"Cheguei em casa [no dia 7 de março] e vi meu filho com um monte de manchas roxas [nas costas e na perna]. Ele nem conseguia abrir os olhinhos direito. (…) No outro dia, quando me disseram o que poderia ter acontecido, eu olhei por baixo da fralda e vi as marquinhas do que ele [o suspeito] fez. Fui até ele com muita raiva, nem sabia o que fazer, e ele falou que tinha feito a maldade com meu neném. Ele merece tudo o que acontecer de ruim agora, eu sei como o meu filho estava", declarou a adolescente, com voz baixa e as mãos trêmulas ao lembrar do episódio. "É uma mentira esse laudo", disse.
No dia 8 de março, a adolescente levou o filho ao hospital. Os médicos suspeitaram de estupro, alertaram a mãe e ela garantiu que iria delatar o companheiro. A denúncia contra o suspeito foi registrada no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), no bairro Pacoval, Zona Leste de Macapá, em 10 de março, quando a mãe teve a oportunidade de fugir da casa onde morava com o companheiro e o filho, no bairro Perpétuo Socorro, também na Zona Leste.
A Polícia Civil afirmou ter iniciado as buscas pelo suspeito no próprio dia 10. O homem foi preso no dia 12 de março, cinco dias após o suposto crime. Na delegacia, o padrasto disse que estava "possuído pela bebida" naquela noite. "Eu fui possuído pela bebida, não sei o que aconteceu", declarou.
"Quando ele [o suspeito] ficou sabendo que eu queria ir à polícia, ele e a mãe dele não me deixaram sair de casa. Fiquei presa, mas dei um jeito de sair por causa da vida do meu filho. Mas a polícia só apareceu quando os vizinhos tentaram agredi-lo [o homem]", contou a adolescente, que morava com José Nilson há três meses, após deixar o município de Itaubal, a 246 quilômetros de Macapá, onde vivia com a família.
Segundo a delegada Elza Nogueira, titular da Delegacia de Polícia Especializada (DPE), que deu apoio na investigação do caso, José Nilson se escondeu antes de ser preso. "Quando ficamos sabendo que populares tentavam linchá-lo, também soubemos da localização dele. Então foi efetuada a prisão", disse.
Laudo
Mesmo antes da divulgação do laudo oficial da Politec, o diretor do órgão, Odair Monteiro, havia dito que as marcas encontradas no menino – como inchaço no corpo e lesões no ânus e no abdômen – poderiam caracterizar estupro, mas também poderiam ter ocorrido em função de uma diarreia crônica que o garoto apresentava ao dar entrada no hospital.
"As lesões encontradas no corpo da criança são compatíveis com o avanço de uma diarreia crônica. Mas se ocorreu qualquer ato libidinoso contra o menor será considerado estupro. Se ele [o suspeito] confessou o crime, cabe à Polícia Civil continuar a investigação", afirmou Monteiro.
O delegado Daniel Mascarenhas, da Delegacia de Repressão aos Crimes Praticados contra a Criança e o Adolescente (Dercca), lembrou que a nova redação da lei de crime de estupro, alterada em 2009, prevê que a "prática de atos libidinosos e abuso de vulnerável" seja classificada como estupro, resultando em pena de 12 a 15 anos de prisão.
De acordo com a delegada Elza Nogueira, a mãe do menino também poderá ser ouvida sobre os maus-tratos causados à criança. "Jamais faria isso, ele é meu neném", declarou a mãe.
G1