verbas e problemas técnicos", diz.

Diversos estados também reclamam da falta de divulgação dos espaços já existentes e da falta de interesse da população. “[Os museus] são pouco conhecidos pela maior parte do público, que raramente desenvolve o hábito de frequentá-los. É triste, mas é importante considerar que os brasileiros frequentam mais os shoppings do que os museus e bibliotecas”, diz o coordenador do Instituto Câmara Clara, Daniel Choma, de Santa Catarina.

Pontos de memória
Em nota, o Ibram afirma que "publica periodicamente editais para fomento ao setor, que visam desde apoiar e premiar iniciativas às experiências de memória social desenvolvidas por grupos comunitários até a construção e modernização de museus ou iniciativas de melhoraria da infraestrutura ou da gestão dos museus, tais como o Edital Mais Museus, o Edital Modernização de Museus, entre outros".

O instituto também informa que trabalha para que o acesso aos museus seja facilitado pela criação de unidades em todas as cidades do país. Mas ressalta que a expansão é um desafio e que "fica latente a necessidade de haver crescimento nos investimentos para o setor, tanto públicos como privados".

Os Pontos de Memória, espaços voltados para a memória e focados em grupos étnicos-culturais, como indígenas e ciganos, são citados pelo Ibram como exemplo de fortalecimento do setor no país, especialmente no Norte e no Nordeste. Para incentivar a fomentação dos espaços em regiões pouco representadas, foi criada a concessão de bônus de pontuação nos editais. Assim, há maior bonificação de pontos para propostas do Norte do que para propostas do Sul, por exemplo.

"Apesar do número de museus ter aumentado nos últimos anos, o Ibram avalia que ainda há muito o que se caminhar a fim de estimular o acesso de todos os brasileiros aos museus, principalmente os que se encontram nas faixas de menor Índice de Desenvolvimento Humano. A partir das informações coletadas pelo CNM junto aos museus, há uma média de 65 museus criados anualmente desde 2009. Trabalhamos para que esse número melhore", informa o instituto.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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