“Sem dúvida, o único causador dessas mortes é o fato de essas pessoas serem retiradas do seu ambiente natural, onde tinham todo o conforto, criavam seus filhos, e passaram a ser indigentes sociais”, analisa Prado, reclamando que a única presença do governo federal na área foi na segunda desintrusão. “Tirei mortos, debaixo da corda, dois companheiros, homens honrados, honestos. SE suicidaram por falta de opção de vida causada por um governo que veio da trincheira”.
O presidente da Aprossum diz ainda que até acreditava que essas mortes fossem um homicídio culposo. Mas o descaso do governo é tamanho que passa a ser doloso. É desespero, incerteza, insegurança. Ainda segundo Prado, os homens que se separam por não terem condições de manter os filhos e as esposas estão caindo no alcoolismo, nas drogas e na prostituição.
“Quem está ganhando com isto? Em que lugar do mundo o Ministério Público Federal vai ser contra quem produz, transformar o sujeito produtivo em indigente?”, questiona o líder, que já chegou a fazer uma proposta às autoridades para solucionar a crise.
Prado relata que os indígenas que moram na reserva, em torno de 14 mil segundo a Funai, possuem 1 milhão e 430 mil hectares, o que daria em média 100 hectares por xavante. Se um brasileiro desses resolvesse plantar soja, colheria 6 mil sacas. Seis mil sacas a 50 reais por saca daria 300 mil reais por ano para cada xavante. Mas eles não podem plantar e não podem arrendar. Precisamos mudar isso no texto constitucional.
Ele também lembra a situação que vem ocorrendo no município de Juína, onde os Enanewe-Nawe possuem 600 mil hectares de terra e a União quer entregar a eles mais 600 mil hectares. “O que os indígenas estão precisando é de assistência à saúde e de estradas. Eles estão sofrendo infestação de baratas e pedem ajuda dos produtores rurais porque pedir ajuda para a Funai é uma besteira. A Funai só quer causar conflitos.
A história de Ivo
O ex-agricultor Ivo Mateus de Souza, de 62 anos, suicidou-se em abril passado no município de Novo Santo Antônio. Ivo foi um dos produtores rurais expulsos pela Funai da área da antiga Fazenda Suiá-Missú. Foi o oitavo agricultor expulso pela Funai a cometer suicídio.
O agricultor, que vinha apresentando um quadro de depressão depois da expulsão da Suiá-Missú, não resistiu ao término do relacionamento com sua companheira. Em entrevista ao site Notícias Agrícolas, Sebastião Prado informou que, além de perder as terras, Ivo também levou calote ao tentar vender às pressas o gado que criava na área demarcada pela Funai.
O ex-agricultor deixou uma carta na qual afirma que nunca se conformou com a expulsão de suas terras e com a perda do patrimônio. O agricultor informou na carta que não conseguiria enfrentar a vida com todas as perdas.