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Rapper cuiabana se preparar para lançar seu primeiro cd

Após uma trajetória pessoal conflituosa, a rapper Karla Vecchia finaliza seu primeiro álbum. O projeto conta com participações de nomes conceituados no cenário nacional como Conexão do Morro, J. Arais e Família IML. Além disso, Karla também planeja lançar seu segundo videoclipe até o final de julho.

O encontro com a artista foi no bairro Jardim Vitória, durante uma das oficinas do projeto social “Hip Hop Contemporâneo”, da ONG FavelAtiva. Naquela quinta-feira (30) as crianças estavam tendo aula sobre um dos elementos do Hip Hop, o grafite. A cantora explica que os projetos sociais são parte inseparável dela mesma e de sua filosofia de vida.  

“Se eu estou em um programa social hoje é por causa do rap, porque ele me prega isso. Tem muitas crianças periféricas que ao invés de pegar numa arma, pega no papel e caneta. A nossa intenção é mostrar que existe o outro lado, porque eles vivem em comunidades totalmente violentas, onde existe crime, toque de recolher. A gente mexe com a formação do indivíduo, eu estou muito feliz com essa parceria, porque o rap é isso”, explica Karla.

Karla conheceu o rap aos 13 anos, quando foi morar com a mãe em uma periferia no Paraná. “Na época, em 2004, era muito forte o movimento na região, conheci pessoas que moravam lá e usavam camiseta larga, aqueles bonezinhos de aba reta. Eu me identifiquei, porque era o cotidiano da periferia que eles relatavam e é uma música discriminada pela burguesia, pelo sistema, pela polícia e o meu passado foi de discriminação, então acho que a minha primeira identificação foi essa ”.

A dedicação ao rap como profissional e não somente como público veio há dois anos, através do incentivo da poetisa Luciene Carvalho. Karla define a escritora como o “P” do rap em Mato Grosso, se referindo ao nome do gênero musical: Ritmo e Poesia. “Como eu estou sempre na casa dela, a Luciene Carvalho me ensinou a rimar e foi facilitando a minha escrita. Aconteceu naturalmente, porque desde pequena eu gosto de música e na escola sempre tive um bom desenvolvimento com papel e caneta”, afirma a artista. 

Antes desse encontro, a vida de Karla teve uma pausa, quando ainda adolescente se envolveu com o crime e o uso de drogas. "Passei pelo submundo das drogas e crimes. Vivi a ostentação a princípio e também a degradação do uso de drogas e suas consequências", conta.

Depois de seis anos nessa rotina Karla foi internada em uma comunidade terapêutica e desde então, está há quatro anos e meio sem usar drogas. “Foi através de uma comunidade terapêutica, de uma oportunidade”. Essa noção de que basta uma oportunidade para melhorar a vida de alguém levou ao envolvimento mais profundo de Karla com o rap e projetos sociais.

“O rap é uma postura, uma maneira de viver, onde você age com princípios espirituais. Você age com humildade, respeito, com amor ao próximo e eu estou me descobrindo depois da fase que passei com o uso de drogas. Todos esses eventos que estão acontecendo, cantei em Mato Grosso do Sul, em setembro vou cantar em Brasília. É uma conquista para mim, porque o rap gangsta não tem visibilidade”.

O gangsta é um estilo dentro do rap, que se caracteriza por retratar o cotidiano das periferias através da denúncia e crítica ao Estado e o sistema capitalista. O sub-gênero foi popularizado nos Estados Unidos durante os anos 80 com nomes como N. W. A. e Ice Cube, e no Brasil com RZO, Facção Central, entre muitos outros. O rap gangsta segue firme até hoje, mas por suas letras e batidas mais pesadas e pouco dançantes é o estilo dentro do rap com menos visibilidade no mainstream.

Em dois anos de carreira Karla já foi atração de abertura no último show do Racionais em Cuiabá e lançou o videoclipe da música “Amor Incondicional”. Agora, a artista se prepara para lançar mais um videoclipe e seu primeiro álbum. “Todas as minhas letras são autorais e fazem parte da minha vivencia, do passado e dos dias de hoje. Tenho duas músicas que são referências do álbum, a ‘durante um gole’, que é uma música para o meu pai, que é alcoólatra e uma música para minha filha”.

O CD está sendo produzido pelo paulista Branco Neves, que já trabalhou com grupos como Subúrbio Negro e Facção Central. O projeto terá entre 15 e 17músicas com participações de Conduta Do Gueto, Will Marx, Conexão Do Morro, Smith & J. Ariais, Narradores Do Drama, Família IML, entre outros.
 

 

Bruna Gomes

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