Circuito Entrevista

Psicóloga explica a importância das orientações vocacionais

Foto Bruna Obadowski/Circuito Mato Grosso

A psicóloga Nathyeli Cella, 24, formada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), esteve na redação do Circuito Mato Grosso, para tirar algumas dúvidas recorrentes dos jovens durante o periodo da realização dos vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).  

Pós-graduada em avaliação psicológica com abordagem centrada na pessoa, Nathyeli recebe adolescentes em conflito com as escolhas profissionais, e os ajuda no processo de decisão de qual carreira seguir após o término do ensino médio. Nem todos já têm uma vocação desde pequenos, outros ficam em dúvida entre uma ou outra profissão, já alguns não fazem a mínima ideia do que querem fazer. 

No Brasil, existem 2.619 profissões registradas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Um número exorbitante de profissões, dando margem para o adolescente sentir dificuldades no processo de escolha.

Para todos os casos, o processo de autoconhecimento é essencial. É indispensável que o adolescente consiga definir os traços da sua personalidade, suas aptidões, habilidades e gostos pessoais que definirão os caminhos a serem trilhados.

Circuito Mato Grosso: O que é o teste vocacional?

Nathyeli Cella: O trabalho é chamado de orientação vocacional ou profissional, e reorientação de carreira. A orientação vocacional é normalmente procurada pelos jovens no final do ensino médio. Este ano a procura foi grande a partir do mês de junho e julho. Eles buscam ajuda junto com os pais naquela angustia do que eu vou fazer. A partir deste ponto nós temos a primeira conversa.

CMT.: Como funcionam os testes?

Cella: São testes específicos de dinâmicas profissionais de aptidões e a partir deste momento nós vamos correlacionar com as áreas de interesse. Também é possível planejar a carreira até sua aposentadoria através dos testes. Esses testes ajudam sinalizar quem são os jovens indecisos, porque eu posso enxergar o que incomoda e desestabiliza o adolescente no processo de escolha. Desse modo começamos empoderar esse jovem ao dar o poder de escolha.

CMT.: Por que procurar ajuda?

Cella: Muitas vezes nós relutamos em procurar ajuda uma escuta especializada, mas isso faz muita diferença principalmente para quem tem muita dúvida. A dica é que converse com seus pais é preciso às vezes ajuda no processo. Mas, uma busca especializada promove uma escolha mais assertiva.

CMT.: Como funcionam os primeiros contatos com os pais e os jovens?

Cella: A primeira sessão eu tenho uma conversa com os pais para saber o que eles esperam do jovem e a expectativa dos jovens em relação aos pais. A partir desta conversa nós montamos o teste vocacional que é dividido em seis sessões, que são distribuídos, na primeira metade em testes de orientação aonde eles tomam parte do que gostam e de suas afinidades, e convido-os a refletir sobre o que eles têm de interesses, os que os deixam felizes. Na outra semana eu trago a devolutiva e conversamos sobre a sua semana, quais foram às atividades dele, se buscou saber sobre a profissão.

CMT.: O que é conversado com o jovem?

Cella: Eu e o adolescente conversamos muito sobre o que ele espera. Às vezes eles pesam: “Eu espero passar no vestibular independente do que for”. Meu papel é perguntar a partir dessa afirmativa: isso irá deixa-lo feliz? Refletirá de que maneira no seu futuro? Como você se imagina daqui há 10 anos? E nesse momento ele toma consciência das suas ações, é doloroso, mas ele consegue ver que não é apenas o resultado final, a remuneração que é o mais importante, mas sim todo o processo de escolha que implica em dificuldades e facilidades.

CMT.: O que acontece com mais frequência?

Cella: Os jovens buscam a orientação profissional, mas muitas vezes eles nem conhecem as profissões, então eu sugiro que busque profissionais, às vezes eu até indico alguns, e falo para tirarem suas dúvidas sobre remuneração, como é realizado o trabalho, aonde ele fez graduação e se ementa do curso o agrada, porque cada faculdade tem sua linha de raciocínio.

CMT.: O jovem está em dúvida ainda, o que fazer?

Cella: Busque conhecimento, conversar com profissionais ou uma pessoa que você admira e a partir desse ponto buscar uma ajuda, se colocar em movimento para saber o que esta o angustiando, e o que lhe interessa.

CMT.: Como lidar com a expectativa dos pais?

Cella: Os pais esperam muitas vezes que os jovens sigam um acarreia semelhante à dele, e com isso eles e os jovens lidam com essa angustia. Costumo me direcionar para os pais e dizer que o seu filho precisa de apoio e acolhimento nesse momento.

CMT.: E se a resposta do teste for negativa para os pais? Como reagir?

Cella: Existe um trabalho com os pais também, porque eles precisam estar conscientes que seus filhos podem escolher carreiras diferentes, mas que ele irá ser feliz com aquela escolha. O apoio deles faz toda a diferença, é perceptível, e gera um feedback positivo no jovem. Em alguns casos eu encaminho os pais para terapia se a expectativa é muito grande e não é correspondida no teste. Se eles não conseguem se ouvir e ouvir o jovem é preciso trabalhar isso.

CMT.: O que acha sobre os testes vocacionais da internet?

Cella: Alguns testes são muitos genéricos segundo os jovens. É um recurso não deixa de ser, mas geralmente eles são muitos amplos e acabam não solucionando o problema, que é o porquê o jovem quer essa profissão.

CMT.: É necessário apoio psicológico nas escolas?

Cella: Mais do que nunca os profissionais precisam estar nas escolas para atentar as demandas dos jovens. Caso os quadros sejam complexos, a alternativa é encaminhá-los para o consultório. Essa base na escola ajuda muito na tomada de decisão.

CMT.: E a reorientação de carreira como funciona?

Cella: Acontece quando o jovem escolheu a profissional já esta na faculdade ou quando já é formado e quer mudar de área. Nada impede que essa escolha lá na frente mude depois de formado a pessoa se veja com vontade de saber sobre outra profissão ou com vontade de mudar de carreira. Às vezes a pessoa conhece uma profissão que a deixa mais feliz, mais confiante. Nós trabalhamos com escolhas diárias na promoção do bem estar não de uma forma engessada.

CMT.: E quando o profissional decide mudar a carreira como é?

Cella: A pessoa chega bastante angustiada. A tomada da decisão de buscar ajuda já é um passo, ela já sabe que a profissão não comtempla mais o que espera na sua vida. A chegada ao consultório é uma mudança, então eu converso sobre as coisas que já lhe interessam para ajudar na reorientação. É normal ao longo da vida querer mudar, nós mudamos mesmo de opinião e escolhas.

Noelisa Andreola

About Author