O aumento do número de disciplinas nas escolas verificado nos últimos tempos tem levando o aluno a perda dos sentidos e a focar apenas na necessidade de ser aprovado no vestibular. Esse novo modelo, chamado de “fragmentação” do ensino, foi tema de palestra no Colégio Notre Dame de Lourdes proferida pelo professor Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
“A fragmentação do conhecimento tem sido a regra. A multiplicidade de disciplinas explode ao final do ensino médio, ocupando as mentes adolescentes. Plenas de vida em sentido pleno, elas buscam significado para as ações que projetam, mas ele não se revela nos cacos de um vaso despedaçado cuja integridade não se conheceu”, analisa o professor, lamentando que os valores fundamentais para a estruturação da vida tenham perdido o sentido.
Essa multiplicação das disciplinas, segundo Nilson Machado, conduz a uma fragmentação nos conteúdos já no ensino médio e posteriormente nas universidades.
“Há dois tipos de fragmentação disciplinar. A primeira decorre de um esgarçamento nas relações entre os temas, em razão de certo corporativismo disciplinar. Trata-se de um fenômeno horizontal e o discurso da interdisciplinaridade, ou do estreitamento de tais relações, visa a sua inibição”, conta o professor.
Outro tipo de fragmentação que para ele merece atenção, é quando em sintonia com a especialização crescente, intradisciplinas têm sido criadas no interior de disciplinas, numa espécie de fragmentação vertical.
“Antes o estudante fazia vestibular para engenharia civil. Hoje há uma dezena de cursos de engenharias, e isso se chama fragmentação”, observa o professor, que durante a palestra explicou aos professores do Notre Dame como preparar o aluno para escolher melhor qual caminho a seguir, já que essa fragmentação acaba deixando o jovem em dúvida e confuso.
Curriculum – Nílson José Machado – Leciona na Universidade de São Paulo desde 1972, inicialmente no Instituto de Matemática e Estatística, e posteriormente, a partir de 1984, na Faculdade de Educação. É graduado em Matemática pela Universidade de São Paulo, mestre em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1981), doutor em Filosofia da Educação pela Universidade de São Paulo (1989) e Livre-Docente na área de Epistemologia e Didática, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (1994).
No biênio 1993-1994, foi Professor Visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, no Programa Educação para a Cidadania. Atualmente é professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, tendo chefiado o Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada ao longo de quatro mandatos.
Suas principais publicações estão nas interfaces entre a Matemática e a Linguagem, entre a Epistemologia e a Didática, e entre a Ética e a Educação. Publicou ainda cerca de duas dezenas de livros para crianças a partir de 5 anos. Publica semanalmente microensaios em seu site pessoal.
Assessoria