Cidades

Projeto proporciona ciclismo para deficientes visuais em Cuiabá

Inclusão através do ciclismo adaptado, esse é o objetivo do projeto “Pedal Além da Visão”, uma iniciativa que proporciona aos deficientes visuais a oportunidade de pedalar, com guias voluntários, pela região metropolitana de Cuiabá. Uma ação totalmente gratuita e que permite que qualquer pessoa possa participar.

Tiago Lima perdeu a visão aos 11 anos de idade e se tornou um atleta de alto rendimento, destaque nacional no goalball. Com o avanço da pandemia da Covid-19 e o isolamento social, ele sentiu a vontade de continuar praticando algum esporte e comprou sua primeira bicicleta adaptada, sem qualquer intenção de iniciar um projeto.

A bicicleta dupla permitiu que Tiago e o professor de Educação Física, Jonas Juvenal da Silva, pedalassem por regiões de Cuiabá e chamasse a atenção de outros colegas deficientes visuais para a novidade. Cada vez mais pessoas quiseram experimentar a nova experiência e foi necessário adquirir novas bicicletas adaptadas, entre rifas e festivais, hoje eles possuem cerca de nove bikes para dividir entre aproximadamente 40 pessoas com deficiência e 30 guias voluntários.

“Tem pessoas que nunca conheceram uma pessoa com deficiência visual, mas que hoje pedalam juntas. As bicicletas são sincronizadas, então ela serve, além de pedalar, para passar por lugares legais, como parques e outros pontos turísticos, lugares que eu já tinha ido de carro, por exemplo, e os guias vão destacando os ponto legais, que eles acham ser interessante para nós. Então é o momento de você conversar e interagir”, explica Tiago Lima.

O atleta explica que muitas pessoas com deficiência visual vivem em isolamento há muitos anos e ao conhecerem o projeto, que funciona há um ano, elas tem se permitido a aprender a andar de bicicleta e a conhecer novas pessoas.

“A pessoa com deficiência visual não precisa de piedade, ela precisa de oportunidade, seja no mercado de trabalho, na vida escolar, acadêmica, enfim, para que ela consiga socializar na sociedade e o esporte tem sido uma ferramenta de inclusão de muitas pessoas com deficiência visual, ele tem uma qualidade de vida emocional e física”, pontua Lima.

Clodoaldo Assis da Silva tem 47 anos, era do exército, mas teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) aos 22 anos de idade e, após um rompimento dos nervos ópticos, ele perdeu 95% da visão.

Após o problema de saúde, sua vida mudou e ele ficou muitos anos em depressão, até que conheceu o trabalho do Instituto dos Cegos do Estado de Mato Grosso e descobriu uma família, além de diversas oportunidades para deficientes visuais.

“Eu fui lá interagir com o pessoal e realmente foi uma família, eu me senti acolhido. Eu comecei a participar e sou associado há uns 15 anos, eu conheci muitas pessoas legais, pessoas amigas”, conta Clodoaldo.

Uma das pessoas que ele conheceu no Instituto foi Tiago Lima, que também é professor no local, e, através de uma colega que já estava participando do “Pedal Além da Visão”, ele decidiu entrar no projeto. Clodoaldo afirma que se encontrou na iniciativa.

“Além da visão, ele mudou para mim tanto fisicamente, como psicologicamente, hoje eu sou outra pessoa. A gente vai interagido, trocando ideias, conversando, esse projeto não proporciona só o condicionamento físico, mas a interação e para mim está sendo fantástico, não tenho nem palavras, eu sempre falo que a minha palavra é gratidão. Eu me sinto muito bem. Eu pensava que eu nunca iria voltar a pedalar novamente, mas Deus nos proporcionou essa turma e hoje eu pedalo com alegria”, declara Clodoaldo.

Os guias

Além da vontade de pedalar que Tiago teve durante a pandemia, duas pessoas foram essenciais para que a experiência fosse possível e o projeto surgisse. Jonas Juvenal da Silva é professor de educação física e Zayre Lavor, é professora no Instituto dos Cegos de Mato Grosso.

Com o Tiago iniciando seu processo de andar de bicicleta e outras pessoas com deficiência visual tomando conhecimento sobre a novidade e desejando participar também, os professores decidiram leva-los de carro para os locais em que os passeios poderiam acontecer, como parques, e revezar as voltas.

O projeto começou a ganhar visibilidade, eles adquiriram mais bicicletas, a partir da venda de rifas, festivais de pizza e doações, e receberam, também, novos guias voluntários.

Atualmente eles pedalam toda terça e quinta-feira, mas devido a Covid-19 os guias e guiados formaram uma escala de revezamento para evitar aglomerações.

“Hoje, no projeto, a gente não limita, não é apenas para pessoas com deficiência, tem pessoas que pedalam conosco e que nunca haviam pedalado antes, pessoas sem deficiência”, comenta Zayre Lavor.

Jonas Silva ressalta que além do isolamento social determinado devido a pandemia da Covid-19, muitos deficientes vivem em isolamento crônico devido a falta de políticas de inclusão e acessibilidade à pessoa com deficiência.

“Estamos conseguindo proporcionar a essas pessoas não só uma experiencia nova, mais saúde e qualidade de vida, é uma possibilidade de interação com outras pessoas, que é muito importante, muitos casos de depressão estão sendo amenizados. A gente quer fazer o maior número possível de pessoas se conhecerem e participarem do projeto”, acrescenta Jonas.

Os guias destacam que procuram por apoio de pessoas que queiram contribuir, seja como voluntário ou até mesmo a doar ou manter as bicicletas, doação de EPI (Equipamento de Proteção Individual), roupas ou acessórios como luvas e capacetes.

O projeto é totalmente gratuito e qualquer pessoa pode participar. Caso tenha interesse em conhecer mais basta acessar o Instagram do “Pedal Além da Visão” ou entrar em contato com a Zayre (65) 9 9915-5495 e o Jonas (65) 99 252-4260.

Redação

About Author

Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

Você também pode se interessar

Cidades

Fifa confirma e Valcke não vem ao Brasil no dia 12

 Na visita, Valcke iria a três estádios da Copa: Arena Pernambuco, na segunda-feira, Estádio Nacional Mané Garrincha, na terça, e
Cidades

Brasileiros usam 15 bi de sacolas plásticas por ano

Dar uma destinação adequada a essas sacolas e incentivar o uso das chamadas ecobags tem sido prioridade em muitos países.