Somos um país em que:
– programas televisivos de entretenimento colocam num mesmo patamar, e juntos dançando funk, moradores e policiais de comunidades, tudo feito com a presença e o aplauso do chefe de polícia de um Estado.
– a prostituição, apesar de não legalizada, exibe como troféu uma jovem que leiloa na mídia a sua virgindade, com excelente retorno comercial.
– políticos altamente corruptos e condenados pelo mais alto poder do país, reassumem postos de destaque na hierarquia governamental.
– participantes de programa de televisão de baixo nível são chamados publicamente de heróis pelo seu apresentador.
– mulheres que tiveram como representantes femininas pessoas de alto nível num passado próximo, voltam a ser estigmatizadas como mulheres fruta, tendo seu ibope aumentado no mercado da carne.
– idosos, após uma longa vida de trabalho, são desrespeitados por meio de aposentadorias ridículas, enquanto parlamentares, após quatro anos, com frequência de desserviços, se aposentam com vencimentos integrais.
– médicos e professores, baluartes de uma sociedade bem estruturada, são agraciados com sub-salário e sub-respeito.
– um presidente inculto apregoa com orgulho na televisão o triste fato de nunca ter lido um livro.
– pessoas capazes profissionalmente são rejeitadas em prol de outras com alto índice QI (quem indica).
– verbas para educação e saúde são preteridas em favor daquelas para propaganda governamental e compra de votos de parlamentares coniventes com os esquemas de corrupção.
– as nossas lindas e extensas praias são celeiros da mais absoluta democracia, quando as mais diferentes tribos, praticamente desnudas, convivem num clima de perfeita harmonia. Esse é o lado bonito dos nossos contrastes.
– pessoas assalariadas gastam em três dias de folia os seus minguados recursos, na fantasia de se tornarem reis ou rainhas, ainda que por um curto período.
– adeptos do amor sem preconceito, totalmente livre, reinvidicam leis que tolhem essa mesma liberdade.
Seria cômico se não fosse trágico. Mas, assim é a nossa querida República que, como uma jovem senhora promíscua, transmite aos seus filhos um legado de desencanto e de apatia.
Como se egressos de um sonho, quem sabe um dia acordaremos mais otimistas e mais confiantes com o destino de tão belo país?
Quem sabe uma nova “PASSARGADA”, em que eu, mesmo não sendo rei, teria os meus direitos respeitados.
Gabriel Novis Neves