Os manifestantes começaram a depredar estabelecimentos comerciais na Rua Barão de Itapetininga, na região do Theatro Municipal, por volta das 20h. A primeiro loja a ser atacada foi um McDonald's. Os policiais fizeram uma barreira para tentar proteger o restaurante e os manifestantes começaram a correr e destruir agências bancárias pelo caminho. Somente na Rua 7 de Abril, a reportagem presenciou o ataque a três agências. Os manifestantes colocaram fogo em terminais de atendimento dentro das agências, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco. Houve início de incêndio e participação dos black blocs, que correram em direção aos PMs e lançaram até coquetel molotov.
A PM fez um cordão de isolamento para tentar impedir que os manifestantes fossem para a Praça da República, onde acontecia o principal show da comemoração dos 460 anos da cidade de São Paulo. O clima era tenso na região. Manifestantes jogaram latas e garrafas contra o público e ao menos duas pessoas ficaram feridas. O tumulto ocorreu no intervalo entre os shows de Paulinho da Viola e Opalas. Dezenas de pessoas que tentavam fugir da confusão foram espremidas contra as grades que separavam o público da área adjacente ao palco, reservada aos artistas e à imprensa.
Garrafas e outros objetos foram novamente arremessados contra o palco. Pelo menos duas pessoas se cortaram nos pés e tiveram de ser socorridas pelos Bombeiros. No meio da confusão, um jovem – mais tarde identificado pela polícia como um black bloc – foi encurralado contra a grade e agredido violentamente com socos e pontapés por um grupo de homens. A cena toda foi presenciada pela reportagem do Estado. Um dos agressores chegou a bater no jovem várias vezes com uma muleta, com tanta força, que ela se quebrou sobre ele.
Esse e um outro jovem só conseguiram escapar da multidão graças ao trabalho dos seguranças do evento, que os puxaram para dentro da área restrita e usaram jatos de água de um extintor para afastar os agressores. "Tiramos esses dois de lá, senão eles iam morrer", disse um dos seguranças.
Ambos foram levados para um canto atrás do palco e mantidos lá até a chegada da polícia, que apareceu 15 minutos depois. "Só corri como todo mundo correu no meio da confusão. Os caras me encurralaram e comecei a apanhar", disse ao Estado um dos jovens detidos. Na sua mochila, os policiais encontraram um estilingue e quatro saco de bolinhas de gude, além de um par de luvas, um capacete preto e máscaras.
"Eles confirmaram que fazem parte dos black blocs", disse o capitão Luis Humberto Caparroz, da Polícia Militar, que participava do policiamento na região. Segundo ele, a PM evitou que um terceiro integrante do grupo fosse linchado no meio da multidão. Todos foram levados para o pronto-socorro da Santa Casa para depois serem encaminhados a uma delegacia.
Algumas pessoas reclamaram da falta de policiamento no momento do tumulto. "Os PMs vieram aqui, pegaram os lanches e foram embora", disse uma pessoa ligada à organização do evento.
"Só porque as pessoas não veem a polícia não quer dizer que ela não esteja presente. A gente fica no entorno, não no meio do evento", disse o capitão Caparroz. Segundo ele, havia 600 policiais só na região da Praça da República. "Tanto que os black blocs não entraram na praça", disse. Naquele momento, centenas de vândalos circulavam pelo centro da cidade, praticando depredações. "Os poucos que entraram foram atacados pela multidão. Se a PM não estivesse presente, isso aqui tinha virado uma praça de guerra. Evitamos uma carnificina", afirmou o capitão.
Uma parte do público foi embora após o tumulto, mas a maior parte permaneceu na praça para assistir ao show do grupo Os Opalas, que começou depois das 21 horas. Antes dele, Paulinho da Viola fez um show de uma hora e quinze minutos para cerca de 12 mil pessoas, segundo estimativa dos organizadores do evento. Sem qualquer tumulto.
"Ninguém vai estragar a nossa festa. Se esses caras (black blocs) voltarem aqui, vamos dar porrada neles", disse ao microfone o presidente da Associação de Promotores de Eventos do Estado de São Paulo (Apeesp), William Santiago, arrancando aplausos do público. "Esses caras são nazistas também; eles são contra negros, nordestinos, um monte de gente. Não dá para ficar omisso a isso", disse ele depois ao Estado.
Atos de vandalismo também ocorreram nas imediações da Praça Roosevelt. Um Fusca com pessoas dentro pegou fogo depois de passar sobre um colchão em chamas na Rua Xavier de Toledo. Alguns manifestantes subiram a Rua Augusta e, encurralados pela polícia, entraram em dois hotéis: Linson e Bristol. A tropa de choque foi ao local com um ônibus para prendê-los.
Com os black blocs na dianteira, a manifestação desceu a Avenida Brigadeiro Luís Antônio gritando palavras de ordem contra a Copa do Mundo. Assustados, vários comerciantes fecharam as portas quando a multidão se aproximava. A Polícia Militar estima que 1,5 mil manifestantes caminhavam rumo à Praça da Sé. Houve um início de empurra-empurra entre policiais e manifestantes, que se dissipou rapidamente. Por volta das 17h30, cerca de mil pessoas ocuparam a Avenida Paulista e fecharam os dois sentidos da via. Segundo a PM, efetivo de dois mil homens estavam na área de prontidão.
Pouco antes das 17 horas, jovens leram um manifesto aos policiais no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo), onde estavam concentrados desde a madrugada de sexta-feira. Em troca, a PM não enfrentou resistência para revistar barracas armadas pelos manifestantes. O ato foi organizado por vários grupos que participaram dos protestos de junho do ano passado, como black blocs, Assembleia Nacional de Estudantes Livre, Periferia Ativa, entre outros. No evento "Não vai ter Copa", 23 mil pessoas confirmaram presença pelo Facebook.
Estadão