Interesso-me por efemérides. Especialmente aquelas próximas às minhas vivências. Nesta semana, duas a memorar: criação da Rádio Senado e das Histórias em Quadrinhos. Uma, criada na presidência de José Sarney, em 29 de janeiro de 1997; outra, no reinado de D. Pedro II, em 30 de janeiro de 1869.
A Rádio Senado, com a inscrição ‘Sintonizada com o Brasil’, presente nas cinco regiões do Brasil, está no ar todos os dias, por 24 horas, em transmissão para 16 capitais. E, por meio da Rádioagência, conta com mais de 4.000 emissoras parceiras cadastradas em todo território nacional (em Cuiabá, a Rádio CPA FM, frequência 105.9 MHz, é uma delas). As transmissões das sessões plenárias e de comissões são prioridades da programação da Rádio Senado (notícias, reportagens, boletins noticiosos e entrevistas). Sem dúvida, um canal que disponibiliza informações de grande importância para a vida dos cidadãos. Mas, ainda, uma emissora que expõe as trajetórias políticas dos parlamentares. Com minhas palavras, quem é quem no Senado brasileiro. Também coloca à disposição dos ouvintes programas culturais de muito bom gosto.
Como uma carioca da gema, cultuo diariamente o hábito de estar sintonizada em um aparelho de rádio (ouvido por 83% da população brasileira). Bem cedo, durante o café da manhã, estou na companhia da equipe do Conexão Senado, quando é possível interagir com os apresentadores do programa, via WhatsApp ou YouTube. Os ouvintes assíduos passam a ser reconhecidos por seus apresentadores com cumprimentos mais enfáticos.
As Histórias em Quadrinhos, as famosas HQs, desde o ano de 1984, por iniciativa da Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo, ganharam um dia de homenagem. A data se reporta à publicação da primeira história em quadrinhos, de autoria do ítalo-brasileiro, Angelo Agostini: ‘As aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma viagem à corte’, publicada no periódico ‘Vida Fluminense’. Um rapaz de vinte anos, interiorano, de família abastada se enamora pela virtuosa Sinhá Rosa, que vivia em estado de privação financeira. Os quadrinhos contam as ardilezas que o pai de Nhô Quim encontra para afastá-lo de Rosa. O conto de Agostini se apresenta de maneira crítica diante aos graves problemas sociais, culturais e políticos dos centros urbanos em fins do século XIX.
Mas, para além da proximidade das datas, por que colocá-las lado a lado?
A Rede Senado de Rádio, no programa ‘Autores e Livros’, revista com entrevistas e notícias sobre literatura, apresentado aos sábados e domingos por Anderson Mendanha, anunciou a reedição fac-similar de ‘O Guarany’, do Correio Universal (1937). O romance de caráter indianista de José de Alencar ganha uma adaptação em quadrinhos do historiador e caricaturista Francisco Acquarone, edição do Senado Federal, já em segunda edição que pode ser baixada gratuitamente*.
A adaptação de ‘O Guarany’ por Acquarone não desfila sozinha na modalidade textual e artística das HQs. Sobre os povos indígenas, recomendo: Brasileiros: terra do grande encontro e O segredo da Jurema, de Carlos Eugênio Patati e Allan Alex (2003); Hans Staden: um aventureiro no Novo Mundo, adaptação de Jô Oliveira (2005); I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, adaptação de Silvino (2012); Histórias e mitos indígenas da Amazônia, deMarcos Moura, Levi Gama e Rafaela Pimentel (2021).
*(https://livraria.senado.leg.br/index.php?route=product/product&product_id=1404&search=O+guarany)
Anna Maria Ribeiro Costa é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.