O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou nesta sexta-feira (8), que o fator mudança climática e potenciais novos eventos climáticos extremos serão levados na reconstrução das cidades e reparos dos danos causados pelos temporais que devastaram parte do estado.
As fortes chuvas deixaram 41 pessoas mortas no estado. O número de desaparecidos subiu para 46 nesta sexta-feira (8), sendo 30 pessoas desaparecidas na cidade de Muçum, oito em Lajeado e oito em Arroio do Meio.
"Dentro de todo evento climático, [incluindo] salvamentos, resgates, assistência humanitária e agora no processo de reconstrução, a gente já tem que levar em consideração essas novas condições climáticas", afirmou o governador.
Ele citou como exemplo as pontes que cederam com a força das enxurradas. Disse que os novos projetos de engenharia devem levar em conta não só o volume de água em condições normais, mas também prevendo situações excepcionais.
A reconstrução das cidades também deverá levar em consideração o componente das mudanças climáticas. De acordo com Leite, parte das cidades atingidas pelas enchentes não eram consideradas áreas críticas.
"Não eram áreas de risco no sentido de serem áreas precárias, áreas de risco de iminente alagamento, mas são cidades que estão às margens ou perto de um rio", disse Leite, que prometeu ações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e para preservação ambiental, incluindo apoio a pequenos municípios na elaboração do plano diretor.
O governo gaúcho ainda nesta sexta-feira anunciou a liberação de R$ 1 bilhão em financiamento para as vítimas das chuvas por meio do banco estatal Banrisul. Deste total, cerca de R$ 300 milhões serão destinados ao setor agrícola, que segundo o governador foi um dos mais prejudicados pelas enchentes.
Outros R$ 500 milhões serão destinados a empréstimos para prefeituras e R$ 100 milhões serão voltados para o financiamento imobiliário.
Ao todo, 85 municípios do Rio Grande do Sul têm registros de destruição causada pelas chuvas que deixaram 3.193 pessoas desabrigadas (dependem de abrigos públicos) e 8.256 desalojadas (podem se acomodar na casa de parentes e amigos). As enxurradas ainda deixaram 73 pessoas feridas.
O governo gaúcho estima em 135 mil o total de afetados pelos temporais em todo o estado, cenário quem impôs ao governo uma força-tarefa com cerca de 900 servidores que atuam nas buscas, resgates, identificação de corpos e reparos na infraestrutura destruída pela força das águas.
Nesta quinta (7), o governo federal reconheceu o estado de calamidade pública solicitado pelos municípios gaúchos atingidos pelos temporais.
Em entrevista no início da tarde desta sexta, o presidente em exercício Geraldo Alckmin (PSB) anunciou o envio de 20 mil cestas básicas para atender as famílias atingidas e disse que o governo fará um repasse equivalente a R$ 800 por cada desabrigado. O recurso será repassado às prefeituras para o atendimento emergencial às famílias.
Alckmin também anunciou a criação de um comitê de trabalho permanente para atender às vítimas dos temporais e disse que deve embarcar para o Rio Grande do Sul no próximo domingo (10), para acompanhar de perto os trabalhos de resgate e atendimento à população.
Questionado sobre o motivo de Lula (PT) não ter ido às regiões atingidas, Alckmin disse que o mandatário participou das celebrações do Dia da Independência e, no dia anterior, teve uma indisposição de saúde. Na noite de quinta, Lula embarcou para a Índia, onde vai participar da Cúpula do G20.
"Tudo isso é resultado das mudanças climáticas. O presidente Lula está na Índia e um dos temas é a questão do aquecimento global e das mudanças climáticas" afirmou Alckmin.
O governo federal disponibilizou 13 antenas digitais para normalizar as comunicações nas áreas mais afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Com a queda de antenas de sinal de internet, a comunicação com a região atingida pelas chuvas está prejudicada, o que isolou famílias. Alckmin prometeu resolver a situação nos próximos dias.
Os trabalhos de buscas seguem nas principais áreas afetadas pelas chuvas com o auxílio drones, incluindo equipamentos com tecnologia termal que capta variações de calor e identifica sinais de vida.
Uma força-tarefa foi montada pelo Instituto Geral de Perícias para identificar os corpos das vítimas em Porto Alegre e em cidades do interior. A liberação para os velórios depende de uma normalização mínima na rotina das cidades afetadas, que chegaram a ter mais de 80% de sua área urbana submersa.
Uma das cidades mais atingidas pelas chuvas, Muçum (156 km da capital), está com seus principais acessos bloqueados, infraestrutura danificada e ruas enlameadas. Por isso, um velório com dez vítimas das chuvas na cidade de Muçum será realizado neste sábado na cidade vizinha de Vespasiano Corrêa.
Os estragos das chuvas ainda mantêm dez bloqueios totais ou parciais de rodovias nesta sexta-feira (7), sendo nove em estradas estaduais e uma em estrada federal. Entre as rodovias federais, há um ponto de bloqueio na BR-116 na cidade de São Marcos, onde a ponte do rio das Antas foi interditada por questões de segurança.
Nas rodovias estaduais, duas pontes foram destruídas pelas chuvas. O governo informou que trabalha para desobstruir as rodovias para que os artigos de primeira necessidade possam chegar às cidades atingidas pelas chuvas.
O governador disse que já foi arrecadada uma quantidade significativa de alimentos e roupas usadas e pediu que as doações se concentrem em roupas íntimas novas, roupas de cama e fraldas.
Em boletim meteorológico divulgado nesta sexta-feira (8), a Defesa Civil afirmou que o estado segue com risco de chuva forte, eventual queda de granizo e rajadas de vento nas regiões noroeste, nordeste, centro, sul e da campanha. Nas demais áreas do estado, ocorre chuva fraca a moderada.
Para a madrugada e manhã deste sábado (9), a previsão é de chuva moderada a forte em áreas da metade Sul, com chance de temporais pontuais na Campanha gaúcha. No domingo (10), as instabilidades devem retornar sobre a metade norte do estado, mas com chuvas fracas ou moderadas.