Os planos de cerca de 150 países para reduzir as emissões de gases do efeito estufa vão desacelerar a mudança climática, mas eles ainda precisam fazer mais para limitar a elevação das temperaturas globias a no máximo 2°C, disse a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira (30).
Cientistas alertam que o aquecimento precisa ficar abaixo desse nível no fim do século (em relação à temperaturas anteriores a 1850) para evitar os piores efeitos da mudança climática, como inundações, secas e elevação do nível do mar. Os planos citados pela ONU serão a base de um acordo global para combater a mudança climática a ser assinado em dezembro em Paris.
Essas stratégias nacionais seriam capazes de restringir o aumento das emissões dos 49 GtCO2/ano (bilhões de toneladas de CO2 por ano) de 2010 para o equivalente a 56,7 GtCO2/ano até 2030, quatro bilhões a menos do projetado caso nenhuma medida seja tomada, afirma um novo relatório.
"É um passo muito bom, mas não é suficiente", afirmou Christiana Figueres, chefe da UNFCCC, a convenção do clima da ONU, durante a apresentação do documento em Bonn, na Alemanha.
As promessas dos países, conhecidas como INDC (Intenções de Contribuição Nacionalmente Determinadas) serão os blocos de construção para um acordo na cúpula do clima de Paris, de 30 de novembro a 11 de dezembro. O tratado vai guiar o combate ao aquecimento global a partir de 2020.
Sem projeção oficial
Figueres não afirmou qual temperatura provável o planeta terá em 2100, porque a maioria dos INDCs se estendem só até2030, mas disse que análises independentes mostram que as promessas só limitariam o aumento de temperatura a 2,7°C, no mellhor cenário. Segundo o IPCC (painel de cientistas do clima da ONU), isso já é um progresso, pois um cenário de emissões desenfreadas poderia levar o planeta a até mais 5°C.
Quase 200 governos concordaram em 2010 a limitar a 2,0°C graus acima dos níveis pré-industriais, implicando que Paris terá de estabelecer caminhos para aumentar as ações nos anos seguintes. O aumento até agora já foi de cerca de 0,9°C.
Os negociadores terão de decidir em Paris como os INDCs serão incorporados pelo novo acordo e sobre como rever as promessas periodicamente, afirmou Figueres.
"Muitos países têm sido saudavelmente conservadores com relação ao que apresentaram", disse, lembrando que muitos países, particularmente a China, provavelmente atingirão redução de emissões maior do que as metas que propuseram.
Sinal para o mercado
O relatório desta sexta-feira é a tentativa mais oficial de tentar somar o impacto dos INDCs e foi bem recebido por grupos de investimento financeiro.
"Planos nacionais fortes dão o tipo de sinal vital de mercado requerido por formuladores de políticas quando os investidores querem reduzir os riscos de ativos encalhados no setor de combustíveis fósseis e fazer enormes investimentos em tecnologias de baixo carbono", afirmou Stephanie Pfeifer, chefe executiva do IIGCC (Grupo Internacional de Investidores para Mudança Climática).
Grupos ambientalistas afirmam que o acordo de Paris precisa ser o ponto de partida para cortes de emissões mais profundos.
"Insistimos que o acordo de Paris estabeleça um mecanismo para fazer países diminuírem mais suas emissões, sem atraso", disse Martin Kaiser, chefe de política do clima internacional do Greenpeace. "O mundo precisa que Paris emita um sinal claro e inspirador de que o jogo está mudando, que todos os países estão levando a ciência do clima a sérdio, abraçando todo o potencia da enerigia limpa renovável e descontinuando os combustíveis fósseis."
Intenções nacionais
A maior parte dos quase 200 países signatários da Convenção do Clima já submeteu à ONU suas propostas de redução de emissões, incluindo grandes emissores como EUA, China, Índia, Brasil e União Europeia.
Uma projeção feita sob encomenda da ONU sugere que, para que os 2°C sejam evitados, as emissões globais precisam começar a cair a partir de 2020. A soma das intenções dos países declaradas até agora, porém, indica um prolongamento do período de aumento de emissões.
Fonte: G1