Como precisamos que celebridades e criadores digitais usem sua influência para inspirar valores, proteger gerações e despertar consciências.
Vivemos em um tempo em que a palavra tem um poder sem precedentes. Nunca tantas pessoas tiveram acesso, em tempo real, a vozes que falam diretamente com elas por meio das telas, como nos dias atuais.
Youtubers, blogueiros e artistas não são apenas ídolos ou figuras do entretenimento: são formadores de opinião capazes de tocar mentes e corações, sobretudo entre os jovens, adolescentes e crianças que os acompanham com devoção. Essa influência, quando usada com responsabilidade, tem força para abrir caminhos, transformar realidades e até salvar vidas.
O exemplo recente do youtuber Felca mostra a grandeza que pode nascer quando alguém decide colocar sua visibilidade a serviço de um bem maior. Com coragem, ele expôs a perigosa prática da “adultização” de crianças nas redes sociais. Em poucos dias, seu vídeo ultrapassou milhões de visualizações, despertou pais, alertou adolescentes e mobilizou instituições públicas. Mais do que um conteúdo viral, sua atitude foi um chamado à consciência coletiva. Ele mostrou que uma voz, quando se ergue com propósito, pode ecoar por toda a sociedade e provocar mudanças reais.
Outro exemplo de grande relevância vem do vocalista do Imagine Dragons, Dan Reynolds, que tem usado sua visibilidade mundial para falar abertamente sobre saúde mental e a importância da terapia como ferramenta para enfrentar a depressão. Sua postura corajosa não apenas inspira fãs de todas as idades a cuidarem de si mesmos, mas também contribui para quebrar tabus que ainda cercam o tema.
Ao compartilhar sua própria experiência, Reynolds mostra que mesmo figuras admiradas e bem-sucedidas enfrentam fragilidades, e que buscar ajuda profissional não é sinal de fraqueza, mas sim um ato de coragem e responsabilidade consigo mesmo. Esse tipo de discurso, vindo de alguém com tamanha influência, alcança milhões de jovens que muitas vezes silenciam suas dores por medo de julgamento.
É necessário que os influenciadores compreendam a dimensão de seu poder de comunicação e escolham utilizá-lo como instrumento de transformação positiva. Mais do que gerar entretenimento, eles podem e devem transmitir boas mensagens, fortalecer princípios de respeito e solidariedade, alertar sobre os danos da violência doméstica e chamar atenção para a importância da proteção efetiva de crianças e adolescentes. Quando compartilham informações corretas, desprovidas de ideologias ou direcionamentos religiosos, contribuem para a formação de uma sociedade mais consciente, justa e humana. Ao resgatarem valores fundamentais de empatia, dignidade e respeito ao ser humano, tornam-se agentes de esperança em meio a um cenário muitas vezes marcado por indiferença e desinformação.
Esses exemplos deixam claro que o poder da influência não se mede apenas em números de seguidores, mas na capacidade de transformar vidas. Cada postagem, cada discurso, cada música ou vídeo pode despertar reflexões profundas, inspirar atitudes e abrir diálogos que o silêncio muitas vezes sufoca.
Por isso, a responsabilidade dessas figuras é imensa: não basta brilhar; é preciso iluminar. Não basta falar; é preciso dar voz às questões urgentes do nosso tempo.
O mundo moderno está cheio de perigos, mas também repleto de oportunidades para o bem. Precisamos de mais vozes que tenham a coragem de usar sua popularidade para alertar, educar e inspirar. Quando celebridades e influenciadores assumem essa missão, eles se tornam mais do que ícones: tornam-se agentes de transformação.
Que exemplos como os de Felca e Dan Reynolds sirvam de inspiração para que outros também despertem para essa responsabilidade, porque, no fim, cada palavra lançada no mundo pode ser uma semente de esperança, e nunca sabemos em qual coração ela florescerá.
Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.