A mobilidade é tida como um dos direitos fundamentais das pessoas e pode ser enquadrada num paradigma mais amplo, que é a garantia à moradia. Deslocar-se de forma segura e confortável impacta diretamente na qualidade de vida dos cidadãos, além de preservar o bem mais precioso que dispomos: o tempo. Vedete na área de transporte dos últimos anos, o avião pode ser o símbolo máximo dessa autonomia, assim Mato Grosso tem muito a lamentar com a situação em que se encontra seu principal aeroporto, situado em Várzea Grande.
O contrato nº 065/2012/Secopa, cujo objeto é a “contratação de empresa para realização de obras e serviços de engenharia“ no Marechal Rondon, trouxe esperanças para os mato-grossenses naquele que já foi considerado como o “pior aeroporto do país”, segundo o Comitê de Desempenho Operacional Aeroportuário, da Secretaria de Aviação Civil, pasta ligada à Presidência da República.
Oficializada no Diário Oficial de Mato Grosso em 12 de dezembro de 2012, a obra deveria contar com um edifício administrativo, demolição de edificações externas e do setor A para nova construção (que contaria ainda com a desmontagem do módulo operacional [MOP]), ampliação do setor B, estacionamento e vias de acesso. Tudo para garantir o conforto de uma das cidades-sede da Copa do Mundo 2014.
A realidade do aeroporto, entretanto, está longe de um final feliz. Ao todo, apenas 72% da obra estão prontos, quase um ano após os jogos, e hoje o terminal tem futuro incerto, uma vez que o Consórcio Marechal Rondon – que venceu a licitação para sua reforma e é composto pelas empresas Engeglobal, Farol Empreendimentos e Multimetal – será “devolvido” para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), mesmo com o valor de mais de R$ 60 milhões, previsto pelo contrato 065/2012/Secopa, ter sido pago às três organizações.
Entre as obras que foram consideradas entregues, encontram-se espaços que teriam apenas caráter provisório, e que no entanto servem os mais de 1 milhão de passageiros que passam pelo local todos os anos – como a sala de espera para embarque, que foi adaptada. Além disso, dos quatro fingers, isto é, as estruturas que realizam a comunicação entre o aeroporto e as aeronaves, apenas dois funcionam.
Em declaração sobre a reforma do aeroporto, o secretário Eduardo Chiletto, da Secretaria de Estado das Cidades (Secid), afirmou que a obra de reforma voltaria a ser responsabilidade da Infraero em virtude da “baixa capacidade operacional do consórcio construtor”, que é acusado de não realizar pagamentos a empresas terceirizadas e de não conseguir entregar um serviço que recebeu três aditivos de prazo para conclusão dos serviços e seis para reajuste do valor.
A qualidade da obra também é de caráter duvidoso. Em julho de 2014, o forro e o teto de um dos setores cederam em razão das chuvas. Menos de dois meses depois, em setembro, novas precipitações danificaram a área externa e a cobertura da praça de alimentação.